As da minha vida, chamam-se Rosalina, Rosa, Beatriz,… e hoje são quase inexistentes. A Rosalina acompanhou-me quarenta e oito anos. Andou comigo ao colo e sempre me chamou menina. Foi para casa da minha Avó com treze anos e lá morreu com oitenta e um.
“A minha Senhora.” Era e é sempre assim que se referem à dona da casa onde trabalham. Vivem realmente numa espécie de escravatura, hipotecam o futuro, estas mulheres – memórias vivas do passado.
À Rosalina, história que conheço bem de perto, tentamos recuperá-la para a família. Passou a comer à mesa connosco, a ter todos os direitos e carinhos que se dão a uma avó. Mas ela fazia questão em manter o seu lugar, esquivando-se a mimos, que julgava inadequados à sua condição. Nunca cortou o cabelo, que amarrava no tradicional puxo, resistia a sair de casa e enjoava nas viagens de carro ou de camioneta, nunca foi à praia, nunca foi a Lisboa. Era a guardiã da casa, da qual só saiu uma dúzia de vezes, as mais delas, para o hospital – andava sempre aos tombos. Continua lá, sentada no banco da cozinha a descascar feijões ou ervilhas, que dividia em saquinhas para dar aos meninos.
Cozinhava como ninguém, mas fazia também as suas aldrabices que, mesmo depois de detectadas, raramente confessava.
Restam ainda algumas sobreviventes. Vieram “da terra” para servir e adoptaram de corpo e alma a “ Minha Senhora e os Meninos”.
O que pensam estas mulheres da vida delas? O que sabemos nós, os meninos, das vidas delas?
No comments:
Post a Comment