Monday, February 27, 2006

A recordar

Maia, 30 de Maio de 2004

Tentei, mais do que uma vez, escrever-lhe uma simples frase. Tenho muito para lhe dizer, sei-o dentro de mim, mas não me sinto apta a transformá-lo em palavras.
Queria agradecer-lhe os livros e os poemas que me emprestou, as aulas que deu e os sorrisos que sorriu com olhos. Queria agradecer-lhe o conforto, a ténue segurança e o doce alento que trouxe à minha descoberta interior, que apenas agora comecei, mas que acarreta já dúvidas e medos imensos.
Queria muito explicar-lhe como, nas suas aulas, frequentemente, encontrei o que precisava numa curta frase (palavra, som) de um poema. Queria muito explicar-lhe como, por vezes, essas palavras me apanhavam desprevenida, me secaram lágrimas antigas. Queria dizer-lhe tudo isto, queria mostrar-lhe como estou grata mas, agora que escrevo, tudo me parece incoerente e estupidamente pequeno, comparado com o que sinto. Começo a aborrecer-me com esta incapacidade sucessiva.
“As palavras são pedras”. E são-o realmente. Tornam concreto e plano o que tento dizer. Gosto do silêncio, professora. Faço por não gastar certas palavras. Vou comprar aquele livro também. No entanto, atrevo-me a abusar um pouco mais delas: obrigada por me ensinar a gostar muito de poesia, obrigada mesmo.

Joana

***

Foi assim que, há dois anos, percebi qual era o meu caminho, que descobri qual era a estrada a seguir, para me perceber e concretizar. Sei que tem buracos e eu tenho a tendência para dar trambolhões, desviar-me a fazer curvas e duvidar do caminho. Sei que darei muitas voltas e sei que nunca chegarei ao fim da estrada, de uma forma absoluta e completa. Mas ela, esta senhora, continua cá para me guiar e me levar a bom porto. E eu hei-se lá chegar. Obrigada.

Saturday, February 25, 2006

O segredo de Brokeback Mountain

Fomos os três ao cinema. Eu a Joana e o Pedro.
Depois do filme, como sempre e como gosto, conseguimos quebrar silêncio e falar sobre ele. O silêncio depois de um filme é essencial. Como depois de um sonho, depois de um concerto, depois de uma conferência, depois de... qualquer coisa que, porque nos tocou, precisa de espaço. Ficamos tensos se temos, logo de seguida, de manifestar opinião.
Foi igual com este. Passaram duas horas. Mesmo assim não sei se sei alinhavar alguns pensamentos. Tentemos.
Perguntava-me a Joana: Gostaste? Respondi: Não sei.
Agora posso dizer gostei. Porquê?
Porque de um modo directo e sensível vi abordar a homosexualidade. Sem preconceito? Julgo que não. O filme é feito sobre o preconceito. Ele próprio discorre sobre ele. Sobre a dificuldade de assumir preferências. Sobre a impossibilidade de assumir preferências. O que não é possível viver de outra maneira, porque a vida normal e a sociedade o impedem, será vivido assim, sob o olhar magnífico e ominipresente de Brokeback Mountain, inventando fins-de semana de pesca entre amigos. Apenas sob a discrição do céu e das montanhas pode ser consumada e vivida uma relação interpessoal tão natural e saudável que se transforma em desejo. Cá fora, no mundo real, tudo continua sob o domínio da regra e do correcto, ainda que o caminho da paixão leve, por inexistência de alternativa, à vida solitária. Quando assim não é, sobrevém a morte – destino ou castigo social – fica a dúvida
Dizia a Joana e eu concordo: “ O filme devia ter acabado quando eles se encontram a última vez em Brokeback Mountain”. De facto nada do que se segue acrescenta ao filme, apenas baralha. Ennis viverá sobre a culpa e sobre a dor da perda, encontrando pedaços do passado, mensagens de amor, que tendem a reduzir o filme a um melodrama tradicional. Mas o que me impressionou foi exactamente o contrário: contra o que o mundo heterosexual pensa e faz passar o amor entre dois homens, é realmente entre dois homens, másculos e viris. A idéia de fazer corresponder a cada homem um dos sexos, como se o amor, a paixão e o desejo só fosse possível entre dois contrários, dois seres que se completam, se fundem e se unem porque se complementam, não é verdadeira, pelo menos aqui. É puro preconceito.
Gostaria de perceber, para além da opinião dos críticos cinematográficos, que vêem o filme sob o ponto de vista do o objecto artístico, como é que um homem assumidamente heterosexual, entende este filme.

Friday, February 24, 2006

recomposição

Como um arqueólogo que junta bocados do passado, pacientemente, teimosamente…
Como quem faz um puzzle e junta peças, pacientemente…
Como um psicanalista, que junta passos, pacientemente, inteligentemente…
Como um poeta que junta palavras, sabiamente…
Como um pássaro que junta palhas e penas, diligentemente…

Juntar, relacionar de um modo quente
Criar ambiente perfeito para nossa imperfeição
Ninho
Gerar um lar é um dom.

no príncipio

(…)
Dir-lhe-ia
Vê como vejo. Não quero viver contigo, nem com ninguém. Quero ser nómada ou eremita. Ir ou estar, de modo só. Ocupar-me na observação do que vejo, e sinto, e imagino.
Criar mundo no pensamento, praticar o paradoxo.
Cuidar absurdamente do meu jardim, limpar o limiar da minha porta.
Dar forma. Aprender a linguagem dos pássaros.

De tempos a tempos, vir ter contigo, humana.
Praticar o rito do chá, a delícia da tua morada, a claridade do teu espírito,
O prazer do corpo. (…)

A tal página 107 de Finita de Maria Gabriela Llansol. Isto e muito mais. A tal escrita que poderia ter sido hoje e aqui escrita por alguns de nós. Escrita presente. Sem passado e sem futuro. Vida intensa e silêncio…mas também reverberação.
No princípio era o Verbo. Não era o nome, nem o adjectivo, era o Verbo – acção pura imaterialidade.

Monday, February 20, 2006

ler

Por vezes sentimo-nos tão identificados com a escrita de outros que faz sentido perguntarmos se ela tem passado. Se o que lemos, não foi escrito por nós, para traduzir aquilo que sentimos e pensamos no exacto momento em que o lemos. Acontece-me frequentemente e ainda bem. Só não faz sentido a pergunta, porque a mais das vezes, o que leio traduz muito melhor o que eu penso e sinto do que eu seria capaz de escrever. Esta é a diferença entre um poeta e eu … que procuro.
Ler é muito bom.

Saturday, February 18, 2006

nostalgia negra

Escrever hoje é uma catarse. Tentar pelo encadeamento de uma linguagem comunicável encontrar o sentido que falta para ligar o somatório de estratos quotidianos. A língua é uma estrutura de pensamento, que se funda na nossa cultura e por isso nos agarra, submetendo-nos. A estrutura do meu pensamento feito linguagem permite-me clarificar o meu modo de estar no mundo, reconhecer uma filosofia.
Não me é difícil escrever. A escrita está muitas vezes além do que consigo pensar, estruturar, relacionar. Por isso a dicotomia entre o que escrevo e realizo pensamento e o que sinto/vivo é muito acentuada. Aquilo em que acredito como verdadeiro sinto-o como dor. E a essa dor, ao contrário do que diz António Damásio, não tem para mim correspondência física. Não a detecto conscientemente no meu corpo, apenas no vazio da minha alma, talvez acompanhada sim, de uma respiração activamente lenta e funda que ocupa dentro do meu peito um lugar maior do que ele.
Para estes momentos, apenas estádios de linguagem poética ou música podem constituir sinónimo, acentuando o sentimento, numa doçura de morte.
A música sei onde vou buscá-la: Arvo Pärt, Mahler, Ravel ou Debussy.
O poema vou procurá-lo…ou alguém, que o saiba, me prende.

