Friday, October 31, 2008

Thursday, October 30, 2008

do outro lado fatih Akin

Filme de itinerários e desencontros. Filme de angústias e dores surdas, de pessoas muito queridas e mal amadas, de solidões, de indivíduos que muito têm em comum e nunca se encontram no conforto uns dos outros. Filme de olhos expressivos, doces, duros, vagos, quentes. Filme de itinerários, da Turquia à Alemanha e à Turquia, das ruas, das estradas, dos carros. Da literatura. " Como me reconheceu?" " Era a pessoa mais triste desta sala!" É assim um filme triste e de espera: ficaremos a olhar eternamente o mar.
Depois é bom rever Hanna Schigulla.

Sou cor de róis-ín!




Amanhã vou ver esta miúda, já não nos Moloko, mas ainda assim a ser extraordinária todos os dias. E tenho a certeza que vou adorar. Já no ALIVE! foi uma loucura futurista, amanhã, na casa da música, será loucura de certeza, outra vez. E é gira. E é sexy. Bastante. Muito. Go, Róisín, go!

Sunday, October 26, 2008

Parabéns ó!




Aos vinte e dois, o meu dia de anos tem vinte e cinco horas!

Friday, October 24, 2008

Peter Zumthor



Peter Zumthor é indefinível, dizem os críticos. O adjectivo que lhe encontram “certo” ou é erro de tradução ou não me parece nada adequado. “Certo” é anódino, é frio, é correcto. Zumthor é suíço, mas não anódino, frio, nem só correcto.

Dizia a Joana que Zumthor é cósmico. A Joana percebeu Zumthor melhor que os críticos. Sim Zumthor é cósmico no sentido em que percebe exactamente qual é o seu lugar no universo e o interpreta enquanto arquitecto. No exercício da profissão Zumthor deixa que a o universo fale através dele: usa a matéria, transforma-a, assumindo por vezes ele mesmo o papel de construtor, participando na construção da obra e vivendo-a.

Mas o que me impressionou mais no que vi foi a liberdade com que ele não é “certo”: ele é o que é, o que lhe apetece ser e o que o contexto humano e físico lhe sugere: por isso encontramos nas suas obras diversidade de abordagem e consequentemente diversidade expressiva. Apesar de suíço, Zumthor fala-nos da terra, das bruxas, do terror, da paz ou de amor… Zumthor é cósmico!

O Último Tango em Paris

Fui no domingo à noite rever "O Último Tango em Paris". Ia com alguma apreensão. Tinha visto o filme, talvez em 1975, no cinema, muito novinha. Há altura, o encarar o sexo fora de qualquer contexto e o evidenciar o desejo físico, foram para mim não tanto uma revelação, mas mais um desafio aos modelos - não esquecer que era a época de todas as liberdades.
Confirmei no domingo um grande filme, onde apenas as modas denunciam a época. Bertolucci um realizador ambíguo e romântico, que se compromete pessoalmente com a obra. Nos filmes de Bertolucci não conseguimos perceber a distância entre o realizador e a obra, tudo parece auto-biográfico: a maneira como filma, a música que escolhe, neste caso o argumento, tudo sublinha uma visão subjectiva e comprometida. Neste filme o grande tema do conhecimento pelo corpo, eterno tema sempre censurado, vem à luz do dia de um modo cru e sem ruído, porque todo o ruído se passa fora das quatro paredes do apartamento em trânsito, à espera de ser alugado. E ele o corpo e os corpos, são o reflexo das relações de poder, de posse, de dádiva, de morte. Tudo se perde quando os corpos ganham nome e com ele um passado que destrói qualquer vontade de futuro. Aí a universalidade da experiência choca com a minudência de uma vida banal.

Monday, October 20, 2008

Macaquinhos de imitação


Isto é o que acontece quando estamos as duas sozinhas em casa a ver o jogo duplo. Se alguém diz que sabe fazer qualquer coisa nós experimentamos para termos a certeza que também sabemos. Esperamos, no entanto, ser mais inteligentes que a senhora que disse que sabia escrever ao contrário, em espelho, porque ela não passou da primeira ronda.

