Sunday, March 29, 2009

Science: what else?



Estas incursões que fiz pela Ciência através de Science: what else?, conferências com cientistas, teóricos e pensadores que a Universidade do Porto ofereceu aos habitantes fizeram-me lembrar este video de Charles e Ray Eames. Em três dias andei pelo espaço (out), pela genética e biologia sintética (in) e pela a utopia (all) em todas elas. E agora sim, sinto-me ter uma visão mais larga, um entendimento mais aberto, sinto-me ter este vídeo dos Eames nos olhos. Obrigada.

É assim a força da Primavera

“Em Outubro passado eu ia de automóvel para norte de Boston. O céu estava tão azul que cegava, e a estrada atravessava uma zona de floresta. As folhas dos bordos estavam vermelhas, não de um vermelho ferrugem, mas cor de fogo. O ar cheirava a árvores e a mar e era como se o mundo tivesse acabado de nascer. Cada lufada de ar era como um trago de whisky puro. Tive de parar o automóvel. Era como se o meu corpo cantasse. E a maneira de andar das americanas…Não sei estão a ver, mas é como se o vento as empurrasse pela popa.”
“Anno Domini”; George Steiner; Edição Gradiva; Pág 196

Ana Fernandes na Árvore

Íamos só tentar comprar um caderno mas fomos surpreendidos pela exposição de Ana Fernandes. A própria lá estava sentada quando entrámos e, depois de dedo e meio de conversa, lá rodámos a sala. De nome Memórias, pelas paredes reconhecemos o humanizar dos objectos e das lembranças. Tudo cheio de um humor sincero e quotidiano. Sinceridade é o que transborda. E humildade. A ver. A ver e sorrir.

Friday, March 27, 2009

Twitter

Por cá já se twitta. Agora vou ver o gato, que apareceu com um pata magoada. Não sei se não estará partida. Amanhã será dia de veterinário. Isto parece uma entrada do Twitter.

nota: fomos ver o Gran Torino, escreverei em breve.

Monday, March 23, 2009

des...

Ao ler o Expresso, caderno Actual, dei com este poema de Sophia. Como ela me interpreta com exactidão. Tão exacta que quase descarto o meu desacerto: sempre será possível a sintonia com alguém!


Escorraçadas do pecado e do sagrado
habitam agora a mais íntima humildade
do quotidiano. São
torneira que se estraga atraso de autocarro
sopa que transborda da panela
caneta que se perde aspirador que não aspira
táxi que não há recibo extraviado
empurrão cotevelada espera
burocrático desvario


Sem clamor sem olhar
sem cabelos eriçados de serpentes
com as meticulosas mãos do dia-a-dia
elas nos desfiam


Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno
sem rosto e sem máscara
sem nome e sem sopro
são as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria


Já não perseguem sacrílegos e parricidas
preferem vítimas inocentes
que de forma nenhuma as provocaram
por elas o dia perde os seus longos planos lisos
seu sumo de fruta
sua fragrância de flor
seu marinho alvoroço
eo tempo é transformado
em tarefa e pressa
a contratempo.

(não sei se está bem transcrito porque é transcrição de transcrição)

Friday, March 20, 2009

a poesia está na rua


na exposição de Camélias no fim de semana passado. Recolhi-as em minha casa, em casa da minha mãe e dos amigos...

Achado de hoje

Wednesday, March 18, 2009

A poesia está na rua

QUARE DE VULVA

Quare de vulva, vai para sessenta anos,

eduxisti me?


Porque me tiraste de onde estava

rodeado de águas, sem cuidados,

riscando fósforos na imaginação

da mãe?


Para chegar a isto:

a morte inscrita na pele,

murmúrios aziagos de oração

enquanto alguém enxota a mosca

da cara do defunto?


Para quê?

Só para os rituais,

só para a interrupção

só para ausência inominada?


Só para a memória – não a própria,

a memória dos outros?

A. M. Pires do Amaral

Será este o poeta homenageado na edição deste ano da Poesia Está na Rua em Santo Tirso - Salão Nobre da Câmara Municipal, sexta-feira 20, às 21.30 horas.

Tuesday, March 17, 2009

desabafo

Porque é que somos pouco rigorosos? Porque é que não sabemos gerir? Porque é que preferimos enterrar a cabeça na areia em vez de encararmos de frente as situações? Buracos financeiros, desfalques, falências, aproveitamentos, insolvências...
Este mundo angustia-me e mais ainda ao pensar que esta falta de seriedade é endógena! Os portugueses são assim.

Sunday, March 15, 2009

Wednesday, March 11, 2009

As personagens do Porto



O gajo quem tem o sistema de som que eu sempre desejei ter.
O gajo que tem fome e portanto desenha um jesus gigante em troca de moedas. Haja fé.

