Saturday, October 20, 2007

estamos podres

Dou comigo a pensar que não sou deste tempo. Ou ando a dormir, ou sou inocente .
Fui educada segundo princípios de integridade, de verdade para além da aparência, de espírito de entreajuda, de solidariedade. A metáfora do que presencio é o de um fruto, por exemplo uma maçã ou um pêssego, muito bonitos e perfeitos por fora e completamente podres por dentro. Cheios daqueles lagartinhos brancos que perfuram o fruto, minando-o por todos os lados, criando cavernas que inutilizam e apodrecem todo o interior. É assim que vivemos. Olhamos para as pessoas e vemos caras, pintadas e esticadas, sem sonharmos que as suas vidas se fazem de arranjos, prisões, mentiras. Estão todos presos uns aos outros por malabarismos inconfessáveis mas sempre tolerados, pelos medos gerados por quem tem telhados de vidro.
Tenho saudades das famílias que contavam o dinheiro que tinham e viviam à medida do pouco que possuíam. Não do miserabilismo, mas do orgulho de ser sério.
Espero que este discurso não seja interpretado como retrógrado ou reaccionário... porque para mim reaccionário é quem vive de fachadas mantidas à custa do dinheiro de plástico.

2 comments:

Ninguém said...

O que comanda o “império do meio”, maioria imensa que progride e regride sobre si mesma, como uma mole cuja ingestão e diálise se fazem de compromissos e combinações de escala e de oportunidade, o que a comanda, dizia, é a mesquinhez; não tanto porque as pessoas o sejam na essência, mas porque os recursos que cobiçam, finitos e contingentes, transitam ou revertem preferencialmente para os que exibam qualidades especulativas e naturezas concorrenciais atraentes.

Claro está que a ganância e a ambição, como a sede ou a fome, depois de satisfeitas, regressarão. O organismo físico tem um metabolismo constante que suporta a vida e que consome energia para tal. Mas o espírito, a personalidade, individual e colectiva, abertamente civilizacional, transformou-se por via deste maxi-liberalismo, num tráfego de desejos que congeminam a inteligência, a ética e demais plenitudes do ser, como nexos em equivalência com os consumíveis. Como sendo plausível pensar no cérebro ( ou pior, na alma) como um outro estômago, e portanto, passível se ser afectado pela mesma natureza instintiva e digestiva.

Manifestações evidentes e repetidas desta ordem estão em constante circulação nas paráfrases que nos levam e trazem, e, para o clímax, pérfido ideal, eis o sorriso inócuo dos que parecem ignorar.





«o exorcismo deve fazer-se, não com a imagem da cruz, mas com a do próprio diado…» «é que o diabo vestiu-se de Messias»
«…»





(cuidado, está a ficar dia!)

Anonymous said...

Mundo Podre...a mesma expressão...
Dito assim, faz mais sentido.
É verdade, sim. Mais custa, saber que a nossa volta, as pessoas são assim como diz. E que me esforço , todos os dias por ser diferente e fazer o certo. Mas no fim, somos apenas desconsiderados. Nunca serei chamada para nada importante porque não pactuo. Não estou a venda, nem me vendi. Sou...à parte. Desilude-me esta rotina. Desiludem-me os rumos.