Wednesday, August 31, 2005

Radiance - Keith Jarrett

Comprei, finalmente o último CD de Keith Jarret, “ Radiance”, que contém as gravações dos concertos de Osaka e de Tokyo em 2002. Ouço-o enquanto escrevo. Não era isto que estava a fazer, mas a música teve o poder de me obrigar a abrir uma página de Word para confirmar como ela me faz bem. Faz juntar os bocados partidos e soltos da minha existência e reúne-os de novo num ser completo.
Se é jazz, se é mais que jazz, se é clássico, se é perfeito, …pouco importa. Importa sim que me faz pairar numa tensão contínua e latente, que não quebra, não rompe, que me mantém lúcida, a levitar horas, no limiar da integridade.
Quase dói.
Prefiro o de Tóquio e deste a última faixa. Por agora não posso arriscar mais.

Tuesday, August 30, 2005

Sylvia Plath

Vi, hoje, três quartos do filme Sylvia, sobre a poetisa Sylvia Plath. Enquanto filme não me tocou especialmente, não achei muito bom, muito menos, genial. No entanto, ajudou-me a perceber quem escreve os poemas mais escuros e camuflados de Ariel. Tinha comprado o livro há uns meses e senti-me tocada pela forma estranha como tratava a própria morte. Como carrega um peso em cada palavra, o peso de não querer viver. Compreendi-a hoje e custa-me dizer que, até, me revi. Não na paranóia, nem na sede de partir, mas na quietude nervosa, nos ataques de fúria e na vontade de superação. Agora, vou repassar os olhos por Ariel e perceberei melhor o sentido de cada palavra. Artista perto do abismo, como a maioria. A Sylvia enterra-me nos dias depressivos e só me permito ser como ela se, algum dia, conseguir escrever um verdadeiro poema.

***

POPPIES IN JULY

Little poppies, little hell flames,
Do you do no harm?

You flicker. I cannot touch you.
I put my hands among the flames. Nothing burns.

And it exhausts me to watch you
Flickering like that, wrinkly and clear red, like the skin of a mouth.

A mouth just bloodied.
Little bloody skirts!

There are fumes that I cannot touch.
Where are your opiates, your nauseous capsules?

If I could bleed, or sleep! -
If my mouth could marry a hurt like that!

Or your liquors seep to me, in this glass capsule,
Dulling and stilling.

But colourless. Colourless.

Monday, August 29, 2005

Paraíso



“Uma praia que não deixa ninguém indiferente, ou se ama perdidamente ou se detesta.”
Estava dado o mote. Metemo-nos ao caminho, que confirmou exactamente o descrito no guia - ao fim de quatro quilómetros e meio chegamos a um rectângulo de luz.
Algumas viaturas variadas estavam paradas na antecâmara do areal – depressão esboçada por uma linha de água perdida. Algumas tendas. O areal com 1,50Km de extensão está contido por falésias que se desdobram em embasamentos xistosos e calhaus rolados. Do lado poente, entre a falésia e o mar ainda há lugar para uma língua de areia que se mistura ondulante nos calhaus. Do lado nascente, a água límpida desenrola-se por entre as pedras deixando ver areia dourada do fundo, filtrada pelo verde esmeralda transparente da água, ao longe mais azul.
Os poucos habitantes da praia distribuiam-se pelas rochas e deambulavam em serenas observações. Outros pescavam. Cada um – um universo. O vento forte contribui para esse isolamento cósmico.
Na antecâmara da praia, estava parado um triciclo com uma capota e uma cortina que garantia privacidade à caixa. Nela estavam sentados um homem e uma mulher enrolados em mantas de xadrez – a dele azul e a dela vermelho escuro. No dizer dos meus filhos, dois velhotes. Confirmo que tinham para cima de sessenta anos. Ao fim da manhã – que em férias se prolonga até às três da tarde, desceram à praia, enrolados nas mantas, olharam em volta, pousaram suavemente as mantas e partiram nus para o mar. Primeiro ele e depois ela. Deslizaram na limpidez da água e na crueza da luz por longos e pacíficos momentos. Depois saíram da água, enrolaram-se nas mantas e regressaram ao triciclo.
Assim tivemos o privilégio de encontrar o paraíso.

