Fui rever Jorge Queirós. Na inauguração, por entre ritmos sociais, tinha ficado impressionada, no sentido literal do termo (desse dia ficara-me a dimensão dos desenhos, alguns com cerca de 1,50m por 1,00m e a quantidade).Por isso falei dessa impressão a alguns amigos e tinha que ir confirmar qual o tipo de impressão que me causara.
Os desenhos, muitos, que usam diversos materiais sobre suporte de papel, grafite, de diferentes durezas, pastel, lápis de cera, aguarela, guache, são a expressão incontida da mente. Um desenho compulsivo e impulsivo, pouco crítico -aqui entendida a crítica como censura mental, ou condicionamento mental, ou fidelidade a um conceito.
O desenho é a tradução exacta de um sonho, só. Sem medo, sem angústia, pouco voltado para nós, os que vamos ver, interpretar, julgar, criticar. Por isso pouco importam as incoerências, alguns tiques, alguns desequilíbrios, algumas infantilidades. Creio mesmo que o seu maior valor é a sua própria condição incoerente, paradoxal, contraditória – um conjunto inimaginável de histórias incontáveis de outro modo. E as histórias são muitas, as dele e as nossas.
E as histórias são outras, desdobram-se quando observadas a diferentes distâncias. Uma caixa de surpresas que abre o nosso imaginário.
Quem trabalha tanto, em tanta quantidade tem que ter muita disciplina. Mas essa disciplina não se traduz em processo mental e por isso não se traduz nos desenhos. Os desenhos são indisciplinados no seu conteúdo e disciplinados na sua forma.
Comentávamos entre nós: Como será este homem? Como será o seu ambiente e forma de trabalhar? Os homens concluem: tem que ser “direitinho”.
Centro de Arte Contemporânea de Serralves, até 1 de Julho