Monday, April 30, 2007

Jorge Queirós

Fui rever Jorge Queirós. Na inauguração, por entre ritmos sociais, tinha ficado impressionada, no sentido literal do termo (desse dia ficara-me a dimensão dos desenhos, alguns com cerca de 1,50m por 1,00m e a quantidade).Por isso falei dessa impressão a alguns amigos e tinha que ir confirmar qual o tipo de impressão que me causara.

Os desenhos, muitos, que usam diversos materiais sobre suporte de papel, grafite, de diferentes durezas, pastel, lápis de cera, aguarela, guache, são a expressão incontida da mente. Um desenho compulsivo e impulsivo, pouco crítico -aqui entendida a crítica como censura mental, ou condicionamento mental, ou fidelidade a um conceito.

O desenho é a tradução exacta de um sonho, só. Sem medo, sem angústia, pouco voltado para nós, os que vamos ver, interpretar, julgar, criticar. Por isso pouco importam as incoerências, alguns tiques, alguns desequilíbrios, algumas infantilidades. Creio mesmo que o seu maior valor é a sua própria condição incoerente, paradoxal, contraditória – um conjunto inimaginável de histórias incontáveis de outro modo. E as histórias são muitas, as dele e as nossas.

E as histórias são outras, desdobram-se quando observadas a diferentes distâncias. Uma caixa de surpresas que abre o nosso imaginário.

Quem trabalha tanto, em tanta quantidade tem que ter muita disciplina. Mas essa disciplina não se traduz em processo mental e por isso não se traduz nos desenhos. Os desenhos são indisciplinados no seu conteúdo e disciplinados na sua forma.

Comentávamos entre nós: Como será este homem? Como será o seu ambiente e forma de trabalhar? Os homens concluem: tem que ser “direitinho”.


Centro de Arte Contemporânea de Serralves, até 1 de Julho

Saturday, April 28, 2007

The Dream of Togetherness


playlist de hoje, download aqui. (o mesmo de sempre)

de Daniel Faria

Abriu-se em ferida a cerca do seu sopro

E deixas vindimar-me quem quer

Que passe

Até o muro é sombra que não floresce

Enquanto me repetem a pergunta

Tu me cultivaste

Tu me deixaste a geada sobrevir

Thursday, April 26, 2007

Isto é Manchester


Tenho uma review para fazer do cd novo da Björk, que ainda não saiu, e que portanto não vou publicar até dia 7 de Maio. Tive acesso a ele porque os meninos do iTUNES UK fizeram asneira da grossa. Mas aviso-vos é despojado, simples, delicado e rude e muito muito bonito. Oupa, já tinha saudades da música da miúda!

Wednesday, April 25, 2007

Cravo

O que queria ter fotografado estava pousado em cima de uma guitarra cor de mel e de um pano laranja. Este trouxe-o da festa para a minha jarra.

25 no estrangeiro

25 de Abril
Acordei em Manchester e tenho a apresentação de um trabalho daqui a uma hora. E eles não sabem que dia é no meu País. Ainda assim, tenho o Zeca Afonso a cantar e hoje, no estrangeiro, sinto-me tão mas tão portuguesa e tão mas tão livre! Obrigada aos que por mim e por hoje lutaram.

25 de Abril

Há trinta e três anos o dia não amanheceu com chuva. Eu tinha quinze anos, a idade do Pedro. Ontem quando ele chegou a casa, à meia-noite, vinha a cantar a Grândola Vila Morena. O Pedro canta bem. É bom que eles, os mais novos, não esqueçam o que a gente lhes conta: não esqueçam que houve um “antes do 25 de Abril” no qual, os que tinham a minha idade, a idade dele, sentiam que era preciso libertar o grande monstro invisível que espiava sem dó e castigava sem remorso. O monstro tornou-se visível nesse dia, assumiu milhares de olhos, rostos e braços. Hoje tem forma, cara, que ficou presa na nossa memória. É esta memória que sinto ser minha tarefa passar-lhes, aos mais novos, para que a tentação da verdade absoluta e fanática não volte a justificar censura, manipulação, tortura e morte. Para que Salazar seja para sempre enterrado.

Tuesday, April 24, 2007

O Nódoa

O Nódoa regressou depois de uma estadia fora. Ao que consta para defender a sua dama, que depois de ter uma ninhada de gatos, iniciou a sua vida activa. Tem sido uma correria, cá para as imediações, de tudo quanto é gato: de família ou vadio, sem dentes ou bem posto, felpudo ou de pelo raso. Todos sentem a aura que paira no ar. Mas ele monta guarda e corre com todos os que aparecem para desfrutar a oportunidade, sem outros encargos. A eleita é a "magrinha", que apesar da sua leve compleição, cumpre exemplarmente os deveres da maternidade e da "vida".