(fotografia da Joana)

Thursday, August 25, 2005

Portugal é Europa

(email que recebi da Mafalda, que está em Bruxelas.)

Na Europa, para além das pessoas bonitas e das casas enormes, há cafés gregos e vietnamitas e turcos e italianos e portugueses por todo o lado com cadeiras de madeira nas esplanadas. Há senhoras vestidas à anos 60 à entrada dos hotéis de 5 estrelas. E há limpeza e organização e saúde. Mas duvido que haja mais respostas às perguntas importantes, seja nos livros, seja na cabeça de quem lê os livros, do que em Portugal.

___

É esta a visão de Portugal que Portugal precisa: um país tão capaz como todos os outros com quem partilha o continente. Temos artistas, gestores, cientistas, temos pessoas e respostas. Só não temos quem nos domine, quem nos ponha no caminho mais compensador. Quando isto acontecer, Portugal será mais Europa que a Europa. Acreditem em nós, por favor. Porque valemos a pena.

Sr. Albino

O Sr. Albino entrava na casa dos meus pais, há quarenta anos também a minha casa, de bicicleta e com uma mala de mão, preta. Dentro da mala estavam os seus apetrechos de barbeiro. Punham uma cadeira com uma banqueta, na parte coberta do pátio (quinteiro) e, à vez, sentavam-nos na cadeira para ele nos cortar o cabelo. Aos meus irmãos, um mais velho e um mais novo, e mim, a rapariga.
Ontem fui com o meu filho e o meu pai visitar o Sr. Albino. No quintal comprido e estreito de casa suburbana, tem centenas de gaiolas com passarinhos de criação. Os seus olhos reluziram ao ver a Çãozinha “…nasceu em 14 de Dezembro, para aí há cinquenta anos” – enganou-se por pouco. “ Com seis meses cortei-lhe o cabelo. Tinha um cabelo forte!” “ A vida é como a recta do Mindelo. Quando olhamos para trás já não sabemos onde é que ela está.”
Os pássaros, vai dá-los, porque já não tem saúde para os tratar. Trouxemos um canário calmo e muito amarelo.
Eu vivo na cidade – a aldeia da minha infância. É insólito como sem sair da “cidade” vivo ainda na aldeia, retorno ao passado e encontro uns olhos que me lêem depois de tantos anos.

Wednesday, August 24, 2005

Festas da Agonia, domingo ao meio-dia – Praça da República [nº2]


Gigantones; Praça da República, Viana do Castelo; 2005.08.21



Tenho andado afastada do Conta-mina por motivos que não importam. A minha mãe mantém o blog vivo e aceso, com uma força juvenil, até. Agradeço-lhe. Nos intervalos do cansaço, deixo esta fotografia. E que fique, também, a minha vontade de dizer que, o que ali se vive, só é inteligível em silêncio. Grande até ao fundo do mundo. Mais fotografias brevemente.

(um pequeno à parte: ouçam Hanne Hukkelberg, Small things e The Books, The Lemon of Pink)

Tuesday, August 23, 2005

Espaço Negativo

Laurinda Alves recuperou, no editorial da X do passado dia 13, um texto essencial de Sophia, ao passar um ano sobre a sua “morte”.

