Ana Luísa Guimarães ganhou o prémio da APE para poesia.
Hoje de manhã ouvia-a recitar este poema. A sua voz é grave, precisa e doce: como o ramo de uma árvore que balança no vento de outono: as folhas caem.
Kamasutras
Atira a roupa toda
para o chão.
Depressa. Sem momento sedutor nenhum
As peças aos bocados,
desmaiadas,
caídas pelo chão.
Do mais pesado ao mais quase
infinito de leveza
E deixa a luz
acesa. Sem sedução
nenhuma. Uma luz pelo menos
de 60 wats
ou então crua
de supermercado
Escolhe armário,
sítio esquadriado
onde os corpos
não possam descansar.
Sem qualquer tipo
de preliminar,
assalta-me
vestida:
Que eu tenho a roupa
toda. Do mais pesado
ao mais
quase infinito de leveza.
Luzes todas acesas
Depressa
e de repente
Passemos à cozinha.
E lá, numa poética de mãos,
em suprema ginástica de olhar,
comamos lentamente,
com sabor hindu,
os restos do assado sobrado
do jantar
à luz fosforescente
e sedutora, no mais
preliminar,
lança contra o fogão
por sobre o ombro,
o copo de cristal
(dos de pé alto!)
Que o chão,
ao ser-lhe agudo como o asfalto,
lhe ensine o kamasutra
em última edição
Eu gosto!
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment