Saturday, July 29, 2006

sudoku

Quando li no domingo o meu horóscopo na Pública, para esta semana, supus que estaria em alta, pelo menos era assim que ele predizia. Como também já aqui disse, o melhor é ler só um, porque normalmente os outros são contraditórios. Estava por isso confiante para construir uma semana plena.
Trabalhei muito, perdi metade dos ficheiros do meu computador, deixei o meu cartão multibanco ser engolido pela máquina e ser remetido para Lisboa, tive dores de cabeça…e fiz muitos sudoku’s.
A questão dos ficheiros é a que mais me preocupa. O trabalho da Cultour, perdi-o todo. A base de dados que construí durante dois anos, a partir das publicações correntes dos jornais sobre obras de arquitectura portuguesa contemporânea, foi ao ar. É irrecuperável porque não a gravei noutro sítio e porque os jornais e revistas, donde retirei os dados, estão em sítios diferentes e muitos não são meus. Terei que começar de novo a partir do quase zero.
Os sudoku’s são, para mim, uma terapia. Quando chego exausta à noite, com a cabeça cheia de pensamentos, tão confusa que nem consigo concentrar-me para ler ou estudar, este exercício abstracto obriga a concentrar-me e ordena-me o pensamento. Por isso, para além de todas as vantagens que lhes atribuem (para combater senilidade, alzeimer, ou qualquer outra doença ou preguiça) são um excelente anti-stress. Números, só números, sequências ordenadas de números obtidos por raciocínios dedutivos, não me deixam margens a quaisquer devaneios filosóficos ou emocionais, que não sejam os da beleza dos símbolos ordenados ou da certeza de vencer simples desafios.
E depois, as matrizes desenhadas a duas cores, ou rabiscadas e corrigidas com o mesmo material, assumem no fim um aspecto tão gráfico ou pictórico, que me apetece encaixilhá-los.

Thursday, July 27, 2006

em jeito de balanço

Apetece-me falar de uma questão mais prosaica e que perpassa este ano de blog. Sim porque inauguramos este espaço em 5 de Agosto de 2005.

Deve haver muitas teorias sobre blogs. Às vezes ouço algumas, mas nunca me detive muito a pensar sobre elas. Ainda sem fazer teoria e sem precisar o conceito deste espaço, (relembro o primeiro post), gostava que ele tivesse sido mais um lugar de debate livre. Sem preconceitos e sem pretensões. Mais dialogante. Gosto de ler opiniões, de ser levada para lados que não vislumbro quando escrevo, sempre despretensiosamente. Para medir palavras e pensamentos, já basta o trabalho, a família alargada ( porque em casa somos uns despudorados) ou a sociedade, ou a Cultour,...

Apesar de os comentários não serem muitos, têm sido como eu gosto. Às vezes leio outros blogs, com dezenas de comentários preguiçosos, que não acrescentam nada à ideia... aqui tem havido espaço para muitas ideias.

Por isso não me incomoda o anonimato dos comentários. Acho que cada um deve ser livre de escolher ou não o anonimato. Acho que cada um deve escolher ser anônimo às vezes e outras não. Ou seja, algumas vezes o anonimato justifica-se, outras é hábito. Como também gosto que aqui uma mesma pessoa possa ser, conforme o dia, a hora ou o tema, um diferente personagem. Construí-lo ( ao personagem) , para além daquilo que pensamos que somos ( agora na linha dos comentários ao anterior post), é também um modo de nos configurarmos e encontrarmo-nos a nós próprios.

Espero a minha companheira de edição para o balanço sério do primeiro ano.

Espero os vossos comentários, dos muitos leitores (julgo), que aqui gostam de se passear...

Anónimos...ou não.

Tuesday, July 25, 2006

e agora...

