Sunday, March 30, 2008

Fim de semana



Não era nada disto que tinha programado escrever. Mas depois de uma odisseia à procura de imagens de um passeio perdidas no computador, vísiveis em formato pequeno mas inacessíveis, perdi tuda a frescura e a paciência para mais. Uma pálida imagem de Melcões por entre os castanheiros despidos.

Thursday, March 27, 2008

Evocações

Antes de começar a trabalhar ( em verdade já comecei) gostaria de ligar três factos/pensamentos: a propósito da data de nascimento de Rostropovich ouvi a Sarabanda da suite nº 5 de Bach, que me fez lembrar Bergman e outra Sarabanda em tarde luminosa passada em Lisboa na primavera de 2005. Bergman e Rostropovich morreram o ano passado.
Antes ouvira o delicioso assobio de Andreas Scholl. Já me tinham dito que ele assobiava, mas eu ainda não tinha ouvido.

Sunday, March 23, 2008

Igreja de Santa Maria




O domingo de Páscoa terminou no Marco. A porta da Igreja de Santa Maria abriu-se para deixar entrar um rasgo de crepúsculo na nave. As cruzes do compasso recolhiam. Dentro a parede grávida recolheu-nos no seu conforto. Foi a primeira vez que assisti a um ofício nesta igreja. Hoje na companhia de arquitectos que fizeram a dupla experiência: crentes (ou não) celebraram a ressurreição e absorveram os múltiplos significados da obra. Cá fora alguns foguetes iluminaram a noite.

Páscoa


Páscoa... também à mesa.

Saturday, March 22, 2008

Ovos da Páscoa



Desde que me conheço são estes os nossos ovos da Páscoa. Nunca foram de chocolate, sempre foram ovos de gema e clara. Sempre foram tingidos desta cor, com cascas de cebola. Sempre os partimos nas cabeças uns dos outros. Eram só de uma cor, sem desenho, quando eram feitos pela R. e passaram a ter estas folhinhas quando a outra R. se lembrou, um dia, de lhes colar salsa à casca. E agora são assim. A nossa Páscoa, cá em casa e em casa dos avós, só faz sentido com estes ovos bonitos.

Frésias


Frésias. Flores que acompanham a Páscoa de cheiro intenso e fino. Há-as de várias cores: vermelhas, amarelas, liláses. As de casa dos meus pais são estas. Esta, por acaso já é de minha casa. Vieram num vaso que trazia outra planta e os bolbos das frésias também lá estavam. Depois ficaram e desdobraram-se. Agora já são alguns pés, não muitos.
São as que eu mais gosto, pequenas, delicadas de desenho, mas fortes e resistentes ao tempo, com um cheiro intensíssimo e cores suaves.

Friday, March 21, 2008

Dia Mundial da Poesia III


aqui: silêncio

Dia Mundial da Poesia II



... foi deste modo em Santo Tirso!
(Ouça-se um poema atrás da imagem, neste caso "Ode ao pão" de Pablo Neruda, dito por Mário Viegas.)

Dia mundial da poesia

A ausência de voz humana envolve os sons matinais e concebe o meio fértil para a colher a poesia.

Antes de ir passear a Santo Tirso, onde com ela se convive na rua, deixo este ofício (de poeta) de António Osório, este ano lá homenageado.

Ofício

Armazenar sofrimento.

Distribuí-lo depois
límpido.

António Osório; Casa das Sementes

Thursday, March 20, 2008

Jantar de aniversário


...e a ementa foi: sável frito acompanhado com açorda feita com as milharas do mesmo! Óptimo, sublime, discreto e distinto no "tradicionalmente"!
O bolo de laranja, feito pela neta mais velha, comparou-se-lhes.
Jantar para comemorar os belíssimos e argutos oitenta anos de uma das Avós.

Monday, March 17, 2008

A minha mãe


Não temos por hábito por fotografias nossas aqui. Esta já foi há muito tempo, já não somos assim. A minha mãe tem muitas estórias, como lembrar-se sempre da roupa que vestiu em determinados dias especiais, ou como se rir com certas palavras estúpidas, até como lhe darmos mimos e ela empurrar-nos subtilmente com o braço e virar-se para o outro lado. A minha mãe faz bolos nos dias seguintes a noites do piorio. A minha mãe ri-se das desgraças. A minha mãe só pensa na piscina e no ioga. Eu e o meu pai não temos mão nela. Às vezes, a minha mãe "empequenece", com uma toalha do banho na cabeça e a cara dorida, e eu não sei muito bem o que fazer. E eu gosto muito da minha mãe. E ela muito de mim.

Sunday, March 16, 2008

Domingo de Ramos

Chegou a máquina fotográfica e a primeira fotografia escolhida é a do "ramo" da minha afilhada - feito árvore no jardim.
Uma japoneira branca, árvore histórica, importada do oriente para os nossos jardins ocidentais.

Saturday, March 15, 2008

A maestrina

Regressei à Casa da Música para ver e ouvir a ONP interpretar com o Coro da Faculdade de Letras Bach e depois sozinha a 1ª Sinfonia de Mahler, dirigidos por Joana Carneiro.
Conhecia-lhe a cara de olhos grandes e expressivos, o cabelo liso e a sua fala viva - uma mulher muito interessante. Ontem vi uma maestrina enérgica, elegante que em cada gesto excedia o próprio gesto. Frente a uma orquestra imensa, de múltiplas cores e sons, ela impunha-se com a sua leveza e emotividade. Tudo ligava.
Será esta a diferença entre uma mulher e um homem a dirigir uma orquestra: Joana Carneiro entrega-se e eleva-se em movimentos redondos e precisos sem pesar no chão - é energia pura, feita "gente".
Com Bach, eterno, celebramos a eterna páscoa. De Mahler a recordação da infância quando reconheci uma das sinfonias preferidas do meu pai - muito onírica, muito colorida, muito saltitante e ao mesmo tempo com o lado sombrio e fúnebre que sempre acompanha o autor.
Gostei

Wednesday, March 12, 2008

Muros

Enquanto espero pela máquina fotográfica os meus olhos "fotografam" vezes sem conta... muros! Os muros e as árvores são a minha paixão. Conheço muitos, especificamente: aquela pedra, aquele desmoronar, aquela reconstrução: os de xisto, os de granito, os de granito e xisto, os rebocados: com remate côncavo, largos, pesados, mas de pedra solta: os que suportam condutas de água, os que têm aberturas, como janelas, ou ameias, os que são encimados por esteios que suportam ramadas, os que...
Quando tiver a máquina fotográfica, promoverei neste blog!

Sunday, March 09, 2008

Jardins & fotografias


A mãe estava a falar dos cantos do jardim: aquele lá em cima, encostado ao muro da casa do tio; este aqui no pátio, com azálias, tulipas e folhas de diospireiro. Estava a falar que é bom ter uma máquina para fotografar estas coisas. Eu disse que a máquina fotográfica é para se guardar as coisas boas do dia. As coisas boas do ano. As melhores coisas. Eu tenho uma máquina para isso. Maria, a tua vem a caminho. Entretanto, troca flores com a avó.

Saturday, March 08, 2008

No Country for old Men - Joel e Ethan Coen

Vamos lá fazer o exercício retrospectivo que me faz encontrar o sentido de alguma coisa. Neste caso de “No country for old men”. Saí de lá completamente vazia. Sem saber o que pensar: um filme inverosímil – não é possível matar assim sem ser apanhado e sem sequer ser perseguido !-, um filme sem moral e sem lei, sem justiça, em que a sequência fria das mortes vai dolorosamente perdendo significado. Um bom filme, excelentes imagens, excelentes sequências, um western actual, um road movie. Pode tudo fazer sentido, mas para quem não é um profissional do métier, dispensável, prescindível. Não me parece que tenha ganho grande coisa com esta ida ao cinema.

mal estar

A mega manifestação dos professores provoca desconforto. Independentemente de qual o lado da razão, se é que ela existe, não posso deixar de me sentir insegura perante o que se antevê venha a ser esta manifestação.
O país está doente há já muito tempo. Um difuso mal estar -como reflectem com lucidez alguns. Mas sinto que não é apenas Portugal ( J. desafava sentado num banco de jardim em Madrid que os espanhóis são piores do que nós). Para onde fugir? Não há fuga possível a não ser dentro de nós e com aqueles que nos são próximos. Criar contra-poder, resistir, conta-minar viver o lado sério e bom da vida e simplesmente encontrar a paz a olhar para o sol que banha as árvores na proximidade da primavera.

Até sempre.



Porque ando nisto das mortes, na universidade. E porque isto é muito bem feito, apesar de custar imenso ver. E porque tem os arcade fire. E porque a optimus já não é o que era.

Thursday, March 06, 2008

comboios

O meu Avô, aquele gostava de relógios e tangerinas também gostava de comboios.

A casa, que se tornou dele quando casou com a minha Avó, é o “Paço da Marquesa” casa do séc. XVIII, que se foi transformando ao longo dos tempos e subdividindo em diversas fracções e funções: era na Rua Cimo de Vila e dava para as traseiras da estação de São Bento. O meu Avô sabia o horário dos comboios e ia frequentemente esperar a sua chegada à estação. Não ia esperar ninguém, ia simplesmente esperar o comboio e conversar com o chefe da estação e com o pessoal da CP. Aliando a paixão pelos relógios e pelas horas certas à dos comboios, determinava exactamente cada atraso na chegada.

As viagens para a Lamego eram feitas, até à Régua, de comboio. Obrigava a comitiva a estar na estação com meia hora de antecedência, para proceder calmamente à arrumação dos “volumes”: pacotes contados, para não se perder nenhum na viagem. Nestes contavam-se pelo menos um gato e um canário. Como seria de esperar há imensas peripécias à volta do transporte destes animais, que enjoavam, caíam da prateleira, mas sobreviviam sempre às quatro horas em trânsito. O meu Avô gabava-se de uma vez ter feito atrasar a saída do comboio, não por sua causa, mas porque esperava uma encomenda que se atrasou por qualquer razão circunstancial.

Havia também aquela figura dos carregadores, que transportavam as malas e tinham um número que os identificava: na Régua o arrumador da família era o 4.

Estas viagens duraram muitos anos, desde que o meu pai e as irmãs eram ainda filhos até às últimas já feitas com os netos: nós, os quatro irmãos e os meus primos.

Tuesday, March 04, 2008

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"Foi um momento funesto, porque na dobra não reside só o segredo do nosso destino, das forças que nos reduzem a pó sem nosso consentimento; aí reside igualmente o segredo da nossa origem , das forças que nos puseram em movimento, e nos dotaram para a acção. O homem foi lançado para sonhar esse destino e continuar o sonho da espécie viva. Mas acontece que o Filho do Homem não acreditou integralmente no seu sonho. Revelou-se incapaz de lhe dar corpo ao ponto de este poder integrar fisicamente também a espécie viva."
MGL, Finita
"Em toda a forma há vida e movimento, compreensão e projecto, percepção e sensibilidade."idem
Com as suas palavras vivo o meu luto hoje - nela... talvez que reencontre na dobra do destino o sentido do projecto vivo.

Monday, March 03, 2008

Maria Gabriela Llansol

Entrei no carro à uma da tarde e ouvi a notícia da sua morte. Disse alto "Oh!" quem ouviu não entendeu. Todo o dia vagueei, como peixe fora da água, talvez porque, pelas (t)suas mãos, me tenha sido aberto outro mundo, onde eu ando às vezes, mesmo parecendo que ando por cá.
Far-me-á falta ... fica a sua palavra.

Sunday, March 02, 2008

voltas de um texto

Hoje ao almoço, na mesa familiar, a minha mãe contou que tinha ido à loja - designação que dávamos à Casa Coração de Jesus onde o meu Avó passou a sua vida - e que a minha prima lhe mostrou um texto que tinha tirado da internet sobre o meu Avô: sobre a sua predilecção por relógios. Dizia a minha mãe: "Acho que foi escrito pelo Leonel", o primogénito dos netos a quem, ainda hoje, se atribuem múltiplas virtudes. Desliguei. Agora à noite, vinha para casa a pé e tive um lampejo de memória: acho que fui eu que escrevi aquilo. Cheguei e procurei aqui: o texto apareceu sob o título: os relógios do Avô.
O mundo dá voltas e o texto também andou a voltear até chegar às mãos da minha mãe na loja do Avô.

Juno de Jason Reitman

O que achei interessante no filme: como um tema que é pesado, complicado (haja em vista as polémicas e fricções geradas à volta da lei do aborto) é tratado de uma forma tão "leve" - completamente fora da convenção. Às vezes parece que tudo vai resvalar para a convencionalidade, que a história se vai transformar e haverá bons e maus, bonitos e feios, amores e paixões extraordinárias, madrastas megeras, pais fechados, filhos incompreendidos, maternidades difíceis.
Mas é por dentro de uma jovialidade permanente, de um bom humor discreto que somos transportados suavemente nesta história e postos à prova nas nossas próprias convenções.
Resta-me uma dúvida: quais os efeitos do filme na geração retratada? Será que eles percebem a subtileza do discurso sem se desresponsabilizarem?