Friday, January 30, 2009

Wednesday, January 28, 2009

lapsos compreensíveis e de certo modo, saudade

Após um dia incompreensível e cansativo três gafes linguísticas:
O Pedro disse-me que lhe tinha rebentado um tímpano e eu perguntei "mas já me tinhas dito que te doía o ovo.", gargalhada geral no carro. Depois chegada a casa perguntei" Para o jantar hamburger ou virus?" ... a imaginação não chegava para mais e as palavras ainda atropelaram os bifes. Depois de jantar disse "Só me apetece comer a camisola.", mas na realidade era coser, depois de um grande buraco e de muitos pequenos buracos satélites que a Polka fez no fim de semana.
E morreu Jonh Updike, a minha leitura de momento. Senti, porque para mim foi uma descoberta que se demonstra e demonstrará essencial. Depois dos dois primeiros volumes dedicados a Coelho, deleito-me agora com o terceiro. Agora mesmo, porque é para lá que vou neste momento, para a pág 173.

Tuesday, January 27, 2009

notas

Apenas três notas para que não se percam deste pseudo- diário:
Concerto da ON- Variações Românticas, na sexta-feira à noite: a 4ª de Brahms, eterna e recorrente, para mim belíssima;
A Onda, filme de Denis Gansel, catarse alemã, chocante e perturbadora;
e Dança em Serralves - parades e changes, replays, privilégio assistir a este espectáculo de movimento e som - imagens e contornos que nunca esquecerei!

Sunday, January 25, 2009

almofada


Com um pouco de trabalho e recuperação de materiais, consegui transformar uma almofada comprada na minha almofada!

Saturday, January 24, 2009

distracções

A minha amiga foi, na quarta-feira, fazer controlo após a mastectomia que fez há dois. Aos primeiros exames apanhou um susto e ficou suspensa dos resultados de outros, subsequentes, que veio a fazer durante o dia. Nós, os seus amigos, sofremos à distância, torcendo os dedos e acreditando que seria falso alarme. De facto veio a esclarecer-se que nada havia de preocupante.
Na quinta feira foi uma cara radiosa que nos apareceu, contrariamente às nossas que demonstravam o desespero consequente da interminável chuva. Ela porém dizia a sorrir: "É muito bom ver chover!".
Porque é que nos esquecemos disto? Nada pode obscurecer a dádiva da vida.

Wednesday, January 21, 2009

Hora do desabafo

Se há coisa que me irrita é estar a ler um livro bom e este ter gralhas. Mas se há coisa que me entristece é quando as gralhas são erros. Estou nas últimas dez páginas d'As Ondas e apetecia-me acaba-lo agora não fosse aquele "houvessem" na página 230. Vamos lá Relógio d'Água e Francisco Vale, vocês conseguem fazer melhor.

Monday, January 19, 2009

O estranho caso de Benjamin Button de David Fincher

Fui ao cinema e vi cinema que me encheu de cor, de fantasia, de bom gosto, de beleza. Que importa a inverosimilhança da história, a sua possível incongruência ou linearidade?
É bom, puro, fantasioso e tem Brad Pitt, um verdadeiro deus, depositário inexcedível do nosso imaginário ... pelo menos do meu! É CINEMA!

A hora do desenho

As Ondas e continuam a dar tanto.

Sunday, January 18, 2009

identidade

" A europa só começa a ter história quando começa a relacionar-se com outros" (por referência à época dos descobrimentos e ao papel que Portugal teve no fundamento da identidade europeia)- reflexão de Eduardo Lourenço na conferência que em Serralves deu em conjunto com José Gil, moderada por Maria João Seixas.
Fez-me reflectir sobre a nossa identidade individual e sobre o papel dos outros na definição da nossa própria identidade - sem falsa modéstia e sem preconceitos.

Flash mobs



Ficam a saber que eu e a Maria estamos numa de armar uma coisas destas há algum tempo. Will you join us?

Saturday, January 17, 2009

Miguel Bombarda

Às cinco da tarde rumamos a Miguel Bombarda. Gostei de ver novos, mais velhos, crianças, professores, amigos, mestres, ... pessoas. Gostei de ver pessoas ao sábado à tarde, no Porto velho, a morrer de doença e de abandono. Sempre será verdade que alguma coisa se passa? Que é possível ressuscitar a nossa cidade a partir de dentro... criando pequenos focos conta-minadores de vida? É apenas nessa mudança que acredito. Aquela que se faz com as pessoas de cá e para as pessoas de cá. Não quero com isto dizer que alimento qualquer réstia de xenofobia. Apenas não acredito em projectos ovniológicos que aparecem a e desaparecem como apareceram - num instante sem deixar rasto! exteriores. Gostei da minha cidade e gostei de ver gente da minha cidade a vivê-la.

Friday, January 16, 2009

Murray Peraya

Na minha ignorância atrevo-me a dizer que foi dos pianistas que mais gostei de ver tocar. Pela sensibilidade, pela sobriedade, pela entrega... Tudo decorreu na maior descrição porque ele toca como respira: suavemente mas também com imenso vigor. Colorido, de diferentes matizes, com diferentes intensidades. Muda de ritmo na continuidade, passa do piano ao forte sem rupturas,encanta-nos tão só.
Quanto ao reportório não poderia ser mais consensual: Bach, Mozart, Beethoven, Brahms. Bach para elevar, Mozart para encantar, Beethoven para deslumbrar, Brahms para apaixonar.
A Casa cheia. É bom ver, mas melhor também estar.

Sunday, January 11, 2009

Concerto de ano novo

Este foi o nosso concerto de ano novo e o início da temporada de 2009 na Casa da Música: ONP, sexta feira às 21 horas: aquele dia frio e de neve que todos recordaremos pela vida fora.
É interessante perceber como, de todo o programa, o que menos me(nos) cativou tivesse sido a sinfonia do Novo Mundo. Ela, que noutros tempos foi referência para continuar a percorrer os caminhos da música erudita. Bonita, idílica, harmoniosa ... agora diremos, em demasia, para quem encontra na música contemporânea o grande motivo de descoberta. Por isso György Ligeti foi quem mais prendeu a nossa atenção no concerto de sexta-feira.
Não deixa contudo de ser interessante a mistura de tempos e concepções num único concerto levando, à traição, alguns a treinarem os seus ouvidos para outras sonoridades. A Casa estava cheia e continua luminosa como sempre.

Saturday, January 10, 2009

bom português

Se há coisa que me irrita e me entristece é ouvir as pessoas falarem mal português. Vou à piscina de manhã cedo e ouço as conversas das mulheres no balneário. Quase todas de meia idade para cima. As mais velhas, mesmo que sem graus de instrução para além do básico, falam relativamente bem, conjugam os verbos com correcção, empregam até algumas palavras mais eruditas. As mais novas é um desastre, desde deiam, hajam, darle, boto, eles nado, até aos mais sabidos palavrões, tudo se conjuga numa verborreia insuportável.
Hoje de manhã fui à mercearia do bairro por extrema necessidade, já que detesto lá ir, tal é o desarranjo e a porcaria. Entro e toca uma campainha de alerta. Percorro a loja e olho para o armário frigorífico que indica lacticínios, já que não há outro em que possa encontrar margarina, está vazio. Vejo uma senhora atrás do balcão do talho e pergunto: "Não tem margarina?" "Está aqui." responde e aponta para a vitrina onde está a carne, as tripas enfarinhadas, o sangue de porco e a um canto uns pacotes de manteiga. Digo "Mas isso é manteiga." "Pois é, responde". Decidida a trazer meio quarto de manteiga pergunto quanto é e ela responde "Quarenta cinco." Assustada "Pergunto quarenta e cinco, quê?" "Um e quarenta e cinco". Depois diz que está muito frio "...mas hoje não tenho porque estou cheia de roupa, dois pares de meias calças por baixo das calças e muitas camisolas e casacos". Realmente era verdade: aquela mulher já de si façanhuda hoje estava toda enchouriçada. Despediu-se com um "não tenho troco pra darle " e eu saí para o ar frio da manhã com um certo alívio, confesso.

Friday, January 09, 2009

O mais favoritos de sempre



1. its time for moving on. again., 2. Scary Ronald McDonald, 3. Untitled, 4. Untitled

Neve



Quando neva aqui as pessoas arrancam-se umas às outras da cama para comentarem os flocos. Recebi mensagens e telefonemas dos que gosto, dos que me gostam. Afinal não nevava há vinte e dois anos. A neve traz uma esperança estranha, há quem vista mais casacos e camisolas (sorrisos para ti!), a Polka dorme quente na casota e depois vai chatear a Bonita. A neve parou agora mas, há umas horas, fui comprar pão com ela a cair no casaco.

Thursday, January 08, 2009

murmúrios do mar

murmúrios do mar

Paga-me um café e conto-te a minha vida

O inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro

Outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu não, tu nunca choraste
por amores que se perdem

Os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
e temos saudade desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois

“Pago-te um café se me contares
o teu amor”

José Tolentino de Mendonça

Luz da tarde

Sunday, January 04, 2009

Juan Muñoz

Guardei-me para o fim e fui ouvindo: alguns gostaram muito outros não gostaram nada. Mas não será sempre assim a reacção possível perante uma arte inteira?
Foi assim que eu vivi a exposição de Juan Muñoz – a gostar muito. Tudo certo, tudo no sítio, cuidadosamente concebido e executado para fazer explodir sensações. Caberá também aqui uma palavra para a excelente montagem da exposição, sabiamente disposta no espaço do Museu que nos surpreende sempre, excedendo-se a ele mesmo.
Sobre a figura humana, extremamente humana, repetida muitas vezes, sempre igual e sempre diferente: não é o pormenor que interessa mas a expressão, a pele, o pano, as rugas expressivas, as mãos torcidas e imperfeitas, a ausência de pés. O homem e a sua sombra, a sombra mais poderosa do que o homem, a sombra do homem no contexto, feita texto. O homem sem escala na paisagem urbana, feita com um padrão de chão aflitivo. O minucioso elevador, cheio de movimento, luz e cor, perfeitamente rigoroso. As varandas e os corrimãos, o hotel. Conceptual e preciso, parco e intenso, como os dois minúsculos homens sentados em não diálogo. Percorrer o Museu de Arte Contemporânea de Serralves para conviver com o mundo de Juan Muñoz é entender melhor o nosso mundo para nele, dentro dele, encontrar pedaços de paz.
Cada vez gosto mais de escultura!

Sobre Christopher Wool, depois de Juan Muñoz, uma história que não sei contar.