Duas razões para ser sim:
1- Porque é que em Espanha, sendo a lei idêntica à nossa, é possível praticar o aborto por vontade da mulher até às …. e em Portugal não. Por razões subjectivas que são dadas como válidas subjectivamente e, na subjectividade, a opinião que deveria valer era a da verdadeira interessada. Não me conformo com a ideia de, se eu decidir fazer um aborto em Portugal, ter que sujeitar a minha vontade ao referendo dos médicos ou outros profissionais, que têm o direito de definir se essa decisão põe em causa a minha saúde mental, a minha integridade como pessoa humana, ou não. A decisão é minha ou é de outros exteriores que por mim decidem? Tenho também que referendar o meu corpo e a minha absoluta vontade?
2- É uma razão de saúde pública. É completamente cego dizer que não se pode praticar o aborto, sabendo que se pratica. E desafio qualquer mulher a pensar a situação por dentro, como algo que pode acontecer-lhe. Eu penso: se por ventura hoje engravidasse, usando os métodos anticonceptivos que uso, decidia abortar, com 99% de probabilidades. O 1% deixo para quem, no tal acompanhamento previsto pela lei que vamos decidir no dia 11 tornar possível, me conseguir convencer a não o fazer. Se fosse hoje, recorreria a uma clínica privada, que o faria sem interrogar, em segurança.
Tenho 48 anos, reivindico uma vida sexual activa, o meu direito à realização integral e nunca pratiquei um aborto.
6 comments:
Sim, porque:
- Nenhuma criança não desejada deve nascer, como forma de castigo para a mãe.
- Nenhuma mulher deve sofrer a humilhação do banco dos réus.
- Fechar os olhos ao sub mundo clandestino que usa a fragilidade da mulher como forma de tirar dividendos é compactuar com este.
- O conceito de vida humana, não é abstracto, uma célula, desde que pertencente a um humano, é vida e é humana. Não só a partir da concepção.
- A permissão não é ilimitada, há um limite temporal baseado na formação do sistema nervoso central.
- Legislar é regular e esta é a única forma de conhecer-mos, defender-mos e orientar-mos as mulheres que o decidem fazer.
Nunca fiz um aborto, provavelmente hoje não o faria, mas tenho a capacidade de ver para além da minha realidade, consigo aceitar e compreender que outras pessoas o precisem ou queiram fazer.
E sim, se os meus impostos servirem para evitar mulheres mutiladas ou crianças maltratadas ou em orfanatos, então prefiro que estes se empreguem assim.
A defesa retórica da vida, ornamentada numa auto-beatificação da consciência tem levado algumas figuras a conseguir ou a raconquistar nova notoriedade. A defesa da vida quando esta ainda não representa qualquer encargo social ou educacional é fácil de fazer. Mas a vida não tem que ser mais abnegadamente protegida ou defendida na sua fase embrionária do que na da sua plena manifestação. Para mim é inexplicável que os mesmos que aplaudiram ou encolheram os ombros perante as explosões em Bagdad - miséria longínqua! - estejam agora de indicador esticado ou a desfilar pelo NÃO!
óptimo texto. vejo agora de onde surgiu a força da joana!
SIM, claro que sim! Sem ter de mostrar razões, porque a mais ninguém compete analisar e decidir se as minhas razões são ou não válidas.
Mas a coisa não está fácil e começo a desesperar. Porque parece que aquela do Marcelo" Posso fazer um aborto? - Não. Mas o que é que me acontece se fizer um aborto? - Nada.", começa a tomar proporções inesperadas.
É verdade...Pensar que pode ficar tudