Wednesday, October 10, 2007

identidade

Ouvi uma entrevista com o psiquiatra Pio de Abreu que dizia que a nossa identidade se define através da imagem que os outros nos devolvem. Hoje reflectia nesta circunstância da definição da identidade individual, que não se define por si só, mas precisa de ser devolvida pelos outros para que dela tenhamos consciência – um paradoxo irónico, sem dúvida! O individual uno e solitário não existe se não houver outros que reflictam a sua imagem. Um eremita no meio do deserto não se concebe a ele próprio como ser com identidade?

3 comments:

Ninguém said...

Talvez só venhamos a saber a nossa identidade "durante esta quarta-feira" na próxima semana, ou no mês que vem, ou...
No deserto? Como na multidão -uma acomodação superabundante entre os vagos limites do grande “império do meio". Identidade…

A nossa identidade pessoal declara-se não tanto pela passagem dos factos mas pela passagem do tempo, e por causa dele, no fluxo e refluxo de cogitações. E tal passagem do tempo é o cabal alienador da “mesmidade” em que, sem qualquer relógio, nos converteríamos.

No deserto de areias infindáveis, não seria a ausência do outro ou a presença de ninguém a caracterizar o eu, mas a própria intemporalidade referente à escassez absoluta a decidi-lo e a expressar-lo. Mas por que haveria de se identificar, enquanto eu, plenamente singular e abissal, aquele ego que não fosse, constantemente, intimidado pelo tempo, e, sobretudo, pela noção de tempo?

Sem recurso ao recíproco-inverso que o tempo é (ele é que nos conduz para um fim) ( não para o fim), totalizador totalitário de nós mesmos, não haveríamos de ser, sequer a pergunta sobre quem somos!

maria said...

Hoje ouvi que se confirma a nossa construção a partir da poeira estrelar...simplesmente ela pode ter origem nas estrelas ou num buraco negro. Apenas a reafirmação de que nada somos para além disto - partícula ínfima cuja a identidade é apenas a de ser e estar aqui e agora, como a couve, a formiga, a pedra,ou o ar em movimento.

Anonymous said...

Mas seremos mesmo a imagem que os outros nos devolvem de nós próprios? Seremos? Ou seremos mais do que isso? A consciência profunda do conhecimento - e por vezes até da falta dele - do nosso eu, daquilo que secretamente nos move? e a imagem devolvidas pelos olhos dos outros, apenas mera consequência? E quem sabe, em certas alturas, motor de transformação ou de aperfeiçoamento? E se quem nos vê, vê apenas o não-essencial? reduzirme-ei à insignificância dos olhas insignificantes?