Escrever sem teia.
Assim me apetece, hoje. Como jazz, que ouço. Sem teia, sem tema. Discorrendo nas ideias. É para isto que me serve este blog. Assim o entendam: sem ser diário, o que se me apraz no dia – cheio ou vazio, de trabalho – de trabalho e… daquilo que no trabalho flutua entre… dispersão, concentração. Improviso.
Sou, aquilo que os outros fazem de mim – pelo modo como me interpelam e definem ser. Sou só, solitária, porque muito em interacção (palavra da moda que faço o possível por não usar – moda – faço o possível por não ser moderna, por ser apenas).
Estar aberta, ou carente, sempre à espera de uma outra leitura, de um outro desejo, de uma outra vontade de interferir, de interpelar, de criticar.
Estar à espera, ser terra pronta para sementeira, negra e fértil, húmus repleto de vida, de outras vidas…
Que já fui, que não sei… não lembro, apenas em “déjà vue”s instantâneos ou em momentos de intensa comunicação que me fazem pensar, que antes deste “mim” que conheço outro foi.
Este espaço, depois do jantar, que fiz, e antes do trabalho, que se prolongará, …
Este espaço é bom porque se povoa, coloniza e fertiliza.
Um dia revelarei a palavra passe de entrada neste blog e muita coisa se perceberá…
... e não tenham medo, porque nada do que aqui se diz, viola intimidade, essa, puro conceito cultural, está para mim muito longe deste espaço e tem inevitávelmente e obrigatoriamente uma dimensão de pura liberdade.
... lia ontem uma crónica no Expresso em que ( não me apetece agora procurar o nome) dizia ( não sei se dizia, mas assim fiz minha a ideia), Woddy Allen era um magnífico actor, porque se representa a si próprio...

Monday, July 24, 2006

Concerto para violino

Concerto em Ré maior para violino e Orquestra de Bethoven- opus 61
Este concerto faz parte da minha relação/revelação da música. O meu pai tinha-o, suponho em vinil e eu sempre julguei que também o tinha, já em CD.
Mas não, não faz parte da minha discoteca, embora faça parte da minha vida.
Hoje, quando entrei no carro, após um dos semanais almoços familiares, encontrei-o na Antena 2.
Gozei-o no carro, em casa, no quarto, deitada sobre a cama no silêncio da tarde de domingo.
É bom ter condições para poder gozar a música. É bom poder senti-la assim. Agradeço a quem dá espaço ao meu silêncio. Agradeço a quem me ajudou a sentir a música.

Sunday, July 23, 2006

ciência subjectiva

“No entanto, em tudo o que examinei, a natureza subjectiva da pesquisa científica era evidente. Por exemplo, até há pouco tempo, as fêmeas de muitas espécies eram tidas como monógamas, preferindo acasalar-se com apenas um macho. Sabe-se agora que esta teoria está errada – as fêmeas da maioria das espécies são polígamas, optando por acasalar-se com vários machos. Na realidade, a ideia de a fêmea ser monógama era uma noção científica resultante de uma ideologia, não dos factos. A ideologia, neste caso, era a noção ultrapassada de que as fêmeas não conseguiriam e não deveriam sentir desejo e prazer sexuais, como os machos podiam e conseguiam. A conclusão é que a ciência pode ser tão subjectiva como qualquer outra disciplina, e que, para entender as teorias científicas , deve examinar-se a cultura que as cria.”

Blackledge, Catherine; “A história da V”; Asa Editores, SA; Lua de papel; pág 14
Independentemente do facto, que dá muito que conjecturar, interessa-me aqui esta perspectiva de ciencia subjectiva. Até que ponto as descobertas e os avanços são condicionados pela cultura? E será legítimo que assim seja?

Friday, July 21, 2006

Sweet Intuition, Honey


E tumba, sempre consegui fazer o cd! Lá vai ele nos phones amanhã, a caminho de Melcões, e depois no carro e depois na sala. E eu e os amigos. Uma semana de amigos e de natureza. L., vai um cd para ti, pela mãe.

Thursday, July 20, 2006

trabalho de casa

Todos ( os da casa) comemos uma maçã da macieira. São brancas, suculentas e ácidas na medida certa.

