Thursday, September 27, 2007

Corte de Cabelo

Cortar o cabelo é uma catarse. O corte de cabelo é o acto que mais me transforma. Quando estou deprimida, quando quero um novo folgo, quando quero mudar, sentir-me leve, solta, confiante - vou cortar o cabelo. Para além de me dar imenso prazer a acção integrada do corte ( olhem que expressão tão moderna!), a lavagem, a tesoura, a secagem, a conversa ( minha ou a que ouço dos outros), quando saio sou outra ( embora me apeteça vir logo lavar novamente a cabeça para desfazer a obra de arte da profissional do corte).
Não sou a única! O efeito benéfico do corte parece colher adeptos em muitos extractos: novos, menos novos, velhos, deprimidos, eufóricos, comuns, homens, mulheres, padres ( as freiras não sei, escondem o cabelo!), carecas, de cabeleira farta, de cabeleira rala, atrevidos, discretos. Muitos.
Na próxima terça feira vou cortar o cabelo!

Sunday, September 23, 2007

Os relógios do Avô

Ouvia uma entrevista feita em 1955 a Aquilino Ribeiro por Igrejas Caeiro. Ao fundo ouvi um relógio a bater as horas e tive saudades do meu Avô.
O meu Avô tinha a paixão por relógios. No salão enorme da casa de Cimo de Vila os relógios batiam as horas ao mesmo tempo. Ele levanta-se de manhã e a primeira coisa que fazia era dar corda aos relógios e acertá-los, ao segundo, pela hora da emissora nacional. Depois da tarefa dava um pequeno balanço ao pêndulo para ele continuar a trabalhar, a marcar o tempo. Também tinha relógios de bolso e de pulso que tratava com a mesma dedicação. Um deles foi o meu relógio durante muitos anos, um relógio grande, um relógio de homem, de mostrador creme e com os números bem desenhados. Quando se adiantavam ou atrasavam, ele abria-os e com a lâmina do canivete, que trazia sempre no bolso, "dava ao zarelho", expressão que usava para expressar o acto de empurrar uma pequena alavanca interior.
Em Melcões, casa mãe da Beira Alta, também tinha relógios. Quando lá chegávamos a primeira coisa que fazia era pô-los a trabalhar. Quando, raramente, íamos lá sem ele e telefonávamos, perguntava sempre: "Já deste corda ao relógio?"
Tinha doze netos. Quando acabávamos a quarta classe e entrávamos para o liceu, o Avô oferecia-nos um relógio que íamos com ele escolher à Relojoaria Adriano, que ainda existe, entre a Rua das Flores e o Largo dos Lóios - o meu era rectangular.

Saturday, September 22, 2007

Marmelada


Aqui está a de 2007! Bem feita. Menos do que o costume, mas mais doce e mais densa. A prática assim o destina a experiência assim o confirma.

Friday, September 21, 2007

Ideia recorrente

...ou filosofia de vida.
Cada vez mais me convenço e acredito verdadeiramente, que o crescimento ( ou dito de outro modo) que a nossa realização como ser individual e integro, se faz não através do que adquirimos, mas daquilo que perdemos, recusamos.

Eficiência

Sem confundir eficiência com eficácia, conceitos, ou diferenciação de conceitos tão na moda dos nossos gestores ineficientes e ineficazes, estou aqui para apenas dizer que:
- terça-feira enviei a Ilíada para troca;
- quarta -feira recebi um email que noticiava a sua chegada;
- hoje cheguei a casa e ela já cá estava!
Eficiência ( gosto mais desta) é a palavra que se me sugere.

Thursday, September 20, 2007

Setembro

O princípio do ano em Setembro (os anos durante uma época da vida contam-se assim) é sempre difícil. O meu lema é cada dia por si, até acertar a rotina - maravilhosa e libertadora rotina! Cada dia é diferente: acertar horários, combinar transportes, montar ambientes, fazer marmelada...
é assim em Setembro. A tarefa de encapar livros já acabou e por isso aquele post que fiz há dois anos ( 19 de Setembro de 2005), sobre esse tema, que fez chorar a Joana ausente, foi ultrapassado pela vida.Hoje as tarefas são outras, as autonomias são gratificantes - os meus filhos, para além de filhos, são pessoas completas (ou quase) que me libertam para as tarefas do prazer de os ter.

