Saturday, January 28, 2006

um bom conselho

“ …Lembro-me de um conselho de Colette ao jovem Georges Simenon: “ Agora tire-lhe essa poesia toda”.
Um bom conselho. Um escritor nasce no momento em que a sua verdadeira voz de autoridade se funde em fogo vivo com o tema que ele nasceu para contar. A literatura retira-se e o que resta é a crónica da vida – a vida crua, que pulsa: “ Um escarro na cara da Arte”.
A verdade é esta: cada geração, cada escritor, tem de redescobrir a natureza. As convenções literárias tendem a esclerosar-se com o tempo, e o que antes era novo já é velho. Só a coragem de uma voz nova pode redescobrir a vida real enterrada sobre décadas de pó literário.”

Erica Yong, Maio de 1991, in Abetura de “Crazy Coock” de Henry Miller, Colecção Nova Ficção; Puma Editora

Erica Yong reflecte sobre a impossibilidade de ser artista na América. América que rejeita os sonhadores e onde a pobreza “é uma ofensa moral, uma infâmia que a sociedade não pode perdoar”, atitude que segundo ela se funda no “puritanismo e na puritana suposição de que sonhar e imaginar são actividades suspeitas”. Ao contrário a Europa, no caso concrecto a França, a condição de artista e de escritor pode viver-se de cabeça erguida. “ Em Paris era ponto assente (ainda hoje o é) que um escritor precisa de tempo, de viver sem pressas, precisa de conversar, de solidão, de estímulo”.

The Greatest by Cat Power


Hoje entrei na fnac de forma descomprometida, depois de umas horas a ler e a escrever, no café. Entrei para ler uns poemas, que li e anotei, para ver uns livros de Design, para ouvir uns cds. Só para ver e não para comprar, que o mês foi duro e o saldo já se foi.
No entanto, foi com alguma timidez que me vi telefonar à mãe, perguntando-lhe se podia ‘estourar’ os últimos euros que me restavam, se ela me suportaria financeiramente até ao fim do mês, já que tinha, na mão, um dos melhores álbuns dos últimos tempos. Arrisquei-me mesmo a dizer 'anos', mas não disse.

A mestria de Chan Marshall (aka Cat Power) é sabida, o álbum anterior, You Are Free, não deixava espaço para dúvidas, com canções como Good Woman ou He War. As letras sempre bem desenhadas (Sim, sou apanhada por letras de música! E aquela Good Woman salvou-me a vida em Julho.), a guitarra e o piano. Aqui, The Greatest, a receita não é diferente, mas o disco é mais luminoso, com mais arranjos, menos da sala ou do quarto e mais do estúdio. Não deixa, no entanto, de ser intimista, Where is my love (aliás a mais bela faixa do disco, na minha opinião) é a prova mais concreta disso. The Greatest conquistou-me desde a primeira audição, já o ouvi no metro, no quarto e na sala, cabe em todos os espaços. A voz de Chan é áspera e agreste e ao mesmo tempo doce. A capa é brutalmente pop e brutalmente bem desenhada. Dos cds mais bonitos que tenho, de fora para dentro. E eu não sei que dizer para além de ‘adoro-o, adoro-o, adoro-o’. Ouçam-no, caramba!

Gineceu

Desculpem a intimidade. Desculpem o desafio. Desculpem a provocação.
Hoje teria muito, muito para desenrolar neste blog, ou noutros lugares. A Joana está em casa e regressamos aos nossos maravilhosos jantares.
Vou falar sobre o gineceu. O lugar específico das mulheres: este ninho e este conforto de encostar a face e sentir cetim quente. De poder roçar os lábios sem sentir desejo, nada que importune a doçura de gostar. A sociedade está mal organizada, ou, este não é o modo melhor de a organizar. O meu sonho sempre foi uma casa de mulheres. De cuidadoras, de trabalhadoras, de pensadoras, de independência e de respeito. E isso consegue-se muito melhor entre pessoas do mesmo sexo ( desculpem!) ou então, entre as quais as orientações sexuais são idênticas. Adoramos os homens, desejamos os homens, gostamos de conversar sobre eles, sobre o corpo deles, sobre aquilo que nele nos provoca, mas… nunca pode existir um lugar doce, gratificante e reconfortante como este: o gineceu. Eles que venham de vez em quando, inquietar este mundo, reconstruir matéria, geradora da energia que conforta este lar. Que venham muitas vezes, mas que partam, sempre, para que vivamos integras a nossa intimidade.
A Joana apaixonou-se por um CD, discorrerá sobre ele neste blog. Desafio um homem a senti-lo como nós. Se o sentir, todo o meu discurso sobre o gineceu vai por água abaixo!
Nota: Os homens cá de casa estão: um a milhares de quilómetros e outro de fones nos ouvidos a ver o Telecine Premium.