Thursday, February 16, 2006

a carta de condução

Está desvendado o segredo do post de ontem. A Joana já tem carta de condução.
Hoje começa o futuro na estrada. Sei que conscientemente, quero que conscientemente. Conduzir é uma responsabilidade. Pegar num automóvel dá-nos independência, mas exige muito autodomínio.
Ao fim de 26 anos na estrada tenho dois medos: a distracção e a violência pela auto-afirmação.
O primeiro tenho-o por mim. O segundo tenho-o pelos outros.
Ser distraída, conduzir sem pensar no que estou a fazer, de um modo automático é um risco que, todos os dias, me esforço por não correr. A minha cabeça trabalha muito enquanto conduzo: programo o dia, o trabalho, as tarefas domésticas, vibro com a música que ouço, com as paisagens que vejo… e sonho. Contra essa tendência tenho algumas defesas. Ando sempre devagar, esforço-me por me concentrar, respeitar passadeiras, peões, limites de velocidade...
O segundo assusta-me. Não gosto de ver as pessoas transformarem-se em animais ferozes ao volante, como se o carro fosse uma arma de defesa ou de ataque. Impacientes, rabujam, insultam, vociferam…. Egoístas, estacionam em cima dos passeios, à porta das lojas, em segunda fila… e dentro do automóvel têm sempre razão. E hoje cada vez mais também fora dele: saltam fora do carro e agridem. O aconchego da máquina, o sentido de posse e de poder arrebata e leva o cidadão mais anódino a cometer actos impensáveis.Desculpem-me a brejeirice, mas lembro-me sempre do Mister Been, que quando entrava no automóvel, este ficava com uma grande pila levantada.
A distracção e auto-afirmação duas formas de egoísmo que temos que aprender a dominar quando nos é dado o direito de conduzirmos.

Wednesday, February 15, 2006

Voto

Apenas um voto: que tudo te corra bem. Às vezes o caminho que nos parece certo, não é.
" Deus escreve direito por linhas tortas" mas, às vezes, Deus também escreve torto por linhas direitas. Vá lá a gente entender...

Sunday, February 12, 2006

on line

Por dentro. Ainda por dentro, com medo de que alguma pedra do dia venha desfazer esta magia:

Sol quente, conduzindo na VCI, acima, lentamente
Deixei a Joana em Campanhã
Herberto Helder por Herberto Helder
De (no) regresso
poesia
A minha vida feita poema – melancolia.

Encanto que não se quebrou
inflexões integradas
vozes, barulho de colheres - o silêncio
interior povoado
de rupturas, imprecisões
inteiras
que convivem ternamente
no limbo de um torpor maior…
Deixem-me estar.

Quem me dera ter o dom de vos levar a esse lugar!

esclarecimento

Devo um esclarecimento.
O poema da Maria do Rosário Pedreira foi enviado pela Susana à Joana.
Este simples facto revela-se muito significativo, para mim e para este blog.
Para mim, porque cada vez mais, o meu modo de vida assenta em dois paradigmas, que penso são visíveis no que vou escrevendo: comunicação e individualidade.
Para o blog, porque o seu conceito inicial assentou na necessidade e na vontade de comunicação intergeracional.
Por isso é bom que isto aconteça e que aconteça muito mais, trazendo para aqui vontade de debate, de troca de ideias e de experiências.

A Música

Há dias em que a música me ultrapassa, por ser perfeita para aquele bocadinho de dia, ou espaço temporal. Não consigo escrever a banda sonora da minha vida, mas sei qual é a música que tocará quando estiver a morrer e a ver os meus passos passarem-me à frente dos olhos. Conheço o seu som decadente e reconheço-a. Não sei nada de música, formalmente. Amanho-me mal com pautas e flautas e, no entanto, tenho-lhe um apego! Sinto-a sempre e todos e dias e de formas diferentes. E depois há memórias nas músicas: dias, cores, os olhos pintados com o risco preto numa manhã de fevereiro do ano passado, um fim de tarde de ressaca em Aveiro a escrever poemas sozinha, nos cafés, a pensar, o verão nos Pirineus, as viagens de carro, as praias, os ex-namorados e os pequenos almoços juntos. A música, a música!


A Música

I.
A música é
A gabardine do dia
Que corta a chuva
Até quando ela nos bate.

A chuva não molha
Quando o dia são notas
E as notas são horas.