Gosto de fazer o trabalho de casa. Bendita a hora em que subi aqueles degraus: em que algumas incompatibilidades, incompreensões ou mal-entendidos, me obrigaram a deixar problemas mesquinhos para trás. E, não só mesquinhos, também aquele trabalho quotidiano e desgastante que não se vê, mas que é o suporte de uma instituição. Não desvalorizo quem hoje o faz, porque sei o que custa e que sem ele nada do que hoje faço seria possível.

Gosto de ver mexer. De trabalho colectivo por um objectivo comum. Quando o objectivo ultrapassa o nosso “buraco” e se transforma numa peça de um projecto mais amplo, mais interessante se torna.

E é mesmo assim. Trabalhar em rede, paradigma presente e ausente da nossa tradição. É de facto a saída para Santo Tirso, para a região norte e quem sabe, para o país. Acredito que sim e por isso gosto de envolver-me e envolver outros nestes projectos com futuro. Gosto de perceber que todos começamos a acreditar que o futuro também passa por nós.

Obrigada a todos.

Wednesday, July 19, 2006

Cold Wind e o próximo.


alva noto & ryuichi sakamoto | aurora
william shatner | that’s me trying
the arcade fire | cold wind
sébastien tellier | fantino
timo maas | bad days
magnolia electric co | hold on magnolia
wintersleep | people talk
rocky votolato | white daisy passing
the arcade fire | haiti
télépopmusic | smile
madalay | please
hooverphonic | renaissance affair
my latest novel | the reputation of ross francis
phoenix | long distance call
lali puna | micronomic
broadcast | come on let’s go
nouvelle vague | wishing (if I had a photograph of you)

Poucas coisas me dão mais prazer do que preparar um cd de música. Escolhê-las, com os ouvidos, encaixá-las, umas na outras, para que tudo flutue. Para que não se dê pelo mudar de canção. E fazer as capas, ainda que a preto e branco (poupança, recursos, etc.). Este é o mais recente, com estas canções. Um novo vem aí. Estou feliz comigo.

Tuesday, July 18, 2006

Macieira


Gosto de árvores. Quando vim morar para aqui os dois mil e quinhentos metros quadrados de área, que mantemos em comum, estavam semi-despidos. As necessidades de implantação de três casas e a vontade do arquitecto, pouparam três carvalhos americanos, um acer pseudo-plátano e três pinheiros. Destes, um caiu com as intempéries de 2001 e outro foi deitado abaixo por razões de segurança. Eram aparentemente feios. Três pêlos altos espetados no relvado, que para nós davam alma às casas. Ficaram os troncos, onde a Joana inscreveu o nome de Alberto Carneiro, num hapenning de fim-de-semana, destinado a um trabalho escolar. Os troncos servem ainda de baliza aos estafados jogos de futebol dos meninos (e às vezes dos adultos, feitos meninos). As minhas prendas de anos, oferecidas e pedidas ao meu irmão “lavrador”, outro dos habitantes deste paraíso, são árvores e arbustos, entre os quais se conta a dita macieira.
Tem talvez sete anos e dá maçãs bichadas e raiadas de vermelho. Têm que ser colhidas cedo para não ficarem farinhentas. A macieira cresceu e, por mais que me estenda, já não consigo apanhar metade das maçãs. Lembram-me outras macieiras da minha infância que nada têm a ver com as golden, grayam smith ou pink lady que se compram no supermercado. Eram as maçãs de São João de casa dos meus pais, também raiadas de vermelho, as bravo de esmolfe da vinha do avô e as do Costa. O Costa era uma macieira, também da vinha do Avô. Lá em cima, em Lamego, as maçãs eram chamadas de “peros”. Ao fim da tarde íamos de cesto apanhar as que caiam ao chão para cozer para o jantar. Faço o mesmo com as maçãs da minha macieira, cozo-as. Gostamos delas sem açúcar e com canela.

