Saturday, June 02, 2007

ainda os livros

Quando há quatro, cinco anos, cheguei a Barcelona no dia 23 de Abril, era o dia do livro. A cidade estava em festa. As pessoas andavam com os livros na mão, na rua havia livros, ofereciam-se livros. Com "A sombra do Vento" fiquei a conhecer o Cemitério dos Livros Esquecidos. Uma grande biblioteca, com um guardião Isaac. " Este é um lugar de mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?".
Quantos segredos somos capazes de guardar, quantos livros passam esquecidos no tempo - livros demasiado importantes para alguém, que às vezes temos a sorte de nos virem parar às mãos, ainda que não pela mão do pai desvendando o segredo do Cemitério dos Livros Esquecidos. Aqui os livros que não se lêem destróem-se, não pela força purificadora do fogo, mas pela mão impiedosa da sociedade de consumo.

2 comments:

Anonymous said...

(eis por que continuo a passar por aqui)























gostei muito!

maria said...

Acredita que vale a pena.