Thank you Mr. Alan Fletcher

Sunday, October 19, 2008

Clarice Lispector ii

Acabei há pouco de ler "A Maçã no Escuro" de Clarice Lispector. Depois de "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", este voltou a tocar-me. Mais pesado, mais denso, o outro quase parecia uma novela, estrutura-se em três capítulos: Como se faz um homem; Nascimento do Herói; A Maçã no Escuro. Os títulos espelham bem o evoluir do tema, mais do que da acção, porque ela é praticamente inexistente. O tema: a destruição e a reconstituição do homem, até ao herói - senhor de si e dominador da natureza e depois a desconstrução novamente, o desajuste, a angústia do sentir fora da coincidência, a vida como se fossem diversos tempos sobrepostos num mesmo presente - incompreensível presente e incompreensível mistério o de viver em relação.
Há realmente qualquer coisa de iniciático nestes livros: uma filosofia e um sentimento que se apanha e nos envolve como se de uma membrana invisível se tratasse.

Saturday, October 18, 2008

A casa e a Música

Há algum tempo que não ia à casa da música. Hoje estive quase para não ir, mas ainda bem que fui. Nada melhor que um concerto para entrar numa introspecção centrada que nos atira para fora de nós. Não foi sempre assim e tive alguns momentos de distracção, sobretudo na primeira parte, de que gostei menos. Nela, Nicolai Lugansky, tocou Janácek e Chopin, o concerto nº3. Na segunda Liszt de que gostei muito. Não sou perita na arte para apreciar bem, mas não me soou ao tecnicismo que normalmente é apanágio dos jovens músicos, talvez não dos da escola russa.
A Casa da Música estava cheia e soube ver de dentro o cair da tarde.

Friday, October 17, 2008

...

Diz-me outra vez

Como me vês

Sem confronto

Resta a imagem

Virtual ou ao invés

Sem saber como me vês

Serei apenas miragem


Devorada pela entropia

Exagero a miopia

Poço escuro abafado

Onde a acalmia

Mais soa a enfado

Do que a qualquer

Pressentida sintonia


Rota

invertida

Desfocada

Pouco querida

Mal amada

Sem saber como me vês

Serei miragem outra vez

Thursday, October 16, 2008

Juliette

Porque é que a Juliette Grécco não vem ao Porto? O Porto não a merece, ou poucos a merecem no Porto? Que aproveite Lisboa.

De tanto olhar, tanto olhar.


A minha praia (o meu mar) é assim. A tua praia também o é, não é, Maria? O poema é do Eugénio de Andrade e foi encontrado durante o pequeno almoço silencioso de hoje.

Wednesday, October 15, 2008

Fall 08


Bom dia contamina(n)dos! Saudações, saudações! Partilho agora o meu outono em música com vossas excelências e pode ser que vos revele a playlist mais tarde! É possível que faça um cd disto em breve e, é certo, que este será endereçado a algumas das pessoas que por aqui passam. Enquanto a preguiça por aqui anda e o trabalho também, podem fazer download aqui.

(eu sei que esta entry não foi muito sã. mas que frases mais mal amanhadas! não sei que se passa.)

Tuesday, October 14, 2008

regras de boa educação

No meio de uma discussão familiar eu, que sou "bem educada", tomei conhecimento de uma regra de boa educação que desconhecia, ou que, pelo menos, não tinha incorporado como tal:
" A uma pergunta, nunca se responde com outra pergunta!". Bem visto e muito razoável, senão pensemos...

Monday, October 13, 2008

Domingo de serralves



Serralves é um sítio bestial porque se vai, quase sempre, com as melhores companhias, vê-se as melhores coisas da arte e as pessoas mais soltas e descontraídas. Serralves hoje acolheu-nos tão bem. E eu cá falo por mim, não há melhor que ser aconchegado pelos braços tão grandes e abertos das árvores e das paredes. (Mais fotografias aqui)

(Vou fazer um esforcinho por escrever uma entry sobre a magnífica exposição "Intersecções Intersectadas" de David Goldblatt, porque é, sem dúvida, um marco na minha vida recente e um exemplo do que melhor se faz no mundo. Forcem-me!)

