Thursday, May 31, 2007

as palavras

Durante o dia lembro-me de palavras: uma, duas no máximo, que justapostas, sobrepostas ou separadas me sugerem ideias, para este espaço. Muitas das vezes ao longo do dia evaporam-se, como hoje. Tinha ideia de escrever sobre...
As palavras oprimem-me, às vezes. As minhas palavras oprimem-me. Na minha boca tornam-se fantasmas que crescem, repetem-se sem eu querer, são estribilhos ou cordas que me apertam. No meio de um discurso, saem-me soltas, sem que ninguém as oiça - apenas eu- para me fixarem num tempo passado que me faz esquecer, plissar, atrapalhar as ideias que pressigo na ânsia de me expressar. Por isso, também gosto de ler e gosto de escrever. Quando leio, as palavras dos outros coincidem comigo, aproximam-se e afastam-se, leio-me e leio outros. Quando escrevo uso as palavras dos outros, aproximo-as e afasto-as, releio, corrijo, escrevo, aproximo e afasto. Às vezes as minhas palavras, levam-me mais longe do que o meu pensamento e soltam-se em formas inconformáveis pelo papel. Mas não as ouço e não me ouço. A falar as palavras são meios, a escrever as palavras, para mim, são fins.

Tuesday, May 29, 2007

Conta-nos...

... lá a tua experiência com o sistema de saúde inglês!

Monday, May 28, 2007

Ó pá...

... santa paciência! calor vá!

Sunday, May 27, 2007

Jazz com Brancas e Domingos de manhã.

Ora, é Domingo. O meu penúltimo Domingo aqui por minha conta. Levantei-me às 8.30 e preparei o pequeno almoço, enquanto o Drew me falava na cozinha. Uma chávena de café com leite, um fatia de pão torrado com doce de framboesa e uma maçã. Voltei para o quarto, abri o jornal e pus-me a ouvir o jazz com brancas. A internet é uma coisa boa e o site da rtp também. O meu melhor amigo daqui de casa foi embora ontem. Despedimo-nos bem. Talvez um dia lhe volte a pôr os olhos em cima. Gosto da vida assim. Encontros e partidas. Gosto, sim.

Stanley Jordan

Tive sorte. Tivemos sorte. Nunca vi nada assim. Nunca vi tocar guitarra assim. Tento reproduzir o gesto para perceber como aquelas mãos se moviam para tirar os sons. Como é possivel tirar acordes com as duas mãos? Não dá para entender, apenas para ver e ouvir. Foi isso que fizemos. Só me vêm à cabeça adjectivos: espantoso, impressionante, surpreendente, todos superlativos. Só tenho pena que os temas base não sejam muito do meu agrado, Beatles, Jonh Lenon, Simon and Garfunkle... mas quase se esqueciam pela transmutação efectuada. Stanley Jordan: really amazing.
No Festival Internacional de Guitarra de Santo Tirso, no autidório da Artave, nas Caldas da Saúde em Areias. O festival vai continuar, não percebo bem como depois deste concerto.

Saturday, May 26, 2007

SMS

Andei intrigada com a história de um SMS que recebi, ou melhor, que recebeu quem usa o meu número de telefone antigo. Nunca chegaria lá. A mensagem era a seguinte: "Obrigada pelo texto no catálogo do Alberto". O texto eu sabia qual era. Talvez o meu melhor texto e o que mais gostei de construir. A hora a que chegou a mensagem 3.58h, e a referência familiar ao Alberto, assim só, confundiu-me. Construi histórias que batiam em tudo certo. Histórias que descartei depois de confirmado o engano. Sem hipóteses. Restava-me apenas telefonar para o número irreconhecível. Uma voz de homem! Aventei? N.? T.? Não, não estava certo. Perguntei: Quem és? O nome soou-me claro, evidente, antigo e presente. Nunca imaginado a partir das minhas actuais relações diárias. Mas era. Foi bom. Saber que em qualquer lado, há distância de anos, ainda que a poucos quilómetros, nos encontremos pelos mesmos sentimentos. Afinal, alguns de nós continuam vivos e com uma luz acesa, que nos guia no entendimento da arte da vida.

