Saturday, February 28, 2009

outras experiências

Forma e conteúdo. Este, outro dos ecos da viagem ao Ruhr: as acções de revitalização urbana de www.raumlabor.net. Começar pelo conteúdo. Criar um estúdio de ópera, de criação musical, de composição, sem um edifício de acolhimento: sem o teatro, sem a ópera, apenas com um contentor colocado num não-lugar, num cruzamento de estradas e de linhas férreas, à porta de uma estação de metro, em Eichbaumoper. O conteúdo existe, está lá. A forma é efémera. Se algum dia tiver que existir estará prenchida, fará sentido. Entretando as pessoas transformam-se e vivem melhor. Decididamente, sou do conteúdo.

Monday, February 23, 2009

Ruhr



Ruhr.Uma surpresa. Apreendi muito. O que mais me impressionou materialmente foi a grandeza, o poder e ao mesmo tempo a delicadeza rigorosa dessas máquinas, cidades de máquinas, que nos finais do século XIX e até muito tarde no século XX, ocuparam esta região. Destinadas à extracção e produção de carvão ou de ferro, são complexos edificados feitos pelo homem em que os habitantes são as máquinas. Neste, Zollverein, localizado em Essen, Património da Humanidade, classificado pela Unesco, no edifício principal, destinado à lavagem do carvão, apenas trabalhavam seis homens!
O que mais me impressionou enquanto arquitecta, foi o processo de requalificação que toda esta área tem em curso.

Wednesday, February 18, 2009

auxiliares de memória

Já antes de ler alguns artigos sobre listas as fazia. O que é certo é que elas fazem cada vez mais parte do meu quotidiano. Listas, ajudas de memória, agendas, listas em agendas. Este ano tenho várias agendas, de papel e virtuais. Cada uma tem o seu lugar e como tal conteúdos diferentes. E como são mais ou menos móveis, funções diferentes. Uma está em casa, duas no local de trabalho e outra anda comigo (quando não me esqueço dela). E depois existem os cadernos de registos, não diários, extemporâneos, a jeito quando dão jeito.
Mas agendas são boas não só para programar o futuro mas, como auxiliar de memória, para ler o passado... é pena é que muitas vezes aquilo que queríamos ver registado não o tenha sido. Tomar notas também é uma ciência. Vou investir nessa investigação.

Saturday, February 14, 2009

Bondade e Virtude

Talvez não seja a reprodução exacta da ideia que Doubt pretendia passar, mas aquela frase acerca da bondade e da virtude gerou algum eco interior: virtude versus bondade. Mas haverá maior virtude que ser bom? Parece que sim. Parece que virtude é seguir alguns códigos morais absolutos, que implicam o exercício de “boas práticas” e este exercício pode implicar ser cruel, agir a despeito de qualquer afectividade, magoando, em nome da virtude, quem se ama. Assim mesmo: o miúdo negro precisava de atenção, de consolo, de afectividade, de ternura. O amor, a atenção, o carinho do padre era bom para o miúdo, ele sentia-se bem com ele, ultrapassava-se e engrandecia-se com ele. Mas, um comportamento virtuoso, não é compatível com esta afectividade e complacência: tudo o que dá prazer e dá gozo é mau! O padre não pode amar o miúdo, o padre não pode tocar o miúdo, ainda que para o miúdo isso seja bom, é mau para os olhos do mundo, cheios de virtude. Apenas a mãe entende essa outra verdade, a verdade do amor, que adia qualquer juízo moral para "é só até Junho" e pelo menos agora o filho é amado.
O padre demitiu-se, o miúdo ficou sem o conforto do amor… mas a virtude triunfou.
(a propósito de Doubt)

Thursday, February 12, 2009

Tangerinas e clementinas


Estes são os meses em que só comemos tangerinas e clementinas. Sempre do quintal dos avós. (Fico feliz de ter resgatado a pentax e de a ter posto a fotografar outra vez.)