Sunday, July 16, 2006

Pescar luz caída

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda

Laurie Anderson e Songs and Stories


Laurie Anderson é uma contadora de estórias. E não digo apenas uma contadora de estórias. Quem sabe contar estórias, inventar estórias, torná-las reais, é um ser superior, talvez um patamar próximo de Deus ou das nuvens do céu. Laurie Anderson é uma contadora de estórias e talvez o público devesse sabê-lo, quando compra os bilhetes para as perfomances. E digo performances e não concertos. E talvez ela devesse sabê -lo e deixar-se de cantorias.
Song and stories
, o seu último espetáculo (que tive o prazer de ver na casa da música, no passado dia 13, vinte lugares afastada da Raquel e, ainda assim, com ela) é delicado e delicioso, mas longe da simplicidade perfeita da perfomance anterior (que eu e a mãe vimos no teatro s. João), The End of the Moon. As canções são bonitas e as estórias lindíssimas. Ela, ao falar, enche o palco, como sempre. Só precisava dela. Dela e das estórias dela. E nada mais. Tudo o resto é adorno: não é necessário o cantar, a projecção de imagens e até os outros instrumentos. O violino dela, esse chegava. Em suma, queria um s.joão dois, mas, ainda assim, tive um espectáculo excelente.
De realçar é a história dos pássaros e do tocador de flauta. São poesia. Mas o público, nem o mais culto, é educado para a beleza e para a sensibilidade. E eu tenho pena e, a mim, dói-me que nem toda a gente saiba abrir a boca de surpresa e abane a cabeça por não suportar tamanha beleza. Mas nós conseguimos, não é? Eles não.

Friday, July 14, 2006

outras férias

Ainda não são as outras férias. O ritmo continua intenso, à parte alguma descompressão conquistada às férias dos outros.

Para mim as férias também são isto. Lembro muitas vezes Vasco Graça Moura numa entrevista em que dizia que neste tempo de férias instituídas, para os outros, ele gostava de ficar em casa. Os outros arrumam-se de armas e bagagens dentro dos carros e rumam a praias, a filas de gente e de carros, a falta de água, a esperas em aeroportos, a programas à medida que devem ser respeitados ao minuto, a madrugares violentos para ver algum tesouro da humanidade, a.... Nós às vezes também somos os outros.

Mas as férias de que eu gosto neste tempo de férias são as que gozo por entre o tempo de trabalho e são os dias que consigo passar em casa ( sem empregada). São os dias longos de Verão, que podem começar num livro até que deixe de apetecer ler ou o ler se desenrole num sono retemperante. São uma ida à praia no norte, com água fria e um banho que nos deixa o corpo rijo e energético. São os amigos que vêm sem hora para um tempo sem horas.

As férias dos outros gozo-as agora. As minhas férias em casa começarão daqui a um mês e meio.

Por isso dolce podes vir quando quiseres, que tu, como outros assim dolce, são sempre bem vindos.

Thursday, July 13, 2006

confissões de uma leiga

Como previsto ontem fui ao Coliseu. Dispus-me para isso e ainda que sem companhia, desperdiçando um bilhete oferecido, entrei numa sala vazia (pelas minhas contagens estariam trezentas pessoas). Mais do que do concerto, gostei da atmosfera. A orquestra, de jovens tocou na plateia. Os músicos, quando não tocavam a obra que se ouvia, vinham sentar-se ao nosso lado e aplaudiam efusivamente os seus colegas.
A Suite Tenente Kijé de Prokofief, não conhecia. Música de filme, adaptada depois a suite, assentava exactamente na juventude da orquestra. Gostei bastante, pela particularidade da forma e da alegria nostálgica, tão russa e tão nossa.
O concerto para clarinete de Mozart, que ouvi pela segunda vez na mesma semana, foi muito diferente do que ouvi dirigido e tocado por António Saiote. Gostei mais do primeiro, onde António Saiote demonstrou experiência e sensibilidade, quando ontem sobressaía exaltação e força.
A sinfonia n.º 5 de Schostakovitch, que conheço da interpretação que tenho pela Filarmónica de Viena dirigida por Mariss Jansons, desiludiu-me um pouco. Aos meus ouvidos de leiga, algumas coisas não bateram certo e a comunhão entre as cordas e os metais não foi, como esperava, plena. Também as cordas quando tocam sozinhas na atmosfera intimista que em crescendo nos permitem elevar até aos clímaxes que se sucedem ao longo de toda a obra perdiam afinação, sobretudo nas partes que antecedem a entrada dos outros instrumentos.
Mas soube-me muito bem, quanto mais não seja quando hoje escrevo ao som da interpretação que possuo.