Friday, May 25, 2007

a espuma dos dias

Parecemos perdidas. Mas não estamos, pelo menos deste lado, no continente. A parte da Ilha aproveita, pelo menos assim o espero. Faltam poucos dias para que do lado de cá, continuemos, doutro modo, a dar conteúdo a este espaço. São muitas as ideias que durante o dia ( e a noite) me passam pela cabeça e sugerem comentários para este espaço. Os acontecimentos sucedem-se e as ideias submergem em vagas de actividade. Como no mar, voltarão à superfície, à luz do sol, envoltas na espuma do dia, para ficarem presas neste areal. Desde a música, actualmente muito actual ( Arcade Fire têm-me acompanhado nas viagens e nos intervalos delas, momentos de espera no serviço diário de "transportes colectivos"), até às leituras que continuam intensas e extensas, para além de maravilhosas conversas sobre "as hormonas na adolescência" povoam os meus dias. Ah! esquecia-me que na última semana convivi de perto com Valentim Loureiro, em pessoa, duas vezes! Melhor, muito melhor, que os bonecos do Gato Fedorento. Invejam-me? Não vale a pena!

Tuesday, May 22, 2007

Coincidências



pelos meus olhos.

Sunday, May 20, 2007

o limbo

Reflicto a partir da conversa que ouvi em “Um certo olhar”, sobre o limbo. Diz a igreja que o limbo acabou, não existe, ou nunca existiu. Mas como pode acabar um lugar que durante séculos “existiu”? Apaga-se da nossa história? Mas se ele também a moldou!

Ainda, como referia Vicente Jorge Silva, que não é católico, o limbo é um lugar poético, de suspensão. O limbo existe como lugar poético, um não-lugar suspenso no tempo e no espaço. Inês Pedrosa que não gosta da palavra limbo inventa em “Fazes-me Falta” o noante. Um lugar onde a personagem depois de morta, se mantém suspensa para “arrumar” alguns sentimentos humanos.

Mesmo que a igreja decrete que o limbo acabou, à boa maneira autocrática e dogmática, o limbo não se apaga da história e esse noante não deixará de povoar o nosso imaginário… para desespero da igreja, que por mais pecados e mandamentos que tenha, não consegue penetrar no nosso sonho.

Qualquer dia dir-nos-ão que não há céu nem inferno, que não há paraíso. Mas será que nós não o sabemos há muito? A fé não é contrária ao dogma?

Six Feet Under, Nobody Sleeps (temporada 3; episódio 4)

Escrevo-vos de um silêncio profundo. Há coisas que me tocam demais. Que me ensinam estupidamente. São sempre livros, filmes ou séries ou músicas. Ando a rever os sete palmos de terra de fio a pavio, porque tentei sempre seguir mas nunca consegui vê-los todos. E há o espisódio de hoje, que é denso e fulminante, que me toca nos pontos todos, que me ensina a cada frase. Há coisas tão bonitas neste mundo. Há coisas bonitas para se fazer, talvez apenas não tenha encontrado ainda a minha razão para cortar uma orelha.

E se quiserem podem vê-los todos, como eu, online, aqui.

Saturday, May 19, 2007

preciso do livro

O conta-mina merece mais. Continua a ser aquele espaço de descontracção de que preciso. Independentemente de quem lê e de como lê. Perco rastos. Não procuro mais nada para além deste espaço. Depois de uma semana alucinante que eu não soube moldar, como é hábito. Ainda bem que hoje é sexta-feira. Comi mal, dormi mal, não fiz exercício físico, trabalhei de mais e o tempo "entre" foi inútil. Semana de alta voltagem. Preciso de ligar o fio de terra para descarregar a energia. Assim vai ser. A lista de tarefas do fim de semana é parca para ser maior em descontracção. Falta-me um livro que virá - já está escolhido: "A sombra do vento" de Carlos Ruiz Zafon.

Thursday, May 17, 2007

Chove (2)

Chove em Manchester. Já chove há quase duas semanas. Desde Segunda chove de uma forma mais metafórica. Mas chove e fico presa em casa numa vaga muito grande de inutilidade. Vejo episódios seguidos dos Setes Palmos de Terra. Não tenho grandes planos para amnhã e está-me a parecer que este próximo mês será uma seca. Chove.

