Thursday, August 06, 2009

de musil a mishima

“ Não faço a mínima ideia!” respondi eu; e tentei descobrir quais as razões que me levavam a sentir tanta satisfação em semear a dúvida no espírito das pessoas. Para mim, pelo menos, não existia sombra de dúvida; o caso era claríssimo: os meus sentimentos também tinham o seu gaguejar! Havia sempre uma diferença temporal entre o facto e eles. Consequentemente, havia de um lado a morte de meu pai e do outro a minha tristeza, nitidamente separados, isolados, sem a mínima interferência. O mais pequeno desvio, o mais leve atraso e, infalivelmente, o facto e a reacção afectiva seriam separados, o que em mim é provavelmente um estado fundamental.
O desgosto que sinto, quando existe desgosto, cai-me em cima sem dizer “água vai!” e sem razão; é totalmente independente de um acontecimento ou de qualquer causa.” O templo Dourado; Yukio Mishima; Assírio e Alvim; pág.39/40
Vagueio nos espaços entre Musil e Mishima, apesar de tudo a todas as horas.

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