II.
A música é
O cabide do dia
Penduramo-lo de mansinho
Pelas pontas.
Desejamos que não caia
Que não se desfaça.

E o dia faz-se
Em cal branca
Na parede da vida.
E o dia pendura-se
Na malha da música.

Até amanhã.

Olívia Rosmaninho


Saturday, February 11, 2006

assim serenamente

Aprender a viver em espaços diferentes e não querer sempre tudo e todos. Aqui ganha um enorme sentido o respeito pelo outro. A capacidade que, com a idade(maturidade) vamos conseguindo, de nos levantarmos antes de todos e serenamente esperarmos os seus acordares.

Guarda tu agora o que eu, subitamente, perdi
talvez para sempre - a casa e o cheiro dos livros,
a suave respiração do tempo, palavras, a verdade,
camas desfeitas algures pela manhã,
o abrigo de um corpo agitado no seu sono. Guarda-o

serenamente e sem pressa, como eu nunca soube.
E protege-o de todos os invernos - dos caminhos
de lama e das vozes mais frias. Afaga-lhe
as feridas devagar, com as mãos e os lábios,
para que jamais sangrem. E ouve, de noite,
a sua respiração cálida e ofegante
no compasso dos sonhos, que é onde esconde
os mais escondidos medos e anseios.

Não deixes nunca que se ouça sozinho no que diz
antes de adormecer. E depois aguarda que,
na escuridão do quarto, seja ele a abraçar-te,
ainda que te tenha revelado uma só vez que o queria.

Acorda mais cedo e demora-te a olhá-lo à luz azul
que os dias trazem à casa quando são tranquilos.
E nada lhe peças de manhã - as manhãs pertencem-lhe;
deixa-o a regar os vasos na varanda e sai,
atravessa a rua enquanto ainda houver sol. E assim

haverá sempre sol e para sempre o terás,
como para sempre o terei perdido eu, subitamente,
por assim não ter feito.


Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o Cheiro dos Livros.

...é assim mesmo num tempo de clivagens.

Wednesday, February 08, 2006

para ti(s)

Tenho saudades tuas. Muitas, muitas…
Das nossas conversas, mulher para mulher, ao jantar.
Dos comentários ao melhor arroz do mundo…hoje quase.
De navegar em atmosferas líquidas, que nos levam para espaços inter galácticos
Como hoje, sozinha em vapores distorcidos.

Tenho saudades. Mas, aqui sozinha, recrio o tempo em que estou contigo.
Ele já pôs os fones. Bem sabes … que a música pode tocar todos os níveis da experiência humana. A bordo da nave de John Seri, quem conhece o espírito daquele?
Incongruências quotidianas nos dias anódinos da semana.
Uma boa noite para ti. Em qualquer cama, encontra os melhores sonhos.

emoções

“Os seres humanos estão de parabéns, pelo menos em parte, por duas razões. Primeiro, porque em situações comparáveis, as reacções automáticas criam no organismo humano, sem qualquer dúvida, condições que são mapeadas no sistema nervoso, representadas como agradáveis ou dolorosas, e eventualmente feitas conscientes. É exactamente nesta capacidade que vem a ter origem a glória e a tragédia humanas. Quando à segunda razão para os parabéns: os seres humanos conscientes da relação entre certos objectivos e certas emoções podem esforçar-se, de livre vontade, por controlar as suas emoções, pelo menos em parte.”

António Damásio; Ao encontro de Espinosa; Publicações Europa América; pág. 69

Esta capacidade de, de livre vontade, controlarmos as nossas emoções, ou digo eu, de contornarmos os objectivos/obstáculos de modo a evitarmos certas emoções, distingue-nos dos animais. Ou então torna-nos iguais ou piores, quando, sabendo que vamos desencadear essas mesmas emoções, as provocamos indo directos ao objectivo que as vai provocar, de livre vontade. Conscientemente caminhamos para aquilo que, de acordo com o mapeamento do nosso sistema nervoso, sabemos que nos vai gerar emoções dolorosas, a nossa tragédia humana.