Wednesday, September 19, 2007

A odisseia da Íliada

Após a profícua leitura de "Mancha Humana" de Philip Roth aventurei-me novamente na Íliada. Embebida na epopeia cheguei à pág. 124, quando deparei com uma, duas, dez, onze páginas não impressas que interromperam a minha deleitada leitura. Escrevi para as edições cotovia, porque tinha comprado a edição na feira do livro de 2006 e já não possuía qualquer prova de compra. Eficientes, responderam-me no dia seguinte, dizendo que deveria devolver o livro, com cobrança na recepção e ser-me-ia enviado um novo.
Assim fiz. Hoje fui ao correio e expliquei a situação. Pergunta-me a senhora: " A pagar em Lisboa, os portes só, ou os portes e o conteúdo?" "Desculpe, não percebo, disseram-me apenas que deveria ser pago pago lá." " Tem que pagar cá e depois é-lhe devolvido o dinheiro. Quanto vale o conteúdo?" "Sei lá", respondi e logo de seguida perguntei " O quê, o livro? Não vale nada, está estragado." e lá percebi: provavelmente perguntava-me se eu estava a mandar o livro para venda! Então respondi: " Só os portes!"
Quando as pessoas fazem sempre a mesma coisa, adquirem vícios de linguagem e de raciocínio, que são inintiligíveis para os comuns dos mortais, que só vão ao correio enviar encomendas a pagar no destinatário uma vez na vida!

Monday, September 17, 2007

precalços

Depois de três semanas de férias verdadeiras acontece isto: quero entrar no meu PC em casa e não consigo: esqueci-me do nome do computador! Tive que vir ao de recurso para procurar umas coisas na net, mas não posso a aceder aos meus documentos pessoais e bem me apetecia. Talvez seja bom assim, porque vou descansar mais cedo.
Talvez mude o modo de escrever neste blog porque a minha parceira está cansada. Talvez faça sentido organizar de outro modo o tipo de reflexões e torná-las mais temáticas e menos anárquicas e pessoais. Sendo que serão sempre as minhas opiniões e nunca as minhas confidências: como nunca o foram. As confidências e os segredos guardam-se, porque eles são a nossa força e permitem a construção do nosso(individual) caminho. Mas acho que vale a pena partilhar algumas das reflexões mais ou menos abstractas, que se impõe a uma mulher de meia-idade e mãe de dois filhos, de sexos diferentes, em rota de diáspora. Veremos

Saturday, September 15, 2007

Nódoa


Este é o famoso Nódoa. Gato estranho, muito estranho, com comportamentos indecifráveis se olharmos para ele enquanto animal.
Este é o Nódoa hoje de manhã, quando se aventurou em malabarismos já habituais. Onde está o gato? Em cima de uma viga do pé-direito triplo!

Friday, September 14, 2007

Praia


A praia em Setembro mantém intactas outras marcas durante mais tempo, muito tempo, até que o mar as lave, até que o mar as leve.

Thursday, September 13, 2007

Meteorologia

Hoje o mar estava óptimo e o sol também.

Wednesday, September 12, 2007

Mar

Hoje o mar não me apanhou e eu mingo. Sou do mar.

Tuesday, September 11, 2007

O Grande Silêncio

O efeito do filme quase passou depois de uma manhã passada na conservatória e nas finanças da Maia para desipotecar a minha casa. As finanças registaram mal o prédio, enganaram-se no número de pisos da casa e agora tenho que pedir uma nova certidão na Câmara Municipal, para depois pedir a actualização do registo nas finanças, como se eu tivesse modificado a casa, que não modifiquei. Até me deu vontade de chorar, quando me vi enredada nos papéis, nos erros dos papéis, que ditam sempre mais do que a realidade. Mas ficará assim: para efeitos legais a minha casa não tem andares, mas tem um corpo com r/c e andar e na realidade tem três pisos. Viva a trapalhice!
Decerto que a paz e a felicidade só podem morar no alto dos montes mais altos, em vida de silêncio e meditação.
As três horas do silencioso filme trouxeram-me perguntas, dúvidas, perplexidades, mas deram-me também a tranquilidade que esperava obrigando-me a, desprotegida, "aguentar" a maratona fílmica das horas no interior e exterior da Grande Chartreuse, casa mãe da Ordem dos Cartuchos. Tem o tempo certo para nos levar e elevar.
De Philip Gröning, ontem à noite no Teatro do Campo Alegre.

