Sunday, October 14, 2007

Avô

Isto hoje é muito sério…não que habitualmente não o seja.

O Avô dos meus filhos está doente. Cheguei a casa à hora do almoço e disse que ia vê-lo. Não é perto e a decisão da ida implicava a “perda” de um sábado. De imediato os dois disseram que também iam. Eu não disse: “ Meninos, vêm comigo ver o avô.” Eles disseram espontaneamente que iam. Aliás a Joana já o tinha dito antes.

O Avô está doente. Esteve no hospital e está muito debilitado. Quando lá chegamos estava sozinho porque a Avó tinha ido às compras. Ficamos cerca de uma hora a falar com ele, sobre teatro, sobre literatura, sobre desenho, sobre pintura, sobre a experiência do hospital. Há muito que não o fazíamos. Ele sempre foi a personagem superior e distante que distribui máximas e repreensões veladas pelos netos, sobretudo por estes, que são mais “destemperados”. Hoje era um homem frágil, humano, sensível que se emocionou com a nossa – deles- presença.

Isto leva-me a reflectir sobre a tendência para esconder a doença, a velhice ou a morte às crianças e aos adolescentes. O contacto com estes lados da vida só os enriquece e os faz mais homens e mais sensíveis. Eles não precisam de procurar emoções feitas ou induzidas para sentirem. Regressaram felizes e eu com eles, em paz.

2 comments:

Anonymous said...

a vida é um caminhar mesmo...Dizer ao meu filho "a avó morreu" foi algo natural porque nunca pensei em mascará-lo. Mas senti um aperto de dúvida no momento (o querermos o melhor para eles leva-nos sempre a muitos erros...). Hoje sei que foi a melhor atitude, ainda que ele ainda não alcance a plenitue do conceito. Mas entendeu o que significava na realidade. E fala dos mortos com igual naturalidade. De uns porque se lembra de gostar. Dos que já não chegou a conhecer, fala com igual carinho porque sente que foram importantes e porque pressente que, de uma forma que ainda não compreende plenamente, eles lhe "pertenciam".
A vida é isso mesmo...

maria said...

Obrigada pelo testemunho... ele dá o conforto de sabermos que perante as eternas dúvidas sobre o educar há alguns caminhos que confirmam algumas, ténues, certezas.