Chove

Parece que as duas partes deste blog estão mal dispostas. Tão mal dispostas que até nem lhes apetece falar uma com a outra. A parte de cá de excesso de complicações. Ao fim do dia o tempo espraiou-se e perdeu-se nas vagas de inactividade aos tropeções. A parte de lá... chove em Manchester. Também chove em Vermoim. Uma copiosa chuva quente, cheia de sol e calor que promete. Mas chove muito em Vermoim.

Sudden Sun


Tuesday, May 15, 2007

o nosso tempo

No tempo em que eu tinha a idade do Pedro, não quero dizer no meu tempo, porque o meu tempo é este, a educação de um jovem adolescente, a minha educação, baseava-se na dualidade corpo e espírito ( alma). O corpo era um veículo para um espírito puro. O corpo não podia sentir, não podia desejar, porque o prazer e o desejo estavam reservados para um local físico e temporal exacto, balizado por um contrato para a vida – o casamento. Os meus olhos, de rapariga tinham que irradiar a pureza capaz de aplacar o desejo dos rapazes, porque a eles sempre era dado demonstrarem desejo ainda que não o devessem consumar, pelo menos connosco. Nós, as raparigas devíamos, ser amigas, boas conselheiras, poços de virtude. Por isso sentia a minha consciência pesada, sentia-me mal, quando, com a idade dele, nos bailes de garagem, às escuras e embalada pelos famosos slows sentia o corpo ceder ao calor de outro corpo.

Hoje, quando ele me fala tão naturalmente do corpo (até ele se estranha como é que fala disso com a mãe) o mundo é outro. Ele dá-me a volta. Eu digo: Tem cuidado. Ele responde: Não te preocupes, já sabes que eu tenho bom gosto. Eu digo: Não é isso que interessa, tanto me faz que seja bonita ou feia. Ele responde desconcertando-me em forma de pergunta: E se eu namorasse com uma “burra”?

Concluo que continuo a separar o corpo de espírito.

Monday, May 14, 2007

liriodendro

Desculpem os botânicos mas não me apetece ir procurar o nome científico. Para mim é assim liriodendro tulipeiro. Está em flor. Esta flor, recolhi-a em acto de corte, cultural, porque contrário à natureza. Trouxe-a para a sala e da sala para este espaço. Muitos de nós passam todos os dias por uma árvore com flores como esta, antes mesmo de entrar no local de trabalho. Essa também está em flor.

Sunday, May 13, 2007

mais suspiros

Cá estão eles, os suspiros. Mais suspiros ao domingo de manhã - um ritual. Os domingos de manhã são dados a isso, aos rituais. Substituindo a missa por suspiros, música, contemplação, tarefas simples...

Thursday, May 10, 2007

O jogador... (suspiro)


que nos acompanhou por Manchester!

Bolha

Hoje aquela bolha que me é dada, ou que eu conquisto, de eternidade presente, sobreveio. Continuo nela. No vácuo que me transporta para o outro mundo. Aquele que não me é dado ver a não ser em momentos, por momentos. Eles porém fazem-me crer na eternidade. Uma eternidade criada sem fé e sem tempo. Naquele tempo para além do tempo finito que nós podemos recriar com os nossos precários meios de pensamento humano. Como ainda não me foi revelado esse tal outro estado transcendental, que outros humanos vislumbram, acalmo-me e espero serenamente na minha insignificante condição de partícula universal. Dentro desta sublime bolha que partilho com alguns. Bem hajam.

Wednesday, May 09, 2007

Parabéns

Hoje são oito de Maio. A nossa amiga faz anos. A homenagem parte daqui, deste lado. No outro, lá na ilha, está ela com a outra metade do blog, que pode dar-lhe os parabéns de perto. Merece-os. Agradecemos-lhe a rebeldia, a ousadia, que nos faz felizes e vivos. Muitos dos melhores momentos da nossa vida foram partilhados com ela. Muitos parabéns e OBRIGADA.
Hoje também faz anos Keith Jarret! Magnífica coincidência.

Tuesday, May 08, 2007

Snooker e o jogador

Cheguei a casa exausta mas bem disposta. Como sempre, quando estou atrasada, tudo me atrasa mais. Esqueci-me da chave e tive que sair para pedir uma emprestada para fechar a minha sala, o gás acabou em casa e tive que ligar novamente o esquentador. Mas, por fim, já passava muito das nove horas lá nos sentamos à mesa. Telefonei à Joana, ausente deste espaço e já de férias. A "curtir" com a L. uns dias chuvosos em Manchester. Diz-me ela para ligar o Eurosport e ver um jogo de snooker. Melhor, ligar a Eurosport e ver um jogador de snooker! Ela via o jogador e a L. o jogo. Sim senhor, confesso que era mais interessante o jogador que o jogo, não porque o jogo não seja interessante, mas porque eu, que sei pouco das regras do jogo, apenas me fico pela observação da sua beleza e do contexto, neste caso o jogador.

