Tuesday, October 09, 2007

Goya

À parte alguns percalços que me impedem de ilustrar com imagens momentos geradores de estados de alma, venho de "barriga cheia".
De todas as experiências uma se destaca, pela particularidade de ser o motivo próximo da ida e pelo prazer que proporcionou.
Sábado de manhã, um dia luminoso. Direcção interface Príncipe Pio. Rumo Glorieta de Santo António de la Florida para visitar a ermida do mesmo nome. Uma ermida pequena, com a densidade e a clareza que lhe é conferida pelo estilo neo-clássico, erigida entre 1792 e 1978, segundo desenho de Felipe Fontana, para substituir uma outra, mais antiga, ambas dedicadas à devoção de Santo António - o nosso, o de Pádua, como é referido na literatura.
Entramos pelo lado esquerdo na nave e ao mesmo tempo que elevamos o olhar as imagens agarram-se à nossa pele e transportam-nos para um espaço entre... o céu e a terra, onde os dois se misturam. Imagens transparentes, cheias de leveza e movimento, enigmáticas, terrenas, à espera do milagre que ali se realiza, no momento. O espaço envolvente à igreja, entrada, sacristia, loja, salas, de uma escala caseira e acolhedora, enfatizam a sensação de grandeza que experimentamos quando entramos no corpo da igreja, afinal uma pequena ermida. ( A escala é matéria que poucos sabem dominar.)
Goya foi convidado para decorar a igreja com frescos em 1798, quando recuperava da grave doença que quase o levou à morte e que sem dúvida o transformou. Também aqui tem tanto de luminoso como de negro, tanto de humano como de divino.

2 comments:

Ninguém said...

Estive em Madrid no inverno do ano passado ...e demorei-me com Goya, no Prado.
!!!Mas não conheci essa igreja!!!

maria said...

Vale a pena. Também revi o Prado, onde não ia desde os doze anos. Guardava algumas recordações que se misturavam com o que depois vi nos livros. Impressionou-me muito também. Mas a ermida é diferente é só arquitectura e Goya e história e cultura e memória, concentradas num ponto fora dos circuitos turísticos, para celebrar o homem e a arte... e Deus talvez.