Canção amarga
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.
Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.
Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.
Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
- Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!
6 comments:
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Entendo.
Importa amar. Mas não ser infeliz.
Mesmo quando amar implica deixar, separar por tantos mundos o espaço que nos medeia e ver - deixar - partir aquele que se ama. Porque o amor deve ser feito de liberdade. Mas nem assim de tristeza ou infelicidade. Estar aqui, tão longe...Amar assim não me faz infeliz. Apenas não me completa.
Recordo o outro poema de Maria do Rosário Pedreira sobre amor e liberdade - liberdade para deixar partir, para deixar viver e liberdade, para do outro lado, também partir."Guarda agora tu o que eu..."
"Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que me sento na cama, distraída, a dobar demoras
e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.
Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por
causa dos outros laços que não desfaço, sei que o
amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se
o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso
sempre, mas não de mais; e que os invernos que ele
não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos
separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,
mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,
diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre."
(Maria do Rosário Pedreira)
Sempre bonito porque muito intenso e muito a nossa verdade, aquela que por falta das palavras certas não conseguimos contar como ela -a poeta.
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