Retirei um extracto:
“A beleza da ânfora de barro pálido é tão evidente, tão certa que não pode ser descrita. Mas eu sei que a palavra beleza não é nada, sei que a beleza não existe em si mas é apenas um rosto, a forma, o sinal de uma verdade da qual ela não pode ser separada. Não falo de uma beleza estética mas de uma beleza poética.”,

que me lembrou outro (para mim sempre essencial):

“Como é que sabe que é uma peça Sung?” Ele voltou a sorrir. “ As proporções – não há outra marca distintiva. Foi por isso que o antiquário falhou. É como o cego, que só se fia no toque familiar dos objectos. Aqui, se fôssemos só pelo tacto, não podíamos conhecer. Tente olhar lá para dentro e sentir as proporções, sentir a maneira como foi moldada, como um ovo de pássaro.” Daí a pouco comecei a ver vagamente o que ele via; era bastante como um teorema em geometria. Compreendi então que o que ele admirava era o modo como o pequeno objecto absorvia o espaço – não era a habilidosa manipulação da matéria, a simples beleza da função. Podia assim, do nosso ponto de vista, dar-se pouco significado a esta pequena recordação, enquanto que do dele era a requintada armadilha destinada a valorizar o espaço ambiente em volta dela. Era a estética chinesa e a capacidade negativa!” Durrell, Lawrence; Um sorriso nos olhos da alma; Quetzal Editores

Com a beleza poética, Sophia vai além da aparência para captar a essência. A beleza poética também é estética, mas uma beleza estética que não se resume ao equilíbrio proporcional, ainda que também ele se defina por referência a uma cultura. A beleza poética sente-se e entende-se como um vínculo a um mundo perfeito, religado, onde a peça, cada peça, é moldada como um ovo de pássaro.

Porque faz sentido falar disto numa perspectiva intergeracional? Porque cada dia a nossa ligação à Terra e ao nosso passado nela, se perde, ou é cada vez de mais difícil leitura. Porque para atingirmos a paz temos que fazer um grande esforço “para olhar lá para dentro e sentir…” a presença na ausência, a força do espaço negativo.

Monday, August 22, 2005

Festas da Agonia, domingo ao meio-dia – Praça da República

Há um momento em que a verticalidade do homem e a sua ancestralidade, entendidas enquanto desafio aos deuses, são demais evidentes. Crescem e excedem-se na ritualidade do ritmo primário e no desejo de superação, afirmação viril. Como animais, evidenciam a sua superioridade física.
O cenário também faz ao caso. A Praça da República em Viana do Castelo é um tratado de urbanidade. Para além de edifícios singulares, entre os quais a Misericórdia supera, a proporção entre o plano horizontal da Praça e a verticalidade dos alçados, que fogem pelas ruas medievais, criam um iato propício ao confronto entre gigantones, tocadores e público. Tudo se mistura no estremecer cúmplice que faz do conjunto uma nova entidade.
É tão primária a expressão, tão forte e solidária a experiência que, quem a testemunha uma vez, sabe que terá que voltar.
Aguardemos pelas fotografias da Joana.

Saturday, August 20, 2005

Para ti...e para ti também!

Para ti.
Reserva de Eficiência. Conceito interessante com que trabalho todos os dias e que significa que, quando se atingem todos os objectivos propostos, há um bónus a que temos direito.
Estou de férias! Dei muito, dou muito, mas nunca dou tudo. Para mim, aqui reside o segredo – a reserva de eficiência. Há sempre um canto, um reduto, só meu, que guardo ciosamente. Aqui está o fermento que me alimenta a imaginação e a alma.
O tempo em que pensava “…dei tudo o que tinha!” já passou. Sabes, isto não quer dizer que não é importante que nos entreguemos apaixonadamente aos nossos amores. Àquilo que fazemos, no trabalho, em casa, com os escolhidos para a vida, com os amigos, nos vícios, … mas nunca tudo! A reserva de eficiência é para nós, não está consignada e usá-la-emos, entregá-la-emos como e a quem quisermos. Independentemente de regras ou pré-conceitos simplesmente pelo prazer de ser e de dar.
Para ti, também!

Thursday, August 18, 2005

Associações

Descontextualizar para associar. Apropriação - cultura.
Faço-o consciente de que a leitura é minha e de hoje, quarta-feira dezassete de Agosto. Pré-férias e muita densidade.
Não posso deixar de referir a fonte: Proust e Lindley Cintra, por Frederico Lourenço no prefácio da Ilíada de Homero.

Deles, de mim, a paixão pela vida.

