Friday, October 24, 2008

O Último Tango em Paris

Fui no domingo à noite rever "O Último Tango em Paris". Ia com alguma apreensão. Tinha visto o filme, talvez em 1975, no cinema, muito novinha. Há altura, o encarar o sexo fora de qualquer contexto e o evidenciar o desejo físico, foram para mim não tanto uma revelação, mas mais um desafio aos modelos - não esquecer que era a época de todas as liberdades.
Confirmei no domingo um grande filme, onde apenas as modas denunciam a época. Bertolucci um realizador ambíguo e romântico, que se compromete pessoalmente com a obra. Nos filmes de Bertolucci não conseguimos perceber a distância entre o realizador e a obra, tudo parece auto-biográfico: a maneira como filma, a música que escolhe, neste caso o argumento, tudo sublinha uma visão subjectiva e comprometida. Neste filme o grande tema do conhecimento pelo corpo, eterno tema sempre censurado, vem à luz do dia de um modo cru e sem ruído, porque todo o ruído se passa fora das quatro paredes do apartamento em trânsito, à espera de ser alugado. E ele o corpo e os corpos, são o reflexo das relações de poder, de posse, de dádiva, de morte. Tudo se perde quando os corpos ganham nome e com ele um passado que destrói qualquer vontade de futuro. Aí a universalidade da experiência choca com a minudência de uma vida banal.

1 comment:

joana said...

isso!