Saturday, October 11, 2008

Flickr addicted

As minhas fotografias preferidas dos últimos dias, no flickr, para quem, como eu, busca inspiração:

1. madison county, ia; 2. birdhouse; 3. meryl streep; 4. out with the old; 5. green: movie, postcar and olive oil; 6. 1010081754.jpg; 7. untitled; 8. face; 9. good morning people!; 10. untitled; 11. untitled; 12. bravooooo!; 13. full; 14. untitled; 15. circles-2; 16. paper doll #83; 17. hello!; 18. cave; 19. lops plotting her escape; 20. totally fucking ridiculous; 21. sl; 22. untitled; 23. la valse à mille temps; 24. la valse à mille temps; 25. untitled; 26. untitled; 27. life on a thread; 28. untitled; 29. untitled; 30. untitled; 31. untitled; 32. jo13; 33. banho de mar; 34. caleidoscópio i; 35. untitled; 36. untitled

Ondas

É extraordinário como a experiência de algumas obras produz ondas de ressonância que se sucedem e repercutem na nossa íntima atmosfera. Felizmente tenho a oportunidade de as experimentar: o meu espaço interior abre-se até ao infinito, a respiração torna-se profunda e suave, o ar quente pousa sobre o corpo envolvendo-o com os seus braços. Tudo o mais passa-se lá fora: o ruído, a ira, a intolerância, o histerismo, o exercício do poder.
Aqui não há lugar para tudo mais... apenas para tudo o menos.

Il Gattopardo

O leopardo novamente.
Hoje o filme. Felizmente o TCA está a passar um ciclo de cinema italiano. Aí vou ter a possibilidade de rever alguns filmes que pontuaram o meu crescimento.
Para o bem e para o mal, não o meu crescimento ( esse, modéstia à parte foi para o bem), mas a revisão de icónes!
Hoje: Il Gattopardo. Aqui, no conta-mina, ficou o testemunho da recente leitura do romance de Giuseppe Tomasi Lampedusa: príncipe siciliano.
Lucchino Visconti, oriundo da aristocracia milanesa, realizador maior da cinematografia mundial e meu.
Depois da leitura recente do singular romance, o filme poderia ser inconsistente. Não, o filme não é o livro. O capítulo que mais me impressionou no livro não é descrito no filme: o filme não chega lá. Mas a Terra, o vento que preserva a Terra da Morte, a inalterabilidade da história, "muda-se para se ficar na mesma", a presença da história e a sua permanência feita destino, "fomos sempre colónias", o Príncipe de Salina, genialmente interpretado pelo soberbo homem, o pó…………………………….
O filme, extenso, com uma particular gestão do tempo, impõe o contexto como essencial na leitura do tema. Aquilo que pode parecer supérfluo, a mais, é fundamental para a caracterização do príncipe: e o príncipe é a Sicília. Às tantas pensava: se retirássemos tempo ao filme, se as valsas e as mazurkas fossem metades, encurtávamos o filme,mas ele seria? Ele é por aquilo que não é, como a aristocracia siciliana se define por dar importância aquilo que nós, ( os plebeus) não damos importância.
No filme faltou-me o devaneio científico do príncipe de Salina bem presente no livro!
Depois a maravilhosa valsa de Nino Rotta dá mesmo vontade de trautear tal é a familiaridade.

Friday, October 10, 2008

O Segredo de um Cuzcuz - Abedl Kechiche

Não o vi no circuito comercial normal. Fui vê-lo ao TCA, ontem, porque me foi recomendado e sinceramente - gostei!!!
Para um crítico cinematográfico será muito interessante! Para mim, amante no sentido do gozo e sem qualquer pretensão três ideias:
- Achei muito interessante a manipulação do tempo: duas ou três cenas, diálogos incessantes, repetitivos, massacrantes, exaustivos, mas muito provocadores - se encarados como um mantra chegam ao coração!
- O desempenho dos actores é excelente! não sei quem são nem se SÃO, são-no simplesmente, como se representar fosse a nossa vida.
- As filmagens, pouco fixas: não induzem, não julgam, vagueiam pelos rostos, meios rostos, locais, movimentos - tensas, perdidas, exaustivas, incessantes ---- encontradas.

Wednesday, October 08, 2008

A música certas às nove da manhã.



São aqueles bocadinhos da música certa na hora certa que tornam as manhãs preciosas e o dia comprido, leve e intemporal. São eles que fazem raiar a melancolia de mansinho e que acolhem, ao de leve, o corpo frio, enchendo tudo com um pleno vazio.

Obrigada, johnny, por hoje.