Concerto pela Orquestra Juvenil de Sindney, 11 de Julho, Coliseu do Porto

Tuesday, July 11, 2006

coincidências

Há coincidências nos dias bons.
Ouvi pouco rádio. Mas de manhã apanhei novamente o 2º andamento do concerto em sol de Ravel e a seguir Fratres de Arvo Pärt.
Consegui um bilhete para ouvir amanhã no Coliseu a 5ª sinfonia de Schostakocich …e depois, quando regressei às 20 horas, liguei novamente a antena 2 e lá estava Keith Jarret. Não conheço o concerto. Tenho que esperar pelo fim para saber o que é. Mas que é ele, não há dúvida, ouço-o gemer.

Sunday, July 09, 2006

projector de slides

O meu projector de slides demora algum tempo a focar. Anda à procura da distância exacta, para trás e para a frente e depois, na maioria das vezes foca. Às vezes não. Quando isso acontece temos que rodar manualmente a lente até conseguir que a imagem fique nítida.
Este esforço de focar em função do objecto é um trabalho de todos os dias. Também nas relações humanas. É necessário encontrar exactamente o ponto de focagem da relação que mantemos com outra pessoa e adaptarmos a nossa lente à especificidade da imagem. Às vezes essa focagem não é automática porque a relação não é intuitiva. Essa focagem manual obriga a uma descodificação e a um esforço minucioso porque implica perceber sistemas, histórias, culturas, posturas, defesas, até encontrar o ambiente certo para a comunicação.
Por vezes a tendência é descartar, dizer não me interessa, não me diz nada. A experiência diz-me que não é assim. Para ultrapassar a barreira do relacionamento socialmente correcto e conseguir, mesmo com aqueles que às vezes julgamos que nada têm para nos dizer, ouvir e interpelar, temos que deixar de fora muitas coisas, na imagem de fundo desfocada, para apenas nos concentramos no dito foco que nos põe no universo comum. E existe sempre um universo comum.
Ouvia ou lia uma frase não sei onde que me interpelou: “ Se a Europa não entende o Islão então o Islão conquista a Europa.”

Saturday, July 08, 2006

Quatro dias de férias

Quatro dias de férias significam:
- domínio do tempo
- descartar obrigações quotidianas
- trabalho, por gosto, sempre
- música, muita
- cinema
- filha, a minha filha
- saudades, do meu filho
- conversas, como a que ecoa
- exercício físico, castigar o corpo
-…muito mais…
Prometo escrever sobre:
1- O meu projector de slides
2- Outras férias
3- Macieira
4- Fumar mata
5- Felicidade
6- Imponderáveis
7- Conversas
8- Outras palavras
9- Convite


Não sei se a ordem será esta, mas tudo isto construiu a minha manhã…
Aquela que quero partilhar com os amigos.

filosofias

Parece-me que…
Acho que …
Julgo que…
É sempre assim connosco, e nunca: É.
Porque explicamos tudo com base na intuição e na subjectividade e nunca procuramos a verdadeira razão para o que acontece. Ficamo-nos pela preguiça do “eu acho que…”
No trabalho pergunto muitas vezes: porquê? Quero dados, quero factos, mas depois é difícil encontrá-los. Não temos o trabalho organizado para os obter e por isso não podemos contabilizar, medir, para inverter processos, para corrigir.
Ouvia hoje, numa entrevista a Desidério Murcho, que a razão deste comportamento português se deve também a não termos um comportamento filosófico, entendido não como saber da história da filosofia, nas construir ideias, inovar, perguntar, criticar.
Ouvia também dizer que os países mais avançados na ciência e na filosofia não têm esta disciplina, a filosofia, integrada nos curriculum escolares. Dá que pensar. Dá para entender que esta é uma questão cultural, que nos atravessa e marca.
Dá para perceber que esta atitude não está em mudança.

