Monday, December 31, 2007

paraíso

Há algum tempo que venho iniciando o tempo do menos. Estou sozinha em casa. Nada mexe. O dia está luminoso... os bichos preguiçam de olhos dormentes. Eu arrumo livros e penso... 2008 - o ano do menos. Tirar, retirar, dar, entregar... do que é que preciso? De nada, apenas o essencial para sobreviver, o resto tenho dentro de mim. A terra é congénita. Ao longo de anos fui adquirindo sementes que pus a germinar... espero apenas ser capaz de fazer com que os outros à minha volta descubram o paraíso que possuem também, para que os possamos partilhar. Convido-vos para o meu ________ imaterial.

Sunday, December 30, 2007

ideias para juntar

Para continuar o post da Joana, antes que perca oportunidade, direi que algumas das imagens que vi ontem me perseguíram durante a noite: em sonhos e nos pensamentos que povoam o limbo entre sonos. Tão fortes e tão negras, tão gritantes e tão soturnas, tão suplicantes e tão resignadas. Será isto que nos é dado ver no culminar da vida? Será isto que nos é dado sentir no limiar da morte? Depois de algumas experiências limite, no hospital, no silêncio, no desatino, a pintura que conhecia mudou e resplandece de um vigor insuspeitado... para além da técnica exímia.
Um único senão - alguns fantasmas do passado, desnecessários, que nos distraem o olhar da essencialidade das obras mais recentes.
(algumas coisas fizeram-me lembrar Goya - eu sei que Goya é um dos seus pintores favoritos)
Confirmo que vale a pena ver.

Álvaro Rocha, Estrada de Santiago



Fomos visitar o Avô ao hospital e, depois, fomos visitar a exposição do Avô. São muitos quadros (mais de 90?) e, como sempre, alguns desnecessários. Mas é o Avô que sabemos existir, como se estes últimos anos de pintura, em que sempre se repetiu o mais do mesmo, o tivessem feito desabar nestas coisas novas. Nunca nenhum de nós teve tanta vontade de comprar uns quadros dele. Nunca nenhum de nós suspeitou que por trás do "estou a preparar uma exposição" estivesse este conjunto de quadros tão novos. Vejam-na, está em Viana, no Centro Académico - IPVC, até 13 de Janeiro. Como assinámos no livro, "Boa, Avô!", boa!

Saturday, December 29, 2007

tempo de natal

O tempo de natal é assim: em casa cedo, com dois filhos a bulir. Filmes na televisão com músicas épicas.
Hoje ao almoço encontrei-me com duas amigas: uma queixava-se do dia de Natal em casa dos sogros. Castro Laboreiro, numa aldeia, longe de tudo, segundo ela. Ouvi a descrição com a reserva mental de pensar que era exactamente o que me teria apetecido! A outra, mais próxima, contava que tinha estado em frente à televisão a ver um desses filmes românticos que falam das vidas dos casais. Sózinha no conforto morno de um lar quente, tinha-se deixado chorar. Que bom! Deixar-se chorar com o filme, sem ter que controlar as lágrimas doces...
Ainda não tive a sorte de chorar lágrimas doces neste natal!

Friday, December 28, 2007

Benazir Bhutto

Luto por Benazir Bhutto.
A morte assim mitifica ainda mais a personagem: mulher, prémio nobel, exilada, política, assassinada.
Fiquemos com o mito e glorifiquemos a mulher.

Thursday, December 27, 2007

Monday, December 24, 2007

A nossa história de Natal

De malas e mentes prontas para rumarmos a Viana para passar o Natal com o lado paterno da família dos meus filhos. O Natal estava já composto, imaginado.
Porém um telefonema aflito e atordoado de uma Avó à deriva decidiu a ida precoce. O Avô estava novamente internado no hospital. Ela estava muito confusa e não sabia bem o que se tinha passado. As compras de natal, o bulício, a obrigatoriedade de preparar a consoada em família e a solidão fizeram-na mingar, encolher perante a vida que jorra em catadupas a um ritmo que já não lhe é confortável.
No domingo, antevéspera de Natal sem projectos mas com um destino fixo, fomos a Viana - os quatro. Esperamos a hora da visita para reencontrar o Avô. Os três de cá de casa e a Avó, aqueles que partilham do seu sangue, foram vê-lo. A primeira foi a Joana, recebida por um espantado " Tu! O que fazes aqui?". No dizer deles o Avô está mais pequeno na cama do hospital. Ele vai passar o Natal no hospital.
A Avó recuperá-mo-la. Precisa de mimo, de muito mimo, dizem os netos. Vão buscá-la de tarde para o mesmo Natal, este no lado materno da família dos meus filhos.