Wednesday, January 25, 2006

José luís peixoto iii

Ontem procurei desesperadamente o livro. Hoje pus os óculos e encontrei…o livro.
Dentro dele mil palavras, dele para mim, outras agora.
Depois de ouvir José Luís Peixoto falar numa linguagem didáctica, para uma assistência invulgarmente jovem, a Joana confidenciou-me ( espero não cometer inconfidência) vazio. Reinterpretar e traduzir para a nossa linguagem, a incerteza da vida, o reverberar da nossa condição humana e solitária, a angústia de procurar na comunicação o conforto, a casa, a mãe, a terra e a finalidade, é difícil, quando o ambiente e a palavra são, apenas e só, a transição ou a ponte para o indizível. Por isso, para ti Joana e para todas(os) as Joanas transcrevo outro poema:

Vertigem
somos tão novos e estamos tão perdidos, o teu silêncio
dentro do grito das árvores, o meu silêncio sobre o
entardecer. seria feliz se pudesse dizer-te: vem,
vamos fugir de mãos dadas, amor.

José Luís Peixoto, A casa, A escuridão, Temas e Debates;

Tudo é possível. (dentro do livro está um marcador com um desenho de Eduardo Chillida, outro modo de viver a eternidade)

José Luís Peixoto ii.

mãe, eu sei que ainda guardas mil estrelas no teu colo.
eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são todas as estrelas que existem.
(José Luís Peixoto in A Casa, a Escuridão)

José Luís Peixoto

Há inigmas. Às vezes vivo tanto algumas coisas que elas passam a existir. Li um livro de poemas de José Luís Peixoto. Li poemas em voz alta para que outros os ouvissem também. Aquele sobre as estrelas, o outro, mínimo, sobre a mãe ... e agora procuro-o e não encontro o livro. Não está na minha base de dados. Tinha o livro? Li o livro? Dei o livro?
Amanhã ele estará em Santo Tirso e eu estarei lá, para além do livro.
“Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança, o desencanto.”
José Luís Peixoto; Antídoto; Temas e Debates

Monday, January 23, 2006

Eleições

Agora que o mundo vai pensar que nós somos um país de androides, a julgar pelo nosso representante máximo, que para além de querer que todos os portugueses sejam muito felizes, sabe comer bolo rei com a boca bem aberta, penso sucessivamente em fazer um programa extensivo de erasmus, de muitos anos. Ontem, foi mau, muito mau. Sem dramatizar, nestes próximos anos, não terei grande orgulho em ser portuguesa, infelizmente.

Sunday, January 22, 2006

Domingo de eleições

As eleições estiveram quase ausentes deste espaço. A não ser quando o extraterrestre anunciou a sua candidatura. Extraterrestre, andróide, Kanibal Tabaco Silva… Qualquer nome será bom demais para o provável futuro presidente.
Vamos sair para votar, todos contra Cavaco. Gostaríamos de ter uma surpresa.
A minha indecisão resolver-se-á lá, no cacifo de voto. Falta ainda saber se a pergunta “ Quem queres ter na segunda volta?” vai fazer algum sentido no momento. Votar em consciência também é difícil porque nenhum daqueles cinco homens me pode representar.
Saudades de Jorge Sampaio.

Friday, January 20, 2006

Swing

“O swing é um modo de vida, mais do que um modo de contornar o tempo. Quem me está a ouvir tem swing.”
José Duarte no programa Jazz com Brancas, antena 2.
Então eu tenho swing. Vá-se lá saber como e onde.

Wednesday, January 18, 2006

um bom sinal

“A pediatra socialista Michelle Bachelet venceu este domingo, com maioria absoluta, as eleições presidenciais do Chile tornando-se também a primeira mulher a ser eleita para o cargo naquele pais. O seu opositor, Sebastian Pinera, ficou a sete pontos de Bachelet.”

Já ontem queria fazer esta referência. Não tive oportunidade. Mas chega hoje e nunca tarde. Na europa do norte e do leste existem algumas mulheres nos cargos mais altos. Na europa do sul não. Comentávamos na mesa da cantina, se é por os homens serem machistas nas sociedades mediterrânicas. Concluíamos, na mesma mesa, que não são só os homens que são machistas as mulheres também o são, porque:
· Para nos impormos fazemos o papel de super mulheres: o do trabalho, o de casa, o de mães;
· Deixamos que os homens nos continuem a tratar como menores;
· Deixamos que os homens vivam plenamente as suas responsabilidades e ambições profissionais, continuando sempre a cobrir as suas retaguardas;
· Até achamos isso bem e natural: não somos iguais somos diferentes. Mas esta "diferença" mascara muitas sujeições.

Michelle Bachelet, veremos se um bom exemplo, ou se mais uma mulher/ homem. Não o creio, acho que vamos ter um bom exemplo.

Monday, January 16, 2006

Depoimento

Depoimento
Para uma aula na Escola Superior de Belas Artes do Porto (21.05.1980)

Eu sei, eu sei
sim eu sei. Sei-o agora e já há muito tempo o sabia.
Sim, sei, sei isso.
Mas eu sei isso e também sei o contrário.
E é tão difícil saber isso e saber o contrário.
Sim, eu sei
eu sei que a Terra terá cinco milhões de anos
eu sei que a Vida terá mil milhões de anos
eu sei que a “pequena” distância da Terra à Lua anda aproximadamente pelos 400 000 Kilómetros.
Eu sei, sim eu sei
eu sei que tenho apenas 56 anos de idade, 1,65m de alto e um passo de 70 centímetros.
Sim eu sei,
mas sei também
que a praia ficará diferente se eu lhe roubar um grão de areia
eu sei
que o mar não será o mesmo se eu lhe chorar uma lágrima
eu sei
que o Universo se altera quando respiro ou mesmo quando penso.
Sei, eu sei, eu sei que venho de longe e vou para longe
sei que não estou apenas aqui mas em muito lado, sei que não vivo “apenas” o tempo que vivo.
Sei que o infinitamente grande é tão infinito como o infinitamente pequeno.
Eu sei e sei mais e muito mais.
Sei que não sou excepção.
Sei que sou como todos os homens
os que nasceram e os que morreram
os que hão-de nascer para morrer.
Eu sei que entre mim e os outros há uma eterna e indissolúvel união.
E que os outros precisam de mim, tanto quanto eu deles necessito.
Eu sei que é este saber-mo-nos infinitamente grandes por sermos infinitamente pequenos que constitui
a paixão pela vida.
Eu sei, sim eu sei.
E é sobre esta Vida de paixão que tem sido a minha que vou falar.
Com ironia, com tristeza, por vezes com rancor, mas sempre, sempre com paixão.
Há anos pensei um pensamento para gravar numa porta que ofereci, simbolicamente, para a casa de uns amigos.
Esse pensamento pensava simplesmente: faz de cada um momento uma Vida.
Ofereci a porta mas não gravei o pensamento.
Gravei-o na memória e procuro praticá-lo no quotidiano.
E é essa paixão pela Vida que quero apaixonadamente transmitir. Porque não vive quem não mergulha permanentemente e apaixonadamente na paixão da Vida.
Eu sei, sim eu sei.
Eu sei.


Fernando Távora
Agenda da Câmara Municipal de Matosinhos uma homenagem ao arquitecto Fernando Távora, 2006

Saturday, January 14, 2006

excentricidade

Lembro-me recorrentemente de uma entrevista com Miguel de Sousa Tavares em que ele referenciava a sua mãe, Sophia, como um sopro de excentricidade que lhes alimentava a alma. Falava disso com amor e admiração, como se esse fosse o papel mais completo e pleno de uma mãe.
Conquistar o direito a uma vida própria e sedutora para os filhos, luz que abre caminhos não percorridos e não sabidos, para além de todas as tarefas quotidianas e socialmente correctas, é um desafio. Porta para uma identidade, que ultrapassa a meta única de ser mãe. Certeza de que a vida continua para além daqueles que realmente criamos através do acto biológico da procriação. Por isso rejeito visceralmente máximas que dizem “ Se não fizer mais nada já cumpri o meu dever” ao olhar para os meus filhos bonitos, inteligentes e justos.
O meu dever, o nosso dever é de todos os dias criarmos futuro, o Nosso, e termos como dizia João Ferrão, hoje, aqui e agora “Saudades do futuro”. “A vida é dura e mais dura é a razão que a sustém”.

