Monday, June 30, 2008

Registo

Trezentos mais trezentos

Mais alguns quilómetros

Um secretário

(De que estado?)


Aceitar a dádiva do silêncio

para além das vozes

dos carros dos gatos

por fundo

Profundo


A parede branca da casa

as aberturas e as guias

que as enquadram

Passerelas da noite


A sombra da japoneira projectada

na parede branca desvanecida da casa


O privilégio do silêncio

Solitário silêncio


Um gatinho pardo e vadio

O desejo de domesticar o gatinho vadio

O relógio da cozinha

quebra o silêncio com a marca do tempo


Quilómetros de silêncio

A parede branca com uma japoneira em sombra

O gato e o relógio da cozinha


Que marca o tempo até que:

Todos regressam de experiências (solitárias)


As mãos amassam o pão

E dele se faz lar

entardecer

Como o ano passado, e o outro ano passado, e todos os anos passados deste há uns 16 anos, no verão, a casa usa-se mais fora dela: vem a mesa e as cadeiras para o pátio e a casa entra de férias: todos os dias ao fim da tarde, todos os fins de semana, sempre que há gente para se sentar nas cadeiras do pátio.
A tarde cai sobre as cadeiras e dentro de casa não há música, não há ruído humano.
Esta tarde o verão é só meu: aconchego-me dentro dele e estendo-me na serenidade do seu colo.

Friday, June 27, 2008

verão

Finalmente verão. O tempo meteorológico pede demais... temos que preparar para dar - tudo! Materialmente preparo o verão. Para além disso a arte puxa por mim e relembro algumas exposições que vi ultimamente: Anatomia da melancolia, de Jorge Machi no Centro Galego de Arte Contemporânea e as ditas de Serralves, Naumam e Violência Institucional e poética e vinil....
O verão também é assim, puxa para fora e fica sempre aquém da vontade!

Wednesday, June 25, 2008

Insólito

O quarto do filho cá de casa é no primeiro andar. Por baixo dele há um piso, esse ao nível do pátio.
Ontem a mãe estava cansada e deitou-se cedo. Pela uma hora acordou e foi ao quarto do filho porque ele estava um nada barulhento, o que perturbava o seu descanso. Entrou e chamou... nada. Uns segundos depois o filho entrou pela janela do primeiro piso, como se viesse do ar. A mãe disse "Onde estavas?" "Lá fora, eu gosto de ir lá fora às vezes." Tola de sono a Mãe deitou-se. Não ligou os factos de modo a conceber o insólito. Só hoje de manhã, quando sozinha, como habitualmente realizava o dia que se ia seguir, perguntou de si para si: "Seria sonho?"
Aconteceu mesmo.

Tuesday, June 24, 2008

Bruce Nauman e outros

Por favor vão ver One hundred fish de Bruce Nauman a Serralves. Gostava que os meus filhos fossem pequenos para os levar à "memória" dos peixes que nadam na magnífica e transmutável sala. Mesmo assim os meus, maiores, navegaram nos mares das memórias!
Para além desta gostei também das outras exposições e não sei mesmo se não volto lá.

Wednesday, June 18, 2008

Estocolmo iv - outras imagens


Sergelstorget- Praça Central decorrente de operação de recuperação urbana nos anos 70
Stortorget- Praça na Gamla Stan
Gamla Stan - ilha de ocupação mais antiga

Tuesday, June 17, 2008

memórias

Devia estar a trabalhar, mas andei a vasculhae nas memórias e encontrei este esboço de poema.

Não sei se foi destinado. Não sei se chegou ao destino. Não sei se foi apenas um exercício... mas faz algum sentido e tem alguma graça:


É como se estivesses aqui

( quando te sei ausente)

e quando estás presente

( também te sei ausente)

distante, não indiferente.


Moldo o vazio com a luz da perda:

assim encontro a minha medida,

tão só, tão louca, às vezes perdida.


Caminho no areal da música em tempos

medidos pelo relógio do sentimento

que ela me sugere ou activa.

Tão só, tão frágil, às vezes perdida.