Sunday, December 23, 2007

dia de inverno

Linhas rectas, constantes. Linhas quebradas, com pontos altos e pontos baixos, negativos e positivos. Linhas curvas ascendentes e descendentes... apenas linhas que se prolongam no infinito, se conjugam em troços, se encontram em pontos. Não fechadas e por isso não definem polígonos, não representam figuras. Apenas linhas muitas linhas sem cor. Só linhas.
Às vezes gostava de me expressar pelo desenho e pela pintura. As minhas ideias conformam-se em desenhos que vejo no espaço mas que não sou capaz de traduzir no papel ( ou simplesmente não tento). As minhas ideias e os meus pensamentos são essencialmente gráficos.
Hoje esteve um dia de sol óptimo e o Porto ofereceu-se aos meus passos, horas de passos que comeram lentamente distâncias, pararam, entraram, viram, falaram... em muito boa companhia.
Passeio fora dos tradicionais locais de compras de Natal, do Campo Alegre a Massarelos, pelos caminhos do romântico, de Massarelos ao Infante, ao Largo de São Domingos, Rua das Flores, Clérigos, Carmelitas, Carregal, Palácio, D. Pedro V e novamente ao Campo Alegre.
Com o declinar do dia encontrei Handel na Casa da Música, Messias em concerto do Natal.

Thursday, December 20, 2007

Muito bem feito

Embora tenha a sensação que ninguém me liga nenhuma aqui continuo.
Talvez seja a azafama do Natal que ilude vontades e atira as pessoas para histeria colectiva. Todos os anos, ou talvez apenas nos mais recentes, tento fugir-lhe e encontrar um modo calmo de fazer as necessárias compras ou recomposições de prendas que criam o colo para bem estar na quadra... sem ser mal entendida pelos que realmente me são queridos. Estive cinco dias de férias: passeei pelas lojas ( nunca em centros comerciais gigantes), fui ao cinema, fui a Aveiro, li na cama de manhã, fiz sudokus, transportei meninos, fiz bolos, suspiros, salames, gozei os meus pais e os belíssimos cozinhados do meu irmão, fui ao yoga, conversei com amigos e hoje fui trabalhar para amanhã iniciar o fim de semana grande e festivo - muito bem feito.

Sunday, December 16, 2007

Estamos todos malucos?

Este mundo é muito estúpido e assustador. Se começarmos a desfiar a sucessiva lista de disparates o que apetece mesmo é enfiar-mo-nos num buraco. Só que já não há buracos que nos ponham a salvo.
Na CCDR andam a discutir medidas para melhorar a qualidade do ar. Uma delas será a de diminuir a emissão de gases provenientes da combustão de lareiras! Por um lado temos que diminuir a nossa dependência energética, temos que diminuir a dependência de energias não renováveis, temos que cumprir a regulamentação térmica, criam-se centrais de produção de biomassa e por outro proíbem ou desincentivam o aquecimento através da combustão de madeira ( será que não é o mesmo que a biomassa?). Querem taxar as lareiras domésticas e pedem às Câmaras Municipais para colaborarem nessa tarefa.
E tomem nota que este Plano de melhoria da qualidade do ar parece que é mesmo para ir para a frente!
Estamos todos malucos?

Saturday, December 15, 2007

Promessas Perigosas

" Quem és tu?" esta é a pergunta que Anna faz a Nokolai já perto do fim do filme e é também a pergunta a que tentamos responder durante todo o filme e depois... já cá fora.
Num filme em que Cronenberg nos surpreende pela "banalidade" do enredo, afinal uma história de máfia, tinha que ficar esta ponta por desvendar: mas afinal quem és tu? És bom, és mau, és julgador, és conivente, és um anjo ou és demónio? Quando tudo parecia ser claro, Nikolai surge sentado no restaurante, sem outras personagens, no lugar do antigo "padrinho" que entretanto supomos foi preso. O motorista, que se tinha infiltrado na máfia para a desvendar e destruir, que ganhou o estatuto de "filho" para ser imolado, aparece sózinho no quadro do poder e capaz de tudo, tão inexpressivo é o seu olhar.
Para além de tudo o mais um filme na tradição do bom cinema clássico, uma atmosfera pesada e redonda onde o conforto e o luxo nos fazem admitir o maquiavélico: o poder do luxo, do negro, do vício: o poder do poder.
Uma boa escolha em dia de aniversário.