Saturday, February 04, 2006

gineceu ii

Rescaldo de outro gineceu.
Voltando ao tema da casa de mulheres. Desta vez sem qualquer provocação.
Tenho para mim que o sexo, entendido no sentido restrito, limita um relacionamento profundo e intenso, quando falamos em grupos de mais que duas pessoas. Quando numa relação de partilha e de dádiva se intromete o desejo sexual e com ele o sentido de posse, de exclusividade e de ciúme, a relação fica prejudicada. Por isso será mais fácil que a intensidade das relações se atinja em grupos do mesmo sexo ou em grupos em que o objecto sexual sejam pessoas do sexo oposto (para não excluir situações de homosexualidade, já que as de bisexualidade nunca se poderão englobar nesta reflexão).
Isto para chegar a outra interrogação: será que a célula base da nossa sociedade ocidental, a família (pai, mãe e filhos ou homem e mulher) é a mais correcta ou, dito de outro modo, a que nos faz mais felizes? Porque assentes nesta célula base de organização social, somos induzidos a regrar as nossas vidas pelo sentido da exclusividade e da fidelidade (entendida como tudo vale, menos partilhar o corpo – quanto a mim um conceito muito estrito e materialista). Para alguns mais evoluídos, até a admissão dos chamados “casos” pode ser integrada no conceito de família. Desde que tenha sido uma coisa episódica, confinada no tempo... satisfeito o desejo: foi uma “fraqueza” passou e até muitas vezes consolidou a relação do casal.
Não partilho de modo nenhum esta perspectiva. Entendo que qualquer relação interpessoal tem que partir da base da individualidade e do respeito por ela. A concepção cristã de que pelo casamento são “dois num só” não faz, para mim, qualquer sentido. Eu sou Um, completo e independente, que me relaciono com outro(s) para valorizar ou intensificar partes desconhecidas ou adormecidas desse Um. Eu aceito viver com outros desde que o respeito pela minha individualidade e pela minha intimidade seja total e assim de total confiança. Não a confiança básica, que se justifica pela hipotética certeza da exclusividade da relação. Antes a confiança de que tudo o que o outro faça é para a sua realização enquanto pessoa e isso nunca pode prejudicar os outros que ele ama – eu/nós. Eu gosto do outro, sou amada por ele na minha especificidade, amo-o na sua e permito-lhe a liberdade de ele se expressar, se realizar nas múltiplas facetas, algumas das quais, não tem nada a ver com as minhas. Viver assim exige verdadeiro amor: dádiva sem espera de retorno. Duro, difícil na prática, quando há o tal desejo de posse e medo de perda, que sobrevém ao sexo e à paixão física ( ainda que platónica). Porque, se for platónica, as nossas mentes desculpam, mesmo que o nosso credo condene. Um dos dez mandamentos é: Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
Regresso ao início: viver numa casa de mulheres heterossexuais. Muitas das quezílias, zangas, pecados e “mortes”, que se vivem no seio das famílias tradicionais, ficariam de lado… e permitiria partilhar os encargos pesados da educação dos filhos, da logística do lar e algum conforto afectivo que sempre faz falta.

Friday, February 03, 2006

recompor

"Ela tinha toda a vida presa por um fio. Nas mãos dela estava um papel coberto de palavras que ela havia de ler e reordenar. Há uma física e uma química das palavras; há uma electrólise da linguagem, pensamento elevado a símbolo, investido e despojado, polarizado pelo sangue, ancorado no instinto, mudando com a lua o rumo das marés por todo o ciclo monótono e louco da vida e da carne imaginadas, grades de cárcere e janela do céu, canto e delírio. Ela havia de tomar nas mãos as palavras uma a uma, a intangível harmonia íntima do cátodo e do vórtice e a doce e visível substância do crescimento molecular, havia de tomar nas mãos palavras e reordená-las dinamicamente em escrita da vida."

Não me apetece dizer de onde tirei o texto. Regressei apenas. Com a vontade de recompor sentimentos em palavras, em escrita de vida.

Wednesday, February 01, 2006

aviso

Estou com dificuldades de acesso à net.
Estou com muito trabalho. Não estranhem a ausência.
Mas também como tenho pouco eco...vamos andando.
Até amnhã.