Há trinta e três anos o dia não amanheceu com chuva. Eu tinha quinze anos, a idade do Pedro. Ontem quando ele chegou a casa, à meia-noite, vinha a cantar a Grândola Vila Morena. O Pedro canta bem. É bom que eles, os mais novos, não esqueçam o que a gente lhes conta: não esqueçam que houve um “antes do 25 de Abril” no qual, os que tinham a minha idade, a idade dele, sentiam que era preciso libertar o grande monstro invisível que espiava sem dó e castigava sem remorso. O monstro tornou-se visível nesse dia, assumiu milhares de olhos, rostos e braços. Hoje tem forma, cara, que ficou presa na nossa memória. É esta memória que sinto ser minha tarefa passar-lhes, aos mais novos, para que a tentação da verdade absoluta e fanática não volte a justificar censura, manipulação, tortura e morte. Para que Salazar seja para sempre enterrado.
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