Saturday, December 31, 2005

1º Prato


(MoMA; 30 de Dezembro de 2005)

Friday, December 30, 2005

Entrada



Aperitivo


(post feito num quarto da 31st street)

Wednesday, December 28, 2005

Até lá

Agora estamos mesmo de partida. Para a eventualidade de não conseguirmos dar notícias de Nova Iorque, só dentro de oito dias estaremos de volta. Espero que, com novidades, estórias para contar e outras que serão contadas, ou não, pela vida fora. Espera-nos um dia comprido, vamos conquistar cinco horas que devolveremos no regresso. Não há volta a dar.

Tuesday, December 27, 2005

Sempre de partida

Estranhamente calma e de férias. Aproxima-se o dia da viagem. Não tenho medo de andar de avião, ainda que a ideia de que durante horas estaremos sobre o atlântico me faça sempre alguma espécie. Quando fui ao Perú era não só o Atlântico mas também a floresta amazónica, um outro mar verde e impenetrável.
Não preparo a ida para além do essencial e também não arrumo nada do que fica. Porque a vida é sempre uma permanente viagem e cada lugar deve estar sempre pronto para deixar. O que nos custa é esta consciência de que tudo é efémero por mais essencial que se afigure no nosso presente. Mais do que as coisas os sentimentos. Um sentimento que hoje sentimos vital amanhã pode apenas ser uma recordação, sem qualquer dor ou mágoa. Mas hoje pensar nisso dói, uma dor por antecipação da perda, que provavelmente nunca se terá. Uma dor por pensar que pode até nem doer. Uma dor do futuro.
Um modo de tomar consciência da nossa insignificância.

Saturday, December 24, 2005

Desejo de Natal

À Avó

Ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas têm a a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete
continua engelhado, como à tua ida.
Provavelmente ficará assim para sempre.

No outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um de nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se era para voltar a sentir o quante do teu colo.

Maria do Rosário Pedreira
em "Natal...Natais"
Oito séculos de Poesia sobre o Natal
Antologia de Vasco Graça Moura

Friday, December 23, 2005

Tardio Advento

Cheguei finalmente ao Natal.
As velas do Advento continuam por acender. Não fez sentido.
As prendas, compradas por empreitada. Agora vou compô-las. Respigar.
Este é o verdadeiro trabalho de Natal. Escolher o que faz sentido, juntar, redistribuir, para voltar a dar. Dar.
A família está novamente junta. Soube-me especialmente bem rever a Joana e estar com ela, excessivamente constipada e com saudades, já, de Aveiro, bom sinal.
Hoje começa o meu Natal. As lembranças de um ano cheio de mudanças que eu compilo, a partir deste momento, em alguns dias que auguro felizes.
Para todos.

Wednesday, December 21, 2005

Amanhecer

O título fui eu que dei.
Deixo este pequeno poema, leve e juvenil, cuja autora é uma recente descoberta nossa.
Na impossibilidade de o publicar ao amanhecer, faço-o no início da noite.


As luzes pestanejam
Verde, azul, vermelho
Beijam o vidro.

Eu arregalo os pés
Acordo os braços
Enquanto o dia boceja.

Olívia Rosmaninho

Sunday, December 18, 2005

Há dias

…que ultrapassam as barreiras do tempo e se prolongam no máximo da vivência. Conversas que se desfiam com diferentes personagens que igualmente me desafiam para o infinito. Um tema, um facto, uma pessoa, uma coincidência. Há catorze anos nasceu o Pedro. O Pedro é muito inteligente. Conversa connosco qualquer coisa e desafia-nos. Respeita a nossa individualidade… e provoca-nos, entende-nos na nossa sede de conhecer.
O João, aqui ao lado navega por Time Square, onde estaremos daqui por catorze dias.
Há pouco, em conversa de pós-jantar, concluíamos que a chave para ultrapassar a barreira do tempo e do espaço está na comunicação. Cada vez o tempo é maior, infinitamente grande porque cada vez é mais pequeno, infinitamente pequeno, porque mais denso. Hoje um ano corresponde a um século de umas décadas atrás. Com o Francisquinho, há uma semana, falava disso mesmo, ao recordar o Perú, em que a falta de comunicação, isolou séculos e parou-os no tempo.
O espaço é cada vez maior, porque cada vez mais pequeno, também. A velocidade, que desafia o tempo no espaço, já não é vivivel para um humano. O João dizia-me que as velocidades possíveis na fórmula um são impraticáveis porque um humano desmaia se as experimentar. Ontem, eu e o Zé, concluíamos que o presente não existe, porque o tempo se ultrapassa a ele mesmo, em cada instante. E também que o vazio é fundamento da matéria. Hoje eu e a Emília líamos a vida no presente, passado, futuro.
A ficção científica de ontem é hoje passado.
Existimos? Ou talvez não.