Monday, March 09, 2009

Revolucionary Road - Sam Mendes

De outro modo também me senti em casa. Todos os que vivem com outro estão muitas vezes muito perto da perfeição e muitas vezes muito perto da desagregação, da falta de respeito, da ruptura. O passo do amor ao ódio é demasiado próximo e o da integração à loucura também. Expressões como "Não és capaz de te calar?" ou, "Porque é que me contas?" ou momentos de paz podre (pequenos almoços idilicamente tensos) construídos artificialmente por cima dos escombros da discussão véspera, lembram-nos sempre qualquer coisa.
Independentemente da obra prima, decerto que não o é, porque muitos se perdem e desinteressam logo no início, quem consegue ultrapassar essa inércia inicial, muito leva que pensar.
Depois a última cena em que a pergunta "Porque não te calas?" é substituida pelo desligar do aparelho auditivo é, para mim, genial e encontrou eco em ternas lembranças familiares.
Kate Winslet é extremamente convincente e sólida. Leonardo de Cáprio tem em seu desfavor o ar infantil e leviano que não consegue iludir.

Sunday, March 08, 2009

O Casamento de Rachel Jonathan Demme

Há filmes que vejo que me transportam para o mundo mágico do cinema. Outros que me fazem sentir em casa. O Casamento de Rachel é destes. Tudo é muito próximo: o tema, as conversas, os comportamentos, o ambiente. Com ele prolongam-se as nossas dúvidas quotidianas e é bom que assim seja, também. É bom que um realizador maior como Jonathan Demme, haja em vista o "Silêncio dos Inocentes" nos brinde com um filme de câmara na mão e, suponho, de orçamento reduzido. Nele a crueza e a verdade dos sentimentos, o desmonte de relações familiares cheias de jogos de afectos e de protagonismos desejados: como se não bastasse a terna canção entoada pelo noivo - dádiva somente.
O objecto filme é frágil, inconstante, movediço, de câmara na mão: são-no também as personagens que se nos revelam e o relacionamento entre elas.

Friday, March 06, 2009

Aeroporto do Porto

Segundo notícias de hoje a obra do aeroporto Sá Carneiro ultrapassou em €100 000 000,00 o orçamento previsto. É inadmissível mas é à boa portuguesa: não há programas, não há projectos rigorosos, não há programação de obra e assim se gasta o dinheiro público... com a agravante de ficarmos sem saber exactamente para onde foram esses €100 000 000,00!
Já não se pode com esta falta de seriedade e de profissionalismo de que este caso é apenas um caso. A outra escala, no meu dia a dia lido com casos iguais ou piores, salvaguardando as proporções de escala. De certeza que não é assim que o país vence a "crise".

I'm building a still to slow down the time


Download: aqui (JÁ ARRANJEI O LINK!)
Se quiserem imprimir um envelope para o cd: aqui (imprimam em papel de 250 gramas)

(A razão pela qual junto as músicas todas num ficheiro único de som é facilmente explicável e lógica para mim, apesar de compreender perfeitamente que não a entendam. Fazer um mix demora-me tempo e ocupa-me espaço e é uma dedicação que gosto de ter. Como gravar uma cassete. É uma disposição. Não gosto, no entanto, de me entregar assim a qualquer coisa e depois ver tudo desmembrado, como já me aconteceu. E, desta vez fui boazinha, disponibilizei o alinhamento.)

I'm building a still to slow down the time é um sentimento que tenho tido muito ultimamente. Parar os livros, os filmes, os dias, num determinado frame e ... Enjoy!

Sunday, March 01, 2009

Coelho

Acabei esta semana de ler o terceiro volume da tetralogia de John Updike sobre Harry Angstrom, Coelho. Não lerei para o já o quarto porque não foi editado em português e o meu inglês não justifica tamanho sacrifício de leitura na versão original.
A normalidade em toda a sua irreverrência - a descodificação dos nossos pensamentos mais rasteiros, que não admitimos, que arrumamos para um canto, que cuidadosamente guardamos no limbo das nossas emoções. Aqui estão eles, descritos preciosamente, minuciosamente, com um realismo inacreditável e por isso mesmo extremamente libertador de qualquer culpa. Se o acusam de racista, machista ou misógeno na minha opinião é porque fazem uma leitura preconceituosa e superficial do conteúdo das personagens: elas são o que são, humanas, às vezes estúpidas, às vezes racistas, às vezes inocentes, às vezes preversas - elas são excelentes, são reais.
A leitura de Updike foi uma das coincidências que transformou a minha vida, porquê perguntará quem o leu? Quanto a mim pela maneira como decompõe o comportamento humano, por isso na linha de Proust.
Parece que finalmente me puseram James Joyce no caminho, contra o previsto, iniciarei a leitura de Ulisses.