Friday, January 13, 2006

Um excerto de Proust

... sobre esse estado, ou outro parecido com esse.

"De entre todos os modos de produção do amor, de entre todos os agentes de disseminação do mal sagrado, efectivamente este grande sopro de agitação que por vezes passa sobre nós é um dos mais eficazes. Então está a sorte lançada, o ser com quem nos recreamos em determinado momento é o que iremos amar. E nem sequer é preciso que nos tenha agradado até então mais ou tanto como outros. O que é necessário é que o nosso gosto por ele se torne exclusivo. E essa condição é realizada quando – nesse momento em que ele nos fez falta – a busca dos prazeres que o seu encanto nos dava foi bruscamente substituída em nós por uma necessidade ansiosa, que tem por objecto aquele mesmo ser, uma necessidade absurda, que as leis deste mundo tornam impossível de satisfazer e difícil de curar – a necessidade insensata e dolorosa de o possuir."

Em "Em busca do tempo perdido (Volume I) - Do lado de Swan", Pág. 245, Edição Relógio de Água

Thursday, January 12, 2006

Desculpas

A minha vida não anda facilitada: exames e projectos. Por isto, peço desculpa pela falta de actualizações. Prometo escrever sobre Nova Iorque, A Noiva Cadáver, de Tim Burton, e uns cds, mas por enquanto não contem com nada. Fora isso, estou apaixonada. E sabe bem, maior parte do tempo.

Monday, January 09, 2006

história e identidade

Alinhamento musical: Vivaldi, Arvo Pärte
Espaço: Uma sala aberta para o pátio/jardim
Tempo: Parado/suspenso
Contexto: Um almoço simples e um bom vinho
Conteúdo: Uma conversa sobre identidade
Causas próximas: a leitura de "Dimensão Oculta" de Edward T. Hall e viagem a Nova Iorque

Porque é que nós portugueses vivemos sempre a pedir desculpa, com um misto de complexo de inferioridade e de nostalgia do passado, da era dos descobrimentos?
Pergunto muitas vezes porque é que os programas de história no 4º ano, no 5º, no 6º, no 7º e no 8º anos do ensino básico (falta-me ver se no nono também), são sempre à volta dos descobrimentos? E sobre os descobrimentos, a perspectiva é sempre a de um povo empreendedor e conquistador?
Tenho para mim que o mais importante da nossa história dessa época, é a capacidade de aculturação, de perceber por dentro as civilizações que abordamos e de com elas nos misturarmos. Ao contrário dos espanhóis que impuseram pela violência o domínio da sua cultura, os portugueses, ficaram, estabeleceram laços, integraram. Mas essa é a perspectiva menos valorizada no ensino comum da história. Dá-mos sempre mais importância a um Afonso de Albuquerque, que na Índia dominou pela força.
Hoje Portugal acolhe povos de muitas origens, desde África, América do Sul, ao Leste Europeu. Não me parece contudo, que tenhamos hoje essa capacidade histórica, que outrora nos caracterizou, de saber aprender e integrar outras culturas. Ontem via na televisão uma reportagem sobre o Natal dos ucranianos, com manifestações de repercussão pública, que mais pareciam folclore do que vontade de apreender e aculturar. Mas esta capacidade de integrar exige uma consciência de identidade e de orgulho próprio que definitivamente não temos. Porque não temos consciência de povo, não sabemos de história, da nossa história e não nos reconhecemos. Estamos sempre mais preocupados com o vizinho do lado do que com o nosso lugar no mundo. Outro dia, Jorge Gaspar, dizia que não percebia porque é que o Porto queria rivalizar com Vigo, estando sempre preocupado com dominar o eixo atlântico, quando, como região, devia era preocupar-se com o seu lugar na Europa.
Esta reflexão decorre da viagem, não com o objectivo da fuga, mas como um modo de regresso, de retorno ao nosso interior, à nossa identidade.

Saturday, January 07, 2006

eternidade presente

Na nossa cultura ocidental somos escravos do tempo. Temos medo de não ter tempo. Fazemos programas para gerir o tempo. Vivemos o imediato e no imediato, sem perceber que tudo tem o seu tempo. “ Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje” porque temos que estar sempre preparados para a morte. Inventamos maneiras de matar o tempo. As parábolas bíblicas ensinam-nos que temos que estar vigilantes, como virgens de lamparinas acesas, porque o Senhor e o dia do juízo, podem chegar a qualquer hora. Ao contrário, a natureza ensina-nos que há um tempo linear e irreversível: tempo de preparar a terra, de semear e de colher.
Quando tudo se desenrola num tempo assustadoramente acelerado, como outro dia reflectia neste espaço, julgo que o nosso papel como educadores e como seres que querem estar vivos, é o de conquistar tempo ao tempo. Saber esperar, encontrar o momento oportuno para criar, para dizer, para dar, para ter, é o desafio que se põe. Resistir ao impulso de conquistar o tempo no momento, para que o momento transcenda o tempo e se torne eternidade presente.

Friday, January 06, 2006

Ressaca II

Como gosto das viagens nos dias seguintes. Como gosto de reviver lugares e sensações doutro modo, de cá para lá, no que ficou por cumprir e que agora revivo em memórias inventadas. Viajar é preciso. Refazê-lo é-me essencial.

Thursday, January 05, 2006

Ressaca

Da primeira vez que estive em New York vinha de Chicago. Ao longo destes cinco anos relembrei Chicago como “a cidade”, com boa arquitectura, organizada, calma e muito bonita. De New York guardei uma ideia indistinta, de mistura, de vida, de confusão.
A minha visão da cidade alterou-se nesta segunda visita. Esta alteração não se operou sobre a visão exterior que tinha da cidade: ela conquistou-me e como raras vezes tive pena de regressar. Estranho, porque quando cheguei senti desconforto e perguntei-me como é que eu vou aturar isto seis dias? Sinto que ficaram coisas por fazer mais do que por ver, porque Manhattan, sob ponto de vista do turista não é difícil de ver. A geometria e métrica das cidades americanas facilita a vida aos turistas, que percorrem por cima cada rua, cada avenida, cada loja, como que debicando sem saborear as diferenças de paladar.
Desta vez o Pedro fez um magnífico trabalho de compilação de lojas e espaços temáticos que eu completei com a definição de percursos que procuraram mostrar-lhes a cidade nas suas diferenças. A chuva e a neve não permitiram a conclusão do programa mas deram um gosto especial (sobretudo a neve no último dia do ano).
Como vou fazer para regressar a New York e: perder-me em Greenwich Vilage; sentar-me a ouvir no Blue Note; voltar ao Witney Museum; saborear o Harlem; experimentar as comidas coreanas, japonesas e turcas; jantar nos acolhedores restaurantes italianos da down town; e reconhecer a partir de dentro a história urbana da cidade?

Tuesday, January 03, 2006

2º prato


Madison Square Garden
(New York Knicks vs. Phoenix Suns)
2 de Janeiro de 2006

Sunday, January 01, 2006

impressões

É muito difícil falar de qualquer coisa quando estamos dentro dela. Se estes USA são muito diferentes dos que experimentei há cinco anos, julgo que não. Recordo apenas que não sinto a influência hispânica que senti em 2000.

Estando aqui agora uma ideia vêm-me sempre à cabeça: os extremos tocam-se. Uma cidade de altura e densidade e uma cidade de espaço. As distâncias são imensas e os vazios contam-se em milhares de passos que se desenrolam automaticamente avenidas fora. As pessoas amontoam-se e não nos olham nos olhos. Quando o fazem é para usarem um sorriso cínico de censura perante algum lapso interpretativo de quem não entende este “novo mundo”. A ostentação toca na miséria e ao mesmo tempo tudo se mistura.

Mas o que é certo é que os USA conquistaram o mundo, sobretudo para os mais novos. Aqui apercebi-me que as referências do Pedro são as da NBA, da NBC, ... e que tudo lhe é familiar. Sentem-se em casa na língua, nas referências, nos heróis, esperemos que não na cultura e na identidade.