Wednesday, February 11, 2009

Milk de Gus Van Sant

Alguém dirá que não estou autorizada a escrever sobre este filme. Mas, apesar de ter dormitado cerca de 1/4 do filme, fiquei com uma ideia precisa sobre ele: um filme de causa, um filme militante.Bem filmado, excelentemente desempenhado (Sean Penn encolheu e fragilizou-se), bem encadeado...um pouco lento, sem que isso seja defeito mas antes opção - embora não me tivesse dado muito jeito.
É interessante como, passados uns anos sobre Brokeback Mountain, o tema da homosexualidade é tratado com a naturalidade e com a seriedade de qualquer outra causa... e enche salas, sendo muitos espectadores homens!
...a contar com os conselhos do nosso bendito episcopado, não estariam lá nenhuns católicos...

Monday, February 09, 2009

Doubt de John Patrick Shanley

Logo no genérico me lembrei de Kramer vs. Kramer (e penso que seja apenas pela opção estética e a escolha tipográfica feita no genérico), mas ainda bem, porque tanto Doubt como Kramer vs. Kramer parecem ser capítulos da obra "o que é a realidade humana." Doubt é o capítulo da dúvida.

Perante factos cada um constrói a história que quer. Cada um acredita nessa história. Tudo é a realidade mais o que concebemos depois. É um tema que temos visto abordado recentemente: qualquer dos filmes de Lars von Trier ou mais recentemente Chagelling de Clint Eastwood. O que não se questiona são as duvidas por trás da realidades que construímos e isto é Doubt. E desenganem-se, todos ali duvidam: não só a freira nova, boa e inocente (Amy Adams a ser extremamente convincente e a passar-nos uma tamanha agonia); o padre inovador (Seymour Hoffman a ser brilhante como sempre) apesar de completamente envolvido nos factos; a mãe do garoto (Viola Davis, god bless you!) e o seu medo de que o filho não possa ser o que quer; e, desenganem-se mesmo, até a freira chefe, rigorosa e avassaladora (Streep a ser a actriz que sabemos, ou seja, Streep a ser outra pessoa, outra vez). São tudo escolhas, são tudo visões diferentes dos mesmo factos. São todas plausíveis e ainda assim, a dúvida flutua desde os primeiros minutos até à neve no jardim da escola, no último quadro. E ainda assim, se a dúvida impede alguns de agir (Adams) não impedirá outros (Streep e Hoffman).

Atentem também aos sermões. Atentem em certos planos. Atentem na cara dos actores. Atentem na riqueza do argumento (a peça deve ser tão bem escrita...). Atentem em tudo. Doubt é apenas uma metáfora, se olharmos bem. Todos agimos, mesmo com dúvidas. Atentem porque se aprende um pouco mais sobre ser-se humano. Do melhor dos últimos tempos. Do melhor.

Wednesday, February 04, 2009

Sunday, February 01, 2009

Jovem pianista

Piotr Anderzewski é ainda muito novo por isso me seduziu com a sua contenção. Sempre acho que os pianistas muito novos têm alguma dificuldade em controlar o vigor e brindam-nos muitas vezes com interpretações que mais parecem fogo de artifício. Mas hoje não foi assim e, sobretudo na segunda parte, Anderszewski, foi capaz de me surpreender entre o vigor e a mais eloquente discrição. A sala estava acolhedora nesta invernosa tarde.

A Troca de Clint Eastwood

O mais clássico dos clássicos ou o mais conservador dos realizadores da actualidade. Conservador nos temas, na moral, no relacionamento entre as pessoas, nas regras de organização social, na composição dos filmes, na direcção das personagens, no encadeamento da acção, conservador e desencantado.
Porque foi assim que senti o filme: como uma dor que morde por dentro, que se desenrola como uma mola que atira o interior, empurra as nossas vísceras contra o exterior,a pele e os músculos, que nos preenche e nos esvazia. É impossível ficar frio perante crianças molestadas, perdidas, literal e emocionalmente, levadas a agir por coacção contra si próprias. É impossível não sofrer quando a leitura da realidade transforma a verdade em demência e a realidade em ficção, levando-nos a um sentimento de impotência demasiado verdadeiro para não ser real.
Sobre Angelina Jolie, dizem que um bom papel- acho que sim, pelo menos nada há que o contradiga, encaixando-se na perfeição no conceito do filme.