“No entanto, sejam quais forem as decepções inevitáveis que nos cause, este caminho na direcção daquilo que mal tivemos ocasião de entrever, do que tivemos possibilidade de imaginar, esse caminho é o único saudável para os sentidos, que nele alimentam o seu apetite. Que melancólico tédio marca a vida das pessoas que por preguiça ou timidez se dirigem directamente de carro a casa dos amigos que conheceram sem terem começado por sonhar com eles, sem nunca se atreverem a parar durante o percurso junto do que desejam!” Proust; ( Em Busca do Tempo Perdido) À Sombra das Raparigas em Flor; Relógio de Água; pág. 458; tradução Pedro Tamen

“... mas sem deixar de perguntar a mim mesmo e o saudoso Professor Luís Filipe Lindley Cintra não teria razão ao convir “...ser preferível errar, acreditando, do que acertar sempre mas por cálculo e por táctica.”” Lourenço, Frederico; Prefácio da Ilíada de Homero

Monday, August 15, 2005

Expliquem-me Porquê?

Este é um assunto em que evito pensar porque incomoda. Para além de incomodar porque é triste e assustador, incomoda porque não encontro uma explicação para o que acontece. Ou teremos que nos convencer que há múltiplas razões e por isso múltiplas respostas? E deste modo múltiplas maneiras de nos desresponsabilizarmos.
Fecho os jornais, não vejo os telejornais, mas o fogo bate-me todos os dias à porta, com uma força inolvidável, com um cheiro que me entranha, com um fumo que intoxica e deixa marcas, que anos e anos após, nos tocam de tristeza.
Porquê: são os meios de combate, são os bombeiros, são os pagamentos que se atrasam, são os militares que não participam, são as florestas que estão abandonadas, é a desertificação do mundo rural, é a seca.,…e por certo muitas mais razões.

O que para mim é certo é que a defesa da floresta pressupõe um tipo de trabalho a que nós estamos pouco habituados e que provavelmente não nos interessa.
É um trabalho que:
• tem que se fazer antes de ver os resultados e estes são o não acontecer, tem pouca visibilidade;
• tem que ser global porque a floresta é contínua. Não adianta prevenir-me se o meu vizinho não o faz.
• Não dá resultados imediatos nem garantidos e por isso pode não ser uma boa arma eleitoral;
• Tem uma dose de catástrofe natural que nos desculpabiliza.
• Implica uma mudança de atitude de cada cidadão e provavelmente alterações estruturais no modo de encarar a floresta.E as ditas mudanças estruturais projectadas pelos governos tem que ter uma boa dose de visibilidade ( estilo OTA ou TGV).

É triste perder a nossa paleta interminável de verdes, andar sobre o chão queimado onde não há vida.
Se a floresta é uma das nossas maiores riquezas, tanto no sentido produtivo como de caracterização da paisagem, então, daqui por poucos anos seremos um dos povos mais pobres do mundo.

Saturday, August 13, 2005

Para ti, também!

Não poderei esquecer o dia em que, deitadas na tua cama, depois de uma conversa dura sobre a vida, me disseste: “Oh Mãe! Olha este.” Abriste o livro e leste. Rimo-nos descontroladamente.
Também somos isto. Ou somos isto.


O Canto de Orge

Dizia-me Orge:

1
O lugar na terra que amamos mais
Não é a relva do túmulo dos nossos pais.

2
Dizia-me Orge: para mim o lugar que
Se deve desejar será sempre o W.C:

3
Nesse lugar é permitida a cada um a alegria
De ter por cima a estrela, e, por baixo, a porcaria.

4
Lugar admirável onde se po-
de adulto ficar só.

5
Lugar de humildade: nele saberás bem
Que não passas de um homem que nada retém.

6
Lugar onde um corpo que no assento repousa
Faz com força e doçura por seu bem qualquer cousa.

7
Lugar de sabedoria onde podes com lazer
Preparar a tua pança para muito outro prazer.

8
Nele te darás conta do que realmente és:
Um pobre tipo que come… nos WW.CC.

Bertolt Brecht

Think Don't Think



A ideia de poder calcar palavras, andar ideias. Quem sabe mudar o dia ao atravessar uma rua. Ter uma ideia, enquanto se espera pelo sinal verde. Ou só pensar. Ter a poesia fora do poemário. As frases fora dos livros. A roubar-nos o stress cosmopolita. Ponham letras nas passadeiras portuguesas e talvez a ignorância fique do outro lado da rua.