Promessas Perigosas de David Cronenberg com Vigo Mortensen; Naomi Wats; Armin Mueller-Stahl

Friday, December 14, 2007

No dia do meu aniversário

O dia do meu aniversário é um dia para o meu egoísmo, para os meus prazeres: cinema, ler, ouvir música, amigos a que junto a este ano também uma aula de yoga!

Wednesday, December 12, 2007

Manoel de Oliveira

" Sabe que um artista tende a duas coisas: à perfeição e ao absoluto. Não param de fazer filmes. Por isso o Fellini diz que é um vicioso, porque nunca chegou à perfeição nem nunca chegou ao absoluto. É o que acontece com os outros. Continuam a fazer filmes, filmes, filmes, na esperança de tocar estes dois pontos."
Saudável lucidez de um homem de 99 anos em entrevista ao Expresso!
Manoel de Oliveira, muitos parabéns e muitos anos de vida.

Tuesday, December 11, 2007

Academia Bizantina e Andreas Scholl

Após uma correria, ainda assim controlada e não muito stressante, aterrei na Casa da Música para ouvir a Academia Bizantina e Andreas Scholl. Não me apetece falar muito do que ouvi, apenas direi que gostei muito. Quando assim é as palavras são escassas para descrever o sorriso pacífico que compõe os olhares e os silêncios à saída. Fiquei "compostinha" como costumo dizer, muito compostinha.
Mas apetece-me falar no programa. Gosto de programas assim, coesos e coerentes: um projecto, um autor, vários interpretes que são também autores do projecto. Um concerto com princípio meio e fim, onde nada mais cabe para além daquilo que foi e onde os extras só podem ser repetições de alguma parte do que já foi feito. Assim foi para nosso contentamento.

Saturday, December 08, 2007

Trabalha, joana, vá, trabalha.


estudo (?) de icons para o portfolio

Quarto novo, casa com amigos



múúúdar é muito bom, é muito bom!

Unicornio

Friday, December 07, 2007

marcas do tempo

Aproxima-se o Natal a passos largos.
O ano passado, como adulta que sou, quase me esqueci da quadra. Fui duramente criticada pelos meus filhos. De um modo egoísta esqueci-me que eles precisam do Natal, do ambiente, das prendas, ainda que simbólicas. O Natal é também um símbolo que nos agarra à vida e aos outros. Que independentemente e para além das regras e do incentivo ao consumo tem outros significados e liberta da nossa mente sentimentos louváveis: solidariedade, comunhão, intensidade de sentimentos, que fazem falta na composição da história das nossas vidas.
No próximo fim de semana enfeitaremos a casa em conjunto para darmos início a uma quadra festiva, criando memórias que se perpetuarão para além das nossas perenes vidas.

Tuesday, December 04, 2007

Quim

O Quinzinho morreu. O Quim fez parte da nossa vida. Crescemos com ele, brincamos com ele. Era mais velho que eu doze anos, mas como o seu desenvolvimento mental parou no tempo, quando eu tinha seis, sete, oito, dez anos, brincava com ele e com os meus irmãos: os únicos primos que ele tinha da “mesma idade”. Tinha uma mala de couro com peças de madeira de cores que faziam as nossas delícias. Montávamos cidades na saleta, da casa de Serpa Pinto, e passávamos a tarde inteira a brincar. Mais tarde era o gira-discos que nos encantava, de “baquelite”, e os “singles" coloridos da Madalena Iglésias, Gioliola Cinquetti, Eduardo Nascimento ou do Rui de Mascarenhas. Tinha televisão, sabia os nomes dos jogadores de futebol de todas as equipas, as datas de aniversário de meio mundo e escrevia páginas inteiras de nomes em cadernos exaustivamente preenchidos.

O Quim aprendeu a ler, a escrever e tocava piano. Lembro-me de ir ver uma actuação dele à escola de música “Parnaso” que foi um acontecimento.

O Quim foi uma dádiva nas nossas vidas. Dizia a Joana ontem que a morte dele a tinha apanhado desprevenida, porque o Quim não tinha idade, estava parado no tempo.