Saturday, March 20, 2010

A nona de Mahler

Ontem regressei à Casa da Música para ouvir a mais insólita das sinfonias ( do meu conhecimento). Gosto de Mahler. Muitas vezes ouço dizer de Mahler: ou se gosta ou se detesta. Eu faço parte do grupo dos que gostam. Pela mão de Visconti e do Adagietto da Quinta Sinfonia que, também já ouvi dizer aos entendidos, é um andamento que desequilibra o todo, entrei no lado depressivo ou pelo menos melancólico do compositor atormentado. A Nona Sinfonia é da música que melhor transmite estados de espírito, variáveis, mutantes e mutáveis. Mas não é assim a alma humana?
Sem regra e contra a norma, Mahler compõe esta extensa sinfonia ao contrário, com os andamentos lentos no princípio e no fim. Fascina-me como é possível terminar uma sinfonia "em caindo", entrando progressivamente nas trevas (ou no paraíso?), diminuindo sempre até à maior da humana altura. Paradoxalmente.Comovente, sim muito. Sinto-me eleita por me deixar comover com esta música, porque é muito bom, talvez rondando aquela alegria de estar triste que Spúlveda compara à melancolia.Ou que Eugénio de Andrade define como o oiro do dia.
Depois é muito bom ouvir a ONP tocar maduramente.Deve ser tão difícil tocar esta sinfonia e eu gostei muito. Já aqui o disse e confirmo: é um privilégio ter uma orquestra assim na nossa cidade.

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