Assim é, regressou “penteadinho”, no dizer do mais velho cá da casa. Pousou ao meu lado exibindo o seu porte de gato residente. Ainda vou pensar se merece que abra a lata da ração!

Monday, April 23, 2007

And Enjoy Every Bit of You


AQUI
(penso que já sabem o que fazer. dúvidas=comentários)

Sunday, April 22, 2007

Sem título

Trabalho & conversa

A chinesa esteve no meu quarto e conversámos durante horas. Foi bonito e, apesar de culturas diferentes, partilhamos a mesma intensidade, vibramos com as mesmas coisas. Os nossos olhos são diferentes, os delas pequenos e rasgados, os meus estas duas azeitonas pretas na cara morena, mas brilham com a mesma intensidade. É bom tê-la no meu quarto, depois de um intenso dia de trabalho. Isso e a nova música da Björk, I See Who You Are. Dia bom.

Saturday, April 21, 2007

C

C de calor, de cor, de casa, de caos, de catástrofe, de canto, de chá, de coerente, de cuidado, de cuidadora, de calma, de cama, de cultura, de cinema, de cultour, de coração, de corpo, de cansaço, de coincidência, de conta-mina, de conceição.

O C é a minha letra.

(hoje também foi de Caimão)

Thursday, April 19, 2007

Manchester Guide


Ainda com os textos errados mas LINDO!

Wednesday, April 18, 2007

muitas idades

Aqui, nesta casa em diáspora somos muito sensíveis ao tempo meteorológico. O tempo influência atitudes. Felizmente aqui, o calor da primavera não tem qualquer efeito depressivo. Apenas o homem mais velho geme…mas por nada especial. Apenas porque a sua vida sedentária, os maus hábitos e a “velhice” dão sinais físicos que se assemelham ao mau estar. A nós, aos outros três, o calor puxa-nos para fora de casa, como amantes, que sempre fomos da natureza e do corpo. “Castigar o corpo” como ouço às minhas colegas da piscina, para que ele reaja positivamente à mudança, se revigore com a vitamina D, que o sol recria quando brinca com a nossa pele. Fazer fintas ao tempo meteorológico e cronológico é o que mais me atrai nesta intensa Primavera. Simplesmente o tempo cronológico que se adivinha no meu corpo dá-me outra disposição para contemplar a primavera. É isso que me apetece: uma pedra, um raio de sol, um horizonte aberto, um livro e o silêncio das músicas que me preenchem. Apetece-me fazê-lo ao lado dos meus pais, sinal do tempo e acontecimento feliz nesta minha idade.

Castle Irwell


Hoje tenho de trabalhar e não posso ir lá para fora. Os ingleses são assim, ao fim da tarde pegam nas bolas, nos discos, nos tacos, nas mantas e nas cervejas e coca-colas e aproveitam a relva. E são felizes, vos digo. Não percebo porque não fazemos o mesmo. Não temos tempo?

acumulação do erro

Esta é a reflexão que me apetece hoje. A acumulação de informação corrige o erro ou amplia o erro? Tenho por adquirido, ensinamento do meu percurso escolar, que se na premissa existir um erro, a solução do problema estará errada. No entanto esta máxima pode não ser verdade nas ciências humanas. A acumulação de muitas perspectivas diferentes, de muitas informações contraditórias, pode levar-nos a chegar a conclusões verdadeiras. Esse é o conceito da wikipédia, enciclopédia virtual, livre e aberta. Ponho esta questão porque tive que procurar uma biografia de Nuno Portas e deparei-me com informação contraditória e errada, que por isso não me satisfez. Juntei pedaços, recolhi memórias e construí a biografia que me interessava para um efeito determinado. O facto de não ter encontrado uma biografia correcta levou-me mais longe do que esperava e deixou-me muito mais satisfeita. Construí uma verdade a partir de muitos erros, que se excluíram por sobreposição.

Monday, April 16, 2007

À porta de casa, hoje.

Tarde de Domingo ao sol



O sol brotou em Manchester e apesar de o céu se ter fechado hoje, ontem eu e o A. sentámos-nos bancos da cidade e percebemos como as pessoas se movem. Nos domingos de sol, os ingleses sentam-se no chão em práticas orientais, nos bancos a ler o jornal e livros ou só a conversar. Penso porque não há em Portugal o hábito de aproveitar o sol e porque se fecham as pessoas em centros comerciais. A dois meses de partir definitivamente, começo, desde já, a sentir a pontada das saudades. De vida boa percebem eles! De espaços limpos aos olhos, das cervejas ou frappuccinos ao fim da tarde. Mas, como já se começa a sentir em outros países, a população jovem perde-se e fecha-se em casa. Disto falámos eu e o A., ontem. Nós somos os jovens maravilhados com os bancos de Domingo, no entanto. E ficámos ligeiramente mais morenos.