Sunday, October 05, 2008

Terra Mãe

no outono:
terra: plena; cheia; madura; dádiva; abraço; berço; acolhedora; calma; parada; lenta; espectante; sábia; mãe.

hoje fui isto também: mãe: insegura deixei que a dúvida me caçasse e as lágrimas soltaram-se lentas.

viagens

“ E agora, olhando Martim, a mulher teve medo de perder este contacto insubstituível que a informava sobre a natureza mais secreta daquele homem ali em pé; e de quem, ignorando tudo, ela possuía o ilimitado conhecer que vem de se olhar e ver. Os factos tantas vezes disfarçavam uma pessoa; se ela soubesse factos talvez perdesse o homem inteiro.”

Clarice Lispector;“A maçã no escuro”; Relógio d’Água; pág 269/270

Sobre a densíssima densidade do livro, aparentemente desconexo, que frequentemente me deixa também esta sensação: mais vale lê-lo e entendê-lo como um todo, sem tentar discernir partes. A atenção sobre os factos talvez me faça perder o livro inteiro. Lê-lo embala-me e leio-o como quem embarca numa viagem sonâmbula ao centro do mundo, ao coração das trevas (humanas).

Saturday, October 04, 2008

Se esta rua fosse minha

A Rua Cândido dos Reis hoje à tarde foi uma boa surpresa.

Friday, October 03, 2008

outros doces


Comprei um melão que sabia a abóbora. Andei a comê-lo aos poucos, chamando a vocação de mãe, que aproveita tudo. Ontem de manhã comentei com a minha "empregada" o facto. Diz-me ela " Porque não faz compota?" Aqui está, e está boa, não sabe a melão nem a abóbora! Sabe a canela e limão.
Para quem "descasca" no casamento não está nada mal esta recomposição do lar, não acham?

Thursday, October 02, 2008

casamento

A favor ou contra o casamento de homosexuais?
Prefiro ser contra o casamento. Para que é que as pessoas se casam? Para garantirem o futuro?
Nenhum papel garante o futuro... garante chatices: agarra pessoas quando elas já não querem estar agarradas; faz perder dinheiro, tempo e paciência; culpabiliza as partes; alimenta o desrespeito pelas opções individuais e trá-las ao juízo público.
Porque é que o casamento não se transforma num simples contrato, regido pelo mesmo código que os outros contratos e com liberdade de ser celebrado entre quem quer independentemente do género ou do número? Um contrato que dá benefícios fiscais a quem decide cohabitar com outro(s) e tem uma economia familiar conjunta. Sendo contrato como os outros, rescindivel a qualquer momento por acordo entre as partes.Porque não libertamos o casamento do preconceito e da matriz judaico-cristã? Se assim fosse escusavamos de andar agora a discutir na AR o casamento entre homosexuais, questão do foro íntimo que não devia ser regrada por qualquer legislação.

Primeiros restos de Outono.


O outono está aí, sente-se no ar que invade o quarto quando se abre a janela de manhã. Fui dar uma volta pelo jardim, hoje, e voltei com este primeiros restos de outono. Achei que este cheiro a castanho, amarelo e vermelho se devia contaminar.

Wednesday, October 01, 2008

Clarice Lispector

Clarice lispector. Ainda que a sua escrita não seja bonita, pelo menos à nossa portuguesa conceptualização, é extremamente reveladora, iniciática, diria. Sempre surprendente pelas múltiplas leituras que provoca e, ainda mais, pelo que se antevê virá ainda a gerar. Um excerto de "Maçã no Escuro", menos sintético do que "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", mas em certa medida, talvez por isso mesmo, mais arrebatador!

“Apenas isso? Quase nada! ainda rebelou-se o homem, mas meu Deus isso é quase nada.
Não, isso é muito. Porque, por Deus, havia muito mais do que isso. Para cada homem provavelmente havia um momento não identificável em que teria havido mais do que farejar: em que a ilusão fora maior que se teria atingido a íntima veracidade do sonho. Em que as pedras teriam aberto seu coração de pedra e os bichos teriam aberto seu segredo de carne e os homens não teriam sido “outros”, teriam sido “nós”, e o mundo teria sido um vislumbre que se reconhece como se se tivesse sonhado com ele; para cada homem teria havido aquele momento não identificável em que se teria aceite mesmo paciência de a monstruosa Deus? Essa paciência que permitia que homens durante séculos aniquilassem com o mesmo obstinado erro outros homens.” pág 230/1; edição Relógio de Água