Monday, February 09, 2009

Doubt de John Patrick Shanley

Logo no genérico me lembrei de Kramer vs. Kramer (e penso que seja apenas pela opção estética e a escolha tipográfica feita no genérico), mas ainda bem, porque tanto Doubt como Kramer vs. Kramer parecem ser capítulos da obra "o que é a realidade humana." Doubt é o capítulo da dúvida.

Perante factos cada um constrói a história que quer. Cada um acredita nessa história. Tudo é a realidade mais o que concebemos depois. É um tema que temos visto abordado recentemente: qualquer dos filmes de Lars von Trier ou mais recentemente Chagelling de Clint Eastwood. O que não se questiona são as duvidas por trás da realidades que construímos e isto é Doubt. E desenganem-se, todos ali duvidam: não só a freira nova, boa e inocente (Amy Adams a ser extremamente convincente e a passar-nos uma tamanha agonia); o padre inovador (Seymour Hoffman a ser brilhante como sempre) apesar de completamente envolvido nos factos; a mãe do garoto (Viola Davis, god bless you!) e o seu medo de que o filho não possa ser o que quer; e, desenganem-se mesmo, até a freira chefe, rigorosa e avassaladora (Streep a ser a actriz que sabemos, ou seja, Streep a ser outra pessoa, outra vez). São tudo escolhas, são tudo visões diferentes dos mesmo factos. São todas plausíveis e ainda assim, a dúvida flutua desde os primeiros minutos até à neve no jardim da escola, no último quadro. E ainda assim, se a dúvida impede alguns de agir (Adams) não impedirá outros (Streep e Hoffman).

Atentem também aos sermões. Atentem em certos planos. Atentem na cara dos actores. Atentem na riqueza do argumento (a peça deve ser tão bem escrita...). Atentem em tudo. Doubt é apenas uma metáfora, se olharmos bem. Todos agimos, mesmo com dúvidas. Atentem porque se aprende um pouco mais sobre ser-se humano. Do melhor dos últimos tempos. Do melhor.

1 comment:

maria said...

Pedagógico sem dúvida, qualquer que seja a idade ou a experiência. Num mundo em que a intolerância e o fundamentalismo se sobrepõem à tolerância e complacência, muitos o deveriam ver ... e reflectir sobre a sua mensagem.