Wednesday, June 28, 2006

às vezes

Por mais voltas que o mundo dê os temas/problemas vão sempre bater no mesmo ponto: ciúmes, disputas de afectos, …
Somos postos no mundo, sem nos perguntarem nada, mas estou em crer, que na maioria dos casos, somos postos aqui porque nos querem, para o nosso bem-estar e para sermos felizes ( ou então por puro instinto de continuação da espécie – mas esse é outro tema). A felicidade de uns não tem que implicar a infelicidade de outros. Por isso muitas vezes me vem à cabeça a máxima, que aprendi nos meus tempos de comunista e que ainda hoje sinto como minha “ De cada um segundo as suas possibilidades a cada um segundo as suas necessidades”. Se assim fosse seríamos muito mais tolerantes, porque não exigiríamos de todos igual, respeitaríamos a diferença. Se assim fosse, entendíamos que uns precisam de algumas coisas mais do que outros e que isso não põe em causa o nosso lugar. Ele é único e à nossa medida.
Na prática estes podem também ser os conceitos de equidade e de coesão de que tanto se fala hoje.
Mas o ciúme, a inveja e a disputa estão sempre à espreita, não para viver melhor com o vizinho, mas para lhe “passar a perna”. Aqui não falo só do plano do “ter” material, porque aí, pelo menos racionalmente, quase toda a gente chega (basta ouvir o chavão acerca do ter e do ser), mas falo do “ter” possuir, pessoas e afectos: disputam-se pais, disputam-se irmãos, disputam-se parceiros, disputam-se amigos, disputam-se colegas de trabalho. Disputam-se até ninhos, consolos e confortos, tão potencialmente neutros como são os parentais.
A capacidade de amar dos pais é infinita e reproduz-se à medida do necessário. Penso nisso muitas vezes relativamente aos filhos: por ter dois filhos não divido a minha cota de amor por dois, duplico-a, fico com o dobro da cota, amando na diferença, na intercepção e na disjunção.
Só que às vezes não é bem assim…

2 comments:

Anonymous said...

"Produzir e fazer crescar,
produzir sem se apropriar,
agir sem nada esperar,
guiar sem constranger,
é a virtude suprema"

retirado do livro Tao Te King, de Lao Tse

I

maria said...

Porque andamos sempre a procurar a sabedoria pelo Oriente? Talvez porque cada vez mais o Oriente está mais longe. O mundo ocidental afasta-se da essencialidade e da virtude. Então é sempre lá que vamos beber. Cá, tudo se complica, se ilude, se artificializa. Será que lá também? Só que a gente não sabe e a fonte permanece límpida? Se assim for ainda bem que não sabe e ainda bem, que o que nos chega, chega sem mácula.