Wednesday, July 05, 2006

traduções

"No original “balls”que significa também “balas”, mas no contexto aponta para a acepção “plebeia” do termo, perdendo-se portanto na tradução – obrigada a optar – a indefinição do original. Durrel pretende algures que o autor tem o direito de escrever até aquilo que ele próprio não sabe o que quer dizer – o que não é agora o caso –, mas abusa desse direito criando extremas dificuldades ao tradutor que, nessas circunstâncias, se encontra impossibilitado de concretizar o dever de fidelidade ao pensamento – confuso, impreciso, inexistente… – do autor. São inúmeros os passos onde isso ocorre ao longo desta obra”.
Nota do tradutor em Monsieur ou o Princípe das Trevas de Lawrence Durrell
... porque independentemente da justeza da tradução, este livro, na segunda leitura que dele faço, me desiludiu no que se refere a gralhas tipográficas, ...
... porque, sempre me fazem imensa confusão as traduções. Como se pode traduzir na fidelidade à forma e ao conteúdo? Se ao conteúdo, uma boa tradução é obrigatoriamente fiel, à forma, julgo que será muito mais difícil. Como se traduz poesia? Quando ela é plena de recursos estilísticos e de duplos sentidos?
Esta é no entanto a contingência e a condição de quem gosta de ler e não consegue ler originais, de quem não domina línguas, de quem não domina todas as línguas... e mesmo que as conheça, não poderá perceber totalmente o conteúdo do que lê. Tantas são as matizes que derivam do contexto.

Tuesday, July 04, 2006

descontraidamente

Cá estou novamente.
Visito o blog, apenas o meu ou quase, porque não tenho tido tempo para outros vÔOs.
Gostei deste erro gráfico. Vou regressar ao ninho familiar para ver um documentário sobre a homosexualidade no reino animal.

Saturday, July 01, 2006

Escala


A escala é um conceito concreto que é de difícil domínio mas muito influente no modo como se vivenciam os espaços.
São muitas as vezes que olho para um desenho de um arquitecto, um desenho técnico ou uma ilustração, daquelas que agora estão na moda, e concluo que está fora de escala.
Uma casa é uma casa, tem portas janelas, cobertura, inclinada ou plana, envasamento ou não, mas tem que ter a escala de uma casa, para um agregado familiar de quatro ou cinco pessoas. Mesmo que tenha uma pessoa desenhada “à escala”, para dar a escala, muitas vezes não tem escala. Olho para o desenho e digo “ é um museu”, “ é um pavilhão desportivo”, “é uma casa das máquinas”,…
Quando pensamos em cidade o problema agudiza-se. Porque fomos formados para pensar objectos, para nos pensarmos no interior de objectos e o espaço aberto é ainda mais difícil de antever. Quem diz que uma árvore adulta, um carvalho por exemplo, pode ter vinte e cinco metros de altura? E vinte de largura? E qual é a dimensão do Terreiro do Paço? E qual altura dos edifícios que o ladeiam? E porque é que nos sentimos pessoas em Manhatham? Provavelmente mais humanos e mais confortáveis do que em Famalicão?
Saber ver… e depois perceber qual é a relação, qual é a interacção. Sentir e desmontar o sentir pelo estudo, encontrar a justificação geométrica, perceber a relação.
Em todos os tempos, desde a antiguidade clássica (ou talvez antes), passando pela idade média, pelo apelo clássico do renascimento, pelo novamente clássico do racionalismo ou mesmo do pós modernismo, quem leva a disciplina a sério precisa de estudar, precisa de regra, de módulo, de modulor
Não é possível fazer arquitectura e pensar urbanismo sem perceber o homem e a sua escala, sem estudar muito, história e cultura.