O mote é ausência presente

numa casa de memórias únicas.

Viver não só nem somente:

Tão plena, tão forte, sempre diferente.

Estocolmo iii (ainda há mais...)



Skogskyrkogarden - Cemitério do Bosque
Erik Gunnar Asplund e Sigurd Lewerentz
Património da Humanidade

Sunday, June 15, 2008

(Ainda) pedaços de Estocolmo



8 de Junho de 2008

A Casa e a Música

A música faz as pessoas melhores. Deste modo o senti hoje na Casa da Música, ouvindo a Orquestra Nacional do Porto dirigida por Christopher Seamen e com Sequeira Costa ao piano.
Chopin,os concertos n.º1 e n.º2 para piano. Chopin é previsível, é harmonioso, é melodia, os instrumentos dialogam, sustentam-se, complementam-se e quando um andamento acaba - acaba como, convencionalmente," deve ser". Sequeira Costa também é previsivelmente perfeito, por isso pouco envolvente (para mim).
Mas o resultado foi bom e soube-me bem. elmhor que na sexta-feira quando interpretaram os concertos n.ºs 3 e 5 do génio Bethoven.
A casa estava cheia de público, muito institucional.

Thursday, June 12, 2008

Estocolmo ii


Instituto Nacional de Seguros
Estocolmo, 1931
Sigurd Lewerentz

Estocolmo


Biblioteca Municipal
Erik Gunnar Asplund - 1920/1928

Wednesday, June 04, 2008

Poesia

Ana Luísa Guimarães ganhou o prémio da APE para poesia.
Hoje de manhã ouvia-a recitar este poema. A sua voz é grave, precisa e doce: como o ramo de uma árvore que balança no vento de outono: as folhas caem.

Kamasutras

Atira a roupa toda
para o chão.
Depressa. Sem momento sedutor nenhum

As peças aos bocados,
desmaiadas,
caídas pelo chão.
Do mais pesado ao mais quase
infinito de leveza

E deixa a luz
acesa. Sem sedução
nenhuma. Uma luz pelo menos
de 60 wats
ou então crua
de supermercado

Escolhe armário,
sítio esquadriado
onde os corpos
não possam descansar.
Sem qualquer tipo
de preliminar,
assalta-me
vestida:

Que eu tenho a roupa
toda. Do mais pesado
ao mais
quase infinito de leveza.
Luzes todas acesas
Depressa
e de repente

Passemos à cozinha.

E lá, numa poética de mãos,
em suprema ginástica de olhar,
comamos lentamente,
com sabor hindu,
os restos do assado sobrado
do jantar

à luz fosforescente
e sedutora, no mais
preliminar,
lança contra o fogão
por sobre o ombro,
o copo de cristal
(dos de pé alto!)

Que o chão,
ao ser-lhe agudo como o asfalto,
lhe ensine o kamasutra
em última edição


Eu gosto!

Monday, June 02, 2008

Santiago

... de Santiago com amor...............................................................................................................................

banho de mar

Contínuo fascinada por Clarice Lispector, neste livro, em particular. Hoje lia um capítulo dedicado a um banho de mar. Ontem contava o prazer e a dádiva de um banho de mar. Ela aqui conta aquilo que eu queria contar e não consigo. Ou talvez não conte mas eu leio-o à mesma:
" Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas.
Mas uma alegria fatal - a alegria é uma fatalidade- já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a despeerta do seu mais adormecido sono secular.
E agora está alerta, mesmo sem pensar, como um pescador está alerta sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda - e abre caminho na gelidez que, líquida se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido secreto."

Lispector, Clarice; Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres; Relógio de Água; pág.67

Sunday, June 01, 2008

O erro de Descartes

Segundo António Damásio "Penso logo existo" é o Erro de Descartes. Sinto logo existo, será o que nos define como homens - para mim cada vez mais, também.
Porque é que a nossa cabeça está sempre a trabalhar? Não para de pensar - é preciso ter a humildade de lhe dar descanso: não somos nem a consciência, nem a salvação da humanidade.