Projecto think don't think. Paris.

Thursday, August 11, 2005

Sobre o discurso

De Proust que disseca o quotidiano como ninguém. Com ele os sentimentos mais prosaicos, mas também mais fundamentais e permanentes desde sempre no homem, revelam-se em todas as dimensões e profundidade.

“ A verdade que pomos nas palavras não abre caminho directamente, não é dotada de uma evidência irresistível. É preciso passar bastante tempo para que uma verdade da mesma ordem se possa formar nelas. Então o adversário político que, apesar de todos os raciocínios e de todas as provas, considerava o sequaz da doutrina oposta um traidor, partilha igualmente a convicção detestada na qual aquele que procurava inutilmente difundi-la já não acredita. E a obra-prima que para os admiradores que a liam em voz alta parecia mostrar por si mesma as provas da sua excelência e que aos outros ouvintes apenas oferecia uma imagem insana e medíocre, será por eles proclamado obra-prima, tarde de mais para que o autor possa sabê-lo.”

Marcel Proust; Em Busca do Tempo Perdido (Volume II) À somra das raparigas em flor; pág. 91; tradução Pedro Tamen; Relógio de Água

Um pouco céptico para o nosso tema da comunicação.

Wednesday, August 10, 2005

Ter um poema à mão

Experiências simultâneas vão criando a escrita -esta*-, que se refere a um universo claro, mais claro do que a realidade que, abrindo os olhos para o que está escrito e rescrito fora, conheceis. Fora, também está escrito outro universo. Mas não sei explicar-vos como está escrito, passeai por ele, sabereis, então, por onde entrar e sair do seu sentido. Porque, por vezes, estranhamente, o que está fora é o que está em palavras, e as coisas, que estão dentro de nós, a gritar por ser ditas. Ter um poema à mão, nesses instantes, ajuda. Se o nomear tem de vir de fora, que venha de um poema que soube responder à poesia.

*refere-se à tradução de poemas;

Maria Grabiela Llansol, prefácio de Últimos Poemas de Amor Paul Éluard

MULHERES

Ana Grigorieva * (Dostoevsky)
Mileva Maric ( Einstein)
Alma Mahler ( Gustav Mahler)


Três histórias que se multiplicam. O mais imediato seria dizer que foram mulheres que se sacrificaram pelo sucesso dos maridos e aguentaram a sua loucura/ insanidade.
Não vou por aí.
Tinha que ser a parte feminina do casal a ter este papel, porque os contextos históricos e culturais eram adversos à afirmação da mulher como profissional. Independentemente do sacrifico, que decorre da relação amorosa e da admiração, não era fácil, para não dizer impossível, a afirmação profissional no feminino. A história para as mulheres começa muito tarde. Mesmo assim sempre, ou quase sempre, uma história dupla: profissão e lar/maternidade.
Por isso mais do que o lugar comum do sacrifício da carreira pelo marido e pelos filhos, há que entender estas relações como relações de amor/paixão em que o trabalho intelectual e artístico é, também ele, uma paixão, um caminho inevitável e irreversível. Provavelmente nestes casos, tanto para o homem como para a mulher, pela sublimação da perda através da dádiva e da partilha de vida com homens de génio.

Estas são histórias que tocam pela intensidade. Das quais apenas sabemos a visibilidade social da relação. Vale a pena conhecê-las melhor, porque não são vidas de ontem, mas de hoje. Porque independentemente da afirmação profissional da mulher, não conheço ainda casos inversos ou casos de sucesso feliz.