Friday, December 16, 2005

Agradecimento

"É uma actividade fascinante, esta, a que se entregam algumas almas mais melindrosas.
Toda esta perseverança e diligência, este comércio inocente e magnífico de figurações e símbolos, este ritmo nascido de mãos cheias de memória, talvez seja tão-só magia sem segredo, um reverenciar uma divindade de que até o nome já se esqueceu, uma nostalgia de coisas elementares sem mácula. Talvez… Seja como for, é perturbante que um homem em certas horas, e não das menos sombrias, se empenhe até alucinação em recriar umas frágeis raízes que o mar deu à costa, pedras de um rosa delicado, folhas onde o oiro da manhã se refugiou, pálpebras ainda com restos de sono." (…) e Eugénio de Andrade continua em “Tudo é só um puro dizer no tempo” a desfolhar sentidos e a evocar almas de homens que nos oferecem a paz, a luz, ultrapassando o tempo. Ele e outros, outros por ele, às vezes têm o dom mágico de nos transportar para este estado de pura harmonia, indizível e intemporal que, porque vivido uma vez, nos atingiu o coração.

Wednesday, December 14, 2005

Publicidade

Ora desculpem. É só para dizer que a mais velha deste blog, amanhã fica um bocadinho mais nova. Como não tem jeito para a composição gráfica digital, desafia a mais nova a fazer uma composição. Apela ao seu bom gosto e à sua imaginação…e espera ansiosamente que ela, a mais nova, leia este post. Seria bom sinal, depois de tantos dias arredadas e evasivas. Mas…alguns saberão...que para já não é sinal de desistência, apenas de outras confusões ou ilusões.

Sunday, December 04, 2005

ruínas

Hoje, numa festa de família alargada, reencontrei os meus tios e primos que já não via há muito. Fez-me pensar.
Reencontrei-os no passado e não os reconheci no presente. Quebrei laços e com isso perdi um pedaço de história. Isso não me preocupa minimamente nem me faz sentir mal. Só que faltavam lá pessoas, as pessoas do passado que faziam parte da essencialidade daquele quadro. Sem elas o quadro não é o mesmo. Por isso tive saudades dos meus avós, muitas saudades. A continuidade da relação teria permitido a substituição: os avós morrem e são substituídos pelos pais, para que o tecido se reajuste e remende os buracos que se sucedem ao desaparecimento. No meu caso os buracos continuam lá, bem visíveis, bem presentes, ainda bem. Não preciso de fotografias para os lembrar. Basta-me o quadro desfeito desta existência.
Porque temos sempre a necessidade de substituir para recompormos o nosso quadro afectivo? Porque lidamos mal com a ausência? Porque inventamos outros destinos para os que desaparecem? A nossa tradição cristã empurra-nos para a ilusão de uma outra vida para que os mortos não morram e para apaziguarmos a nossa pouca aptidão para lidarmos com o nosso certo destino.
Isto leva-me a um texto de Henry Miller, sobre a ruína e o modo de com ela lidarmos:

“Um dos fascínios das ruínas é que sugerem ou revelam sempre a configuração original ou, por outras palavras, a intenção. No meio da maior devastação temos a certeza de encontrar pedaços isolados de perfeição: um arco, um pilar, uma cúpula, um pedaço de pavimento. O trabalho de restauro não só dissipa o charme e o mistério como produz o efeito, um simulacro, de rigor mortis. Nunca nada parece o que foi. O tempo é o mestre apaixonado da decomposição. A criação e a destruição são gémeas, como o foram o amor e a justiça.”

Viagem a uma terra antiga, in Viragem aos oitenta; Henry Miller; Editora Fenda; Lisboa 1999

Friday, December 02, 2005

SIDA


Não quero fazer grandes comentários, é apenas isto. Um grave problema inter-geracional.

Magnífico feriado

Em casa dos meus pais, estes eram os melhores feriados: feriados sem missa.Aqui em casa, esta particularidade não faz qualquer sentido, porque todos os feriados são sem missa.
No entanto este foi um excelente feriado. Fiz tudo o que gosto: li, fui ao ginásio, tomei um óptimo banho a seguir, fiz o almoço calmamente, ouvi música, trabalhei.
O almoço merece destaque. Contra o costume, em dias como este, decidi fazer almoço. Sentamo-nos os quatro à mesa, conversamos, rimos, divertimo-nos. Como foi diferente de quando comemos apenas “qualquer coisa” informal e rapidamente! Comer, independentemente da qualidade e da quantidade, é um acto social e contribui mesmo para comuniquemos.
Isto não é sempre assim tão harmonioso. Às vezes a mesa é local de conflito, de discussão, de não entendimento. Mesmo assim lugar de fundamental para o nosso equilíbrio e crescimento conjunto.
E se juntarmos um copo de um bom vinho tanto melhor.