Ovo


Gosto disto.

Sunday, April 15, 2007

Cornerhouse


Para que melhor se entenda a coincidência de conceito, uso duas imagens da Joana que ilustram as refeições oferecidas pela Cornerhouse. A Cornerhouse é um espaço arquitectonicamente interessante e limpo, organiza ciclos de cinema, exposições e espectáculos, tem uma livraria. Lá as pessoas encontram-se. Ouve-se música óptima, concertos ou sessões orientadas por DJ's. A Cornerhouse é uma casa onde apetece parar. Quem tem oportunidade de crescer assim será certamente melhor, consigo e com os outros.

Friday, April 13, 2007

museus

Museus, um conceito diferente. Abertos e gratuitos. Sem aqueles guardas fardados que aqui nos perseguem como se nós fossemos criminosos sedentos de destruir a arte! Não será este o caminho? Em conversa com o Alberto Carneiro, dizia-me ele, que as crianças serão homens diferentes se conviverem desde sempre com arte, se ela fizer parte do seu quotidiano. Também o creio e senti-o em Inglaterra: no bom gosto dos ambientes feitos de espaço, côr, desenhos, músicas, programas e pessoas. Manchester não é uma cidade para os turistas, é uma cidade só. Lá há coincidência entre quem passa e quem está.

Wednesday, April 11, 2007

justificação

Para quem estranhou a ausência das duas autoras, saibam que elas se passearam juntas por Manchester. Saibam que a mãe foi excelentemente guiada pela filha e que por isso, os olhos de uma e de outra, não serão nunca mais iguais. Chegarão muitos ecos explícitos e implícitos desta viagem onde "os do norte" impressionaram... pela paisagem, pela despudorada nudez perante o frio, pela noite e até pela primavera que lá também desponta.

Tuesday, April 03, 2007

Arquiturismo

Apenas uma voltinha pela net antes de recomeçar o trabalho.
A Cultour este fim de semana esteve em grande no "Fugas" do Público. Arquiturismo. Um novo conceito de turismo, uma nova porta para a arquitectura. Sem melindres, sem complexos, apenas com a consciência do valor que temos e que somos. Sem pedir nada a ninguém, de cabeça levantada, mostramos ao mundo o melhor da arquitectura portuguesa. Seriamente e exigindo o retorno que nos é devido. Cá estamos para ficar.

Sunday, April 01, 2007

mar


Apesar do frio não resistimos ao apelo do mar...

dignidade

Do debate que ouço, ainda neste momento em “ Um certo olhar”, uma frase de Jorge Wemens reteve-me a atenção e sugere este comentário. Sobre a falta de dignidade humana, sobre o pouco valor que cada homem dá a si próprio, neste caso comentando a situação desumana a que se sujeitaram os trabalhadores portugueses em Espanha: viviam, sem se questionarem, a troco de cama, tabaco e meninas. Ele dizia que a falta de respeito por eles próprios decorre da falta de devolução social de uma imagem digna. Como se a sociedade fosse um espelho. Como se nós fossemos o espelho que devolve a imagem de grandeza e dignidade aos outros. Assim mesmo. Também assim penso. A auto-estima e a confiança de cada um depende da força e do respeito que a sociedade lhe demonstra. Uma sociedade que se limita a devolver-lhe, como necessidades básicas dormida, tabaco e meninas é uma sociedade visivelmente doente, especialmente podre e desequilibrada.

A “minha” imagem grande de pessoa humana é aquela que “tu” ajudas a construir. Quanto maior e melhor for, melhor serei. E a ela não podem nunca estar alheios valores de respeito pela individualidade, pela liberdade e pela diferença. Valores de democracia e de igualdade de direitos e deveres.

o prazer de ler

O prazer de ler. Peguei no livro de manhã, logo a seguir a acordar e não parei de ler até o acabar. Tive que alterar o plano do dia. Ainda não sei escrever sobre ele, ou talvez nunca consiga escrever sobre ele. Suscita-me silêncio, pensamentos, frases soltas apenas inteligíveis para quem o leu. Suscita reflexão e contraponto. Haruki Murakami, Sputnik meu amor, apenas o posso recomendar, para depois o poder ler nos vossos olhos.