* Este caso é um pouco diferente. Ana Grigorieva era estenógrafa e escrevia o que Dostoevsky ditava. Seguiu-o pela Europa do Norte, viveu amargamente e intensamente entre, vício, doença, paixão e arte.

Tuesday, August 09, 2005

7ª Sinfonia de Mahler - A Canção da Terra

Na Casa da Música com a Orquestra de Jovens da União Europeia dirigida por Bernard Haitink.

A Casa e a Hora
Gosto particularmente da Casa da Música ao crepúsculo. Da atmosfera progressivamente mais intimista, que nos vai focando no palco, que conquista à noite, toda a sua luminosidade.

Da Sifonia
Luminosidade da Sinfonia de Mahler. A sétima. Que eu não conhecia. Também ela uma sinfonia de contraste, que balança de linhas melódicas que são por vezes, para os meus ouvidos de leiga, demasiado previsíveis e bucólicas, para se romperem com o estretor violento dos metais. Contraste que nos põe em conflito connosco e com a música.

Da orquestra e da direcção
Bernardo Haitink deliciosamente discreto e preciso, dirige uma orquestra que, com personalidade, nos leva em segundos, do mais pacífico momento à exaltação dos sentidos.

Gostei

O salto talvez esteja em apreender a gostar da música mesmo que ela não sublinhe o nosso gosto, o nosso modo de estar no mundo e o nosso estado de espírito.
Gostar de Mahler, para além do Adagietto da 5ª Sinfonia*, é um desafio que gostei de jogar e venci.

* esse sim sublinha aquilo que me é mais caro- sobriedade, dramatismo, intensidade - Talvez porque é uma declaração apaixonada a Alma.


Duas Notas: Não consegui o programa " que excepcionalmente só se vendia no bengaleiro” à entrada e fui de Metro.

Monday, August 08, 2005

Sem título

No mundo há só um templo: o corpo humano. Nada mais sagrado do que esta forma sublime. Inclinarmo-nos perante um homem, é render homenagem a esta revelação da carne. É no céu que tocamos quando tocamos num corpo humano.
Novalis ( 1772/1801)
Fragmentos
( tradução Mário Cesariny)

Saturday, August 06, 2005

Conta-mina

Conta - de contar; contar história; contar estórias; contar de aritemética: um, dois, três, infinito positivo e infinito negativo; bidimensional, na horizontal e na vertical;
- Conta-me. Conta-me tudo o que sabes! Mesmo aquilo que não se consegue contar. Essa é a minha catarse.
Mina - de minar; corroer; mina de água; lura; vazio subterrâneo; catacumba; aquilo que está debaixo, sob, escondido; o que de vez em quando deve submergir…
Contamina - de contaminar; aquilo que contagia; por contacto ou por ideia; alastra...

CONTA-MINA

The Music from Drawing Restraint 9



The music from Drawing Restraint 9 é o mais recente álbum da cantora/compositora islandesa Björk. É a banda sonora do filme do marido, companheiro, amante (um desses substantivos), artista plástico (?) Matthew Barney. Björk tira do anterior álbum -Medulla editado em 2004, uma genial experiência e um apenas razoável disco- todas as lições e compõe um álbum complexo, cheio de subtilezas e poesia. Faixas como Ambergris March e Gratitude enchem dias. Um dos álbuns do ano, na minha opinião. Altamente recomendável.

Friday, August 05, 2005

Aqui estamos

Isto pica-me. Se para ela é natural para mim é uma aventura. Mas este também é o meu mundo …e o dela, por isso aqui estamos.
Vamos lá ver se não faço muitas asneiras e não destruo esta porcaria toda. Porque eu não sou muito certa. Depois ouço: “Vê lá se desligas o azelhómetro”.
Ora bem.
Este projecto é antigo e é sério.
Antes do mais, somos da mesma família, por acaso até somos mãe e filha. Não temos medo de dizer o que pensamos. Acreditamos na bondade da comunicação.
Vamos começar.