Se há coisa que me irrita e me entristece é ouvir as pessoas falarem mal português. Vou à piscina de manhã cedo e ouço as conversas das mulheres no balneário. Quase todas de meia idade para cima. As mais velhas, mesmo que sem graus de instrução para além do básico, falam relativamente bem, conjugam os verbos com correcção, empregam até algumas palavras mais eruditas. As mais novas é um desastre, desde deiam, hajam, darle, boto, eles nado, até aos mais sabidos palavrões, tudo se conjuga numa verborreia insuportável.
Hoje de manhã fui à mercearia do bairro por extrema necessidade, já que detesto lá ir, tal é o desarranjo e a porcaria. Entro e toca uma campainha de alerta. Percorro a loja e olho para o armário frigorífico que indica lacticínios, já que não há outro em que possa encontrar margarina, está vazio. Vejo uma senhora atrás do balcão do talho e pergunto: "Não tem margarina?" "Está aqui." responde e aponta para a vitrina onde está a carne, as tripas enfarinhadas, o sangue de porco e a um canto uns pacotes de manteiga. Digo "Mas isso é manteiga." "Pois é, responde". Decidida a trazer meio quarto de manteiga pergunto quanto é e ela responde "Quarenta cinco." Assustada "Pergunto quarenta e cinco, quê?" "Um e quarenta e cinco". Depois diz que está muito frio "...mas hoje não tenho porque estou cheia de roupa, dois pares de meias calças por baixo das calças e muitas camisolas e casacos". Realmente era verdade: aquela mulher já de si façanhuda hoje estava toda enchouriçada. Despediu-se com um "não tenho troco pra darle " e eu saí para o ar frio da manhã com um certo alívio, confesso.
Saturday, January 10, 2009
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2 comments:
Confesso que tenho estado mais alerta para tais pontapés na gramática. Pois eu própio os dou.
É lamentável eu sei. Mas pelo menos eu sempre tive a bela desculpa de ter crescido a ver a televisão espanhola. O que fez que durante muito tempo me esquecesse de dizer os "lhes" e apenas me ficar pelos alegres "les".
Outra desculpa que dou a mim mesmo, é a falta que tive de uma boa professora de português que insistisse mais na gramática e não na subjectividade da poesia portuguesa. A certa altura fiquei farto de responder às perguntas dos testes com ideias que não eram as minhas e possivelmente, também não eram as do poeta.
Gramática é do que sinto mais falta. E falar, falar. Então nestes dias frios em que não tenho comigo a companhia de um belo par de meias calças coloridas.
Bom fim de semana.
a tale of modern times. adoro.
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