Wednesday, October 31, 2007

Duas ideias

A primeira: a passividade activa constrói-se na consciência do que somos, sem nada ter que provar a ninguém.
A segunda: A consciência do que somos dá-nos a perceber a nossa insignificância.
Não sou mais do que um ínfimo elo de uma cadeia, mas porque é um elo, une a cadeia , tem um significado insignificante no conjunto de todos os elos.

aguardemos

Ainda que a vontade seja alguma, o tempo é pouco. Repartido entre trabalho, lida da casa complicada por circunstâncias imprevistas e outros afazeres quotidianos, quase só dá para vir aqui ver se há algum sinal dos outros e da outra. Por isso paciência é o que se espera e perseverança o que se propõe. Até novos dias mais calmos.

Friday, October 26, 2007

Parabéns JOANA

Amanhã a outra blogueira faz anos. Como não tem vindo aqui espreitar, consta que anda muito ocupada noutras paragens cibernáuticas, ficam já os parabéns, meus e vossos, dos que tem saudades dos seus post's.

Thursday, October 25, 2007

Como os espaços influenciam a audição

Ontem voltei ao Teatro Circo para ouvir David Sylvian. Já lá tinha estado a ouvir Philip Glass. Da primeira vez muito pior instalada. Desta, apesar de melhor, mal também. Decididamente penso que este teatro foi mal recuperado. Talvez porque a pré-existência, e a decisão de a manter, não tenha permitido a adaptação às novas necessidades regulamentares... e sobretudo de conforto pessoal. Os espaços de ante-câmara entre a rua e a sala de espectáculos são muito maus, exíguos, atrofiados, demasiado expostos ao exterior. Os apoios, como as instalações sanitárias, insuficientes e metidos "a martelo" no edifício pré-existente. Tudo isto cria uma atmosfera proviciana e devassada que me perturba. Já não gosto de ver pessoas a entrar e sair durante os espectáculos nem de ver portas a abrir revelando a luz crua dos corredores. Não gosto das cadeiras, nem dos espaços entre elas, demasiado apertados, mesmo para uma pessoa de dimensões módicas, como eu.
E em David Sylvian o espaço é muito importante. O conforto que permite a ausência e o alheamento são essenciais. A música não é permissiva à devassa do espaço pessoal necessário à audição como experiência individual. David Sylvian merece uma cama, um colchão, tapetes ou simplesmente um espaço ao livre pleno de natureza.
Talvez na Casa ... da Música fosse melhor. Ele, o próprio, para mim foi bom.

Sunday, October 21, 2007

A casa e a Música

Às vezes a casa sobrepõe-se à música. Às vezes a casa também é música. Casa e música misturam-se.
Quanto ao concerto, soube-me bem. Talvez não fique nada de excepcional na memória para além de um António Saiote sempre impressionante. Vivo, próximo, humano, sem preconceito. E depois toca muito bem: um clarinete com alma.
Sibelius e Prokofief já conhecia, ainda que não muito bem - mesmo para o padrão de uma leiga. Bolcom - a novidade. O universo e a cultura americana sempre me atraíram e gostei - à medida do despretensiosismo de Saiote. Ecléctico e mix, os nossos ouvidos e a nossa pele podiam ouvir e arrepiar-se de muitas maneiras, ou não. Podiam simplesmente descansar, foi isso que fiz sem muito esforço.
Mas a casa, o anoitecer dentro dela é sempre bom. A cortina negra vai-se tornando mais negra pela ausência de fundo oferecido pelo anoitecer.
É bom viver no Porto. Ou será assim porque a casa nos faz sair do Porto?

Saturday, October 20, 2007

estamos podres

Dou comigo a pensar que não sou deste tempo. Ou ando a dormir, ou sou inocente .
Fui educada segundo princípios de integridade, de verdade para além da aparência, de espírito de entreajuda, de solidariedade. A metáfora do que presencio é o de um fruto, por exemplo uma maçã ou um pêssego, muito bonitos e perfeitos por fora e completamente podres por dentro. Cheios daqueles lagartinhos brancos que perfuram o fruto, minando-o por todos os lados, criando cavernas que inutilizam e apodrecem todo o interior. É assim que vivemos. Olhamos para as pessoas e vemos caras, pintadas e esticadas, sem sonharmos que as suas vidas se fazem de arranjos, prisões, mentiras. Estão todos presos uns aos outros por malabarismos inconfessáveis mas sempre tolerados, pelos medos gerados por quem tem telhados de vidro.
Tenho saudades das famílias que contavam o dinheiro que tinham e viviam à medida do pouco que possuíam. Não do miserabilismo, mas do orgulho de ser sério.
Espero que este discurso não seja interpretado como retrógrado ou reaccionário... porque para mim reaccionário é quem vive de fachadas mantidas à custa do dinheiro de plástico.

Wednesday, October 17, 2007

guerra

Não tenho grandes reflexões para este lugar... talvez porque simplesmente não me apetece puxar pela cabeça. Trabalho o dia inteiro, um BI para renovar em corrida à loja do cidadão, um texto para escrever à noite e ainda o documentário Guerra, hoje em estreia. Não gostei dele como documentário, como objecto, mas enriqueceu-me, porque soube algumas coisas que não sabia. O Pedro viu comigo. Parece impossível como conseguimos rir-nos perante tamanha crueza. Talvez qualquer coisa não esteja bem, ou então, mesmo na altura, muita coisa não esteve bem.

