Aprender a viver em espaços diferentes e não querer sempre tudo e todos. Aqui ganha um enorme sentido o respeito pelo outro. A capacidade que, com a idade(maturidade) vamos conseguindo, de nos levantarmos antes de todos e serenamente esperarmos os seus acordares.
Guarda tu agora o que eu, subitamente, perdi
talvez para sempre - a casa e o cheiro dos livros,
a suave respiração do tempo, palavras, a verdade,
camas desfeitas algures pela manhã,
o abrigo de um corpo agitado no seu sono. Guarda-o
serenamente e sem pressa, como eu nunca soube.
E protege-o de todos os invernos - dos caminhos
de lama e das vozes mais frias. Afaga-lhe
as feridas devagar, com as mãos e os lábios,
para que jamais sangrem. E ouve, de noite,
a sua respiração cálida e ofegante
no compasso dos sonhos, que é onde esconde
os mais escondidos medos e anseios.
Não deixes nunca que se ouça sozinho no que diz
antes de adormecer. E depois aguarda que,
na escuridão do quarto, seja ele a abraçar-te,
ainda que te tenha revelado uma só vez que o queria.
Acorda mais cedo e demora-te a olhá-lo à luz azul
que os dias trazem à casa quando são tranquilos.
E nada lhe peças de manhã - as manhãs pertencem-lhe;
deixa-o a regar os vasos na varanda e sai,
atravessa a rua enquanto ainda houver sol. E assim
haverá sempre sol e para sempre o terás,
como para sempre o terei perdido eu, subitamente,
por assim não ter feito.
Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o Cheiro dos Livros.
...é assim mesmo num tempo de clivagens.
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2 comments:
Gostei muito muito muito m...
até pelo modo como abres a página,
no fim uma palavra que é tua inquieta-me m, estou de partida, m, não posso alongar-me m,
mas marquei a página m com um laço de linho... ainda volto.
M
Eu agradeço é a susana por me mandar email tão bonitos com poemas tão bonitos.
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