Sunday, September 09, 2007

tralha

Detesto fazer arrumações. Juntamos tanta tralha, tantas coisas inúteis que depois guardamos para a inutilidade. Não vale a pena arrumar, guardar, para depois perdermos o lugar e a memória do que guardamos. Guardamos para a inutilidade.
Mas também não gosto de deitar fora. Lembro-me das montanhas de lixo que produzimos. Das toneladas de lixo que produzimos diariamente neste mundo estúpido. O que deito fora podia fazer falta a alguém? Mas a quem? As cadeias estão desfeitas e mesmo que as demos a instituições de solidariedade, sabemos a que as coisas não vão parar aos sítios certos ou ficam a apodrecer noutro lugar qualquer.
Mesmo que decida comprar só o essencial chegam cá a casa imensas inutilidades: oferecidas como bónus, como prendas, como brindes ou mesmo recolhidas por nós próprios. Se não deitamos fora e não compramos quebramos as cadeias produtivas. Se deitamos fora produzimos lixo. Se guardamos afogamo-nos em tralha e ficamos sem espaço.
Finalmente, nestas maratonas de arrumação, dá-me uma fúria e deito fora, deito fora, deito fora...
Queria ter uma casa vazia para não encher. Queria viver apenas com o essencialmente necessário à vida ( ou à sobre-vida?) - outra questão. E os livros, a música, os papéis escritos...também esses me são cada vez mais acessórios.
Gosto de os trocar com os meus amigos.

Saturday, September 08, 2007

gatinhos II

O Eurico voltou. "O gatinho está bom?" perguntei. "É mau mas está bom." e mostrou as mãos mordidas. "Mas o meu amigo também quer um gatinho." O amigo é um grandalhão, feio que não inspira muita confiança. Mas terá também um gatinho, amanhã.
Parece que dei em fornecedora de gatos da vizinhança, da desconhecida vizinhança.

Friday, September 07, 2007

o gatinho

“ A senhora tem um gatinho?” Eram quatro e meia e tinham tocado à campainha dois miúdos. Perguntei de longe o que queriam e o mais pequeno disse-me “ Tem que vir cá”, para de seguida me fazer a pergunta. “Tenho”, respondi. “É que eu queria um gatinho. Já tive um mas fugiu. Já perguntei à minha mãe e ela disse que podia ter um gatinho.”

Iniciamos a caça aos gatinhos. Pequenos, são seis agora. Fugiam, enquanto os miúdos desesperados, tentavam agarrá-los. A minha inabilidade e apreensão não ajudaram nada. Então propus: “ Voltem às sete horas que o meu filho já está e ajuda-vos.” Lá foram tristes. Passado um quarto de hora voltaram a tocar. O miúdo mais pequeno, o que falava e queria o gatinho, já o tinha ao colo. “O senhor aqui do lado ajudou-me a apanhá-lo. Eu disse que podia, que a senhora me dava o gatinho”. “E tu vais tratar bem dele?”, respondeu-me logo “Vou, eu gosto muito de animais”. Perguntei-lhe como se chamava “Eurico”, respondeu-me. “Quando passares aqui à porta toca para me dizeres como está o gatinho.”

Foi embora feliz, senti-o.

Thursday, September 06, 2007

sol mar


Foi-me dado o privilégio do sol e do mar. Aproveito-o sem hesitar.
Binómio que me carrega de vida. Assim também o é com as plantas e com os outros animais.

Wednesday, September 05, 2007

os tempos

Parece que estamos todos de férias...até o conta-mina. Mas estamos acessíveis, embora preguiçosas até para estas andanças. A praia do sul prolonga-se no norte, com muito bom tempo e bons banhos à medida do nosso apetite. Por isso nada de reflexões "profundas" que dão muito trabalho a alinhavar.
Apenas uma, sugerida como quase sempre por uma entrevista, sobre a dificuldade de representar um texto escrito. Essa dificuldade tem a ver com o tempo. Quando falamos, o pensamento e a organização do discurso estabelece um tempo ( a alguns sairá melhor e a outros pior, mas o tempo não é coisa que nos preocupe quando falamos - às vezes até temos tempo a mais, porque as palavras não saem). Quando estamos a reproduzir um texto escrito é preciso criar-lhe um tempo, senão ele não tem consistência, nem é credível. Aí está a dificuldade da representação teatral.
O mesmo já não se passa quando se interpreta um texto musical porque a própria música dita o tempo.

Sunday, September 02, 2007

À noite, no Alentejo.

porto


...mas há sempre um porto para abordar.

água


É sempre a praia, é sempre o mar. Eterno retorno à água em pacíficos embalos, em voltas sem retorno.