Wednesday, April 26, 2006

com ou sem cravo

Há dias assim contra a norma, contra a regra, que nem por isso me seduzem. Vagueio pelas horas como sonâmbula, sem deixar de ser uma imagem desfocada, descontextualizada: nem mãe, nem mulher, nem profissional, nem dona de casa, nem mulher de limpeza. Retiro a maquilhagem que nada encobre nem nada refaz. Dispo a roupa e apetece-me pôr sobre o corpo, para conformar a brisa, uma t/shirt velha e umas calças largas não de forma, mas por ausência de conteúdo…e apagar-me lentamente em vapores de incenso e penumbra.
Há dias assim, dias de mudança, dias sem nome e sem tom, ainda que cheios de significado social e cultural: 25 de Abril. Talvez assim seja porque Abril 25 tem para mim muito significado na memória. Tem demasiado significado para poder ser confundido com uma polémica sobre um cravo na lapela, ou não, enquanto se faz discurso na Assembleia da República. Porque sim ou porque não, falsa discussão, sobre a posse de um símbolo, que não morrerá na minha história, com ou sem ele na lapela ou no decote.

2 comments:

Anonymous said...

ABRIL tende a perder o seu significado colectivo, talvez porque a geração que a fez vai sendo inexoravelmente substituida por outra e depois outra, cada qual ideologicamente mais "abstracta" que a anterior.E quanto mais a revolução se tornar numa efeméride competente, menos dirá aquilo que simboliza...
O que tem dito cada comemoração do dia de Portugal? e a do dia do trabalhador? e o dia do livro? ...

R

maria said...

Caber-me-á a mim não deixar morrer o significado. Pelo menos para aqueles que me estão perto e de quem gosto...muito.
Caber-me-á a mim descobrir outros significados, ainda que não marcados pelas efemérides pré-fabricadas, mas por experiências roubadas ao tempo, "esse grande escultor", que tanto nos tiraniza.