Monday, May 07, 2007

Saturday, May 05, 2007

Ute Lemper

Fui vê-la com o Pedro. Gostei de ir, mas não gostei do concerto. Achei-o completamente anacrónico. O Pedro dizia que era para pessoas de meia idade: “Está bem para a mãe da B. (colega dele na escola)".

Explico-me:

- Não se pode ver um espectáculo de cabaret na Casa da Música. Por mais que Ute Lemper tente reproduzir o ambiente, é tudo teatro. Não há envolvimento, soa a falso.

- Não gostei do conteúdo: uma salgalhada – Kurt Weil, Edit Piaf, Jacques Brel, Leo Ferré, pop de Berlim dos anos 80, Lili Marleen,…tudo cosido por uns apartes, ditos por ela num inglês mal dito, à alemã ( e o francês ainda era pior);

- Os músicos que acompanhavam eram “quadrados” e completamente fora de contexto no que se refere ao aspecto físico e comportamento: um de sapatos de atacador e fato, outro de tshirt, outro parecia um gorila musculado, o outro, um músico de flamengo.

Ela, já sabemos que canta bem, profissionalmente, mas sem alma. Tem uns braços espantosos, longos e expressivos. Soube-me a artista de circo em fim de carreira.

Tive saudades da Laurie Andersen – uma verdadeira senhora, bicho de palco e sempre a surpreender-nos.

No fim o Pedro quase me fez passar vergonhas porque dizia alto "Margarida Rebelo Pinto, Margarida Rebelo Pinto..."

Ute Lemper foi-me essencial para perceber que não gosto de tudo o que me dão, ainda que venha com o selo de qualidade.

Thursday, May 03, 2007

Digam-me como não gostar de Manchester...


... quando as ruas estão cheias disto?

Wednesday, May 02, 2007

Dia do trabalhador

Ainda hoje. O primeiro de Maio foi, para mim, um verdadeiro dia do trabalhador. Trabalhei o dia inteiro. Doem-me as costas de estar aqui sentada a escrever. Mas saiu-me bem! Como acho que ninguèm vai ler o que escrevi (esta é a condição do nosso sistema de planeamento - escrever tudo, para ninguém ler!) ao menos tenho este espaço para me auto-elogiar. Admirei-me com a minha capacidade de trabalho, de síntese e de concretização. Conformei a minha tese, quando quero sou capaz de fazer tudo. Mas fora o auto-elogio, foi para mim bom, num documento concentrar tudo o que venho pensando ao longo dos anos - um bom final para quem durante anos navegou nestas águas e agora se inícia noutros destinos, será?

Tuesday, May 01, 2007

os nomes

Quando leio não fixo a sonoridade dos nomes e por isso não consigo reproduzi-los. Fixo apenas um conjunto ordenado de símbolos que identificam um personagem. Às vezes fixo os nomes porque eles têm um significado: quando o autor dá um significado ao nome que tem a ver com a caracterização da personagem. Em Haruki Murakami é assim. Fixei Sumire, porque quer dizer violeta; fixei Canela, porque canela é exótica e cheira bem; fixei Noz-moscada pelos mesmos motivos. Mas canela e noz-moscada são nomes ficcionados na ficção da história. São nomes escolhidos pela mulher sem nome para se auto-nomear e permitir a relação. Quando estiveres de costas e eu te quiser chamar, se não tiveres um nome, como farei? Também agora, em Kafka à beira-mar, o velho, de que não me lembro o nome, sei apenas que tem um K e alguns A’s, precisa de um nome e inventa um nome para se relacionar com o gato. Quando os nossos amigos passam a ser entidades precisamos de as nomear. É pena que os nomes nos sejam oferecidos e não escolhidos em função da nossa personalidade ou será que o nome molda a nossa personalidade? Molda pelo significado ou molda pela forma, pelo som? Um nome doce, um nome breve, um nome complicado.