Sunday, October 14, 2007

Avô

Isto hoje é muito sério…não que habitualmente não o seja.

O Avô dos meus filhos está doente. Cheguei a casa à hora do almoço e disse que ia vê-lo. Não é perto e a decisão da ida implicava a “perda” de um sábado. De imediato os dois disseram que também iam. Eu não disse: “ Meninos, vêm comigo ver o avô.” Eles disseram espontaneamente que iam. Aliás a Joana já o tinha dito antes.

O Avô está doente. Esteve no hospital e está muito debilitado. Quando lá chegamos estava sozinho porque a Avó tinha ido às compras. Ficamos cerca de uma hora a falar com ele, sobre teatro, sobre literatura, sobre desenho, sobre pintura, sobre a experiência do hospital. Há muito que não o fazíamos. Ele sempre foi a personagem superior e distante que distribui máximas e repreensões veladas pelos netos, sobretudo por estes, que são mais “destemperados”. Hoje era um homem frágil, humano, sensível que se emocionou com a nossa – deles- presença.

Isto leva-me a reflectir sobre a tendência para esconder a doença, a velhice ou a morte às crianças e aos adolescentes. O contacto com estes lados da vida só os enriquece e os faz mais homens e mais sensíveis. Eles não precisam de procurar emoções feitas ou induzidas para sentirem. Regressaram felizes e eu com eles, em paz.

Saturday, October 13, 2007

The pillow man

Os lugares sociais condicionam o relacionamento humano. Só é possível estabelecer relações de amizade em situações de equilíbrio. A admiração incondicional ou a dádiva calculista mascaram a entrega gratuita. Ser em relação sem esperar, ser à vontade na certeza que há sempre um ombro para chorar, incondicional e gratuito, é bom. The pillow man, ainda que não na acepção da peça de teatro, porque não troco a vida pelos sofrimentos futuros, ainda que sejam muitos! Porque a felicidade ( palavra vã) se faz da soma de muitas infelicidades - ou como nos ensina a matemática menos com menos dá mais.

Wednesday, October 10, 2007

Conta-mina em Madrid

identidade

Ouvi uma entrevista com o psiquiatra Pio de Abreu que dizia que a nossa identidade se define através da imagem que os outros nos devolvem. Hoje reflectia nesta circunstância da definição da identidade individual, que não se define por si só, mas precisa de ser devolvida pelos outros para que dela tenhamos consciência – um paradoxo irónico, sem dúvida! O individual uno e solitário não existe se não houver outros que reflictam a sua imagem. Um eremita no meio do deserto não se concebe a ele próprio como ser com identidade?

Tuesday, October 09, 2007

Goya

À parte alguns percalços que me impedem de ilustrar com imagens momentos geradores de estados de alma, venho de "barriga cheia".
De todas as experiências uma se destaca, pela particularidade de ser o motivo próximo da ida e pelo prazer que proporcionou.
Sábado de manhã, um dia luminoso. Direcção interface Príncipe Pio. Rumo Glorieta de Santo António de la Florida para visitar a ermida do mesmo nome. Uma ermida pequena, com a densidade e a clareza que lhe é conferida pelo estilo neo-clássico, erigida entre 1792 e 1978, segundo desenho de Felipe Fontana, para substituir uma outra, mais antiga, ambas dedicadas à devoção de Santo António - o nosso, o de Pádua, como é referido na literatura.
Entramos pelo lado esquerdo na nave e ao mesmo tempo que elevamos o olhar as imagens agarram-se à nossa pele e transportam-nos para um espaço entre... o céu e a terra, onde os dois se misturam. Imagens transparentes, cheias de leveza e movimento, enigmáticas, terrenas, à espera do milagre que ali se realiza, no momento. O espaço envolvente à igreja, entrada, sacristia, loja, salas, de uma escala caseira e acolhedora, enfatizam a sensação de grandeza que experimentamos quando entramos no corpo da igreja, afinal uma pequena ermida. ( A escala é matéria que poucos sabem dominar.)
Goya foi convidado para decorar a igreja com frescos em 1798, quando recuperava da grave doença que quase o levou à morte e que sem dúvida o transformou. Também aqui tem tanto de luminoso como de negro, tanto de humano como de divino.

Thursday, October 04, 2007

Madrid

De partida para a capital do país vizinho. Até Domingo!

Wednesday, October 03, 2007

O corte

Afinal o corte não foi substancial. Mesmo assim em conjunto com outras mudanças de hábitos e de horários, espero que resulte nalguma diferença.

Monday, October 01, 2007

“ A mulher é o bicho mais complexo.”

Uma das frases de Aquilino naquela entrevista de que falei, marcada pelo tempo, penso. Penso mais: seria inadmissível hoje chamar à mulher "bicho". Seria inadmissível, que um homem da estatura de Aquilino, assim se referisse à Mulher numa entrevista na rádio nacional. No entanto, à parte o "bicho" aqui tido em consideração depreciativa, pode exprimir apenas estranheza para sua compreensão de homem. Os homens e as mulheres - como se fôssemos duas faces da mesma moeda que tem entre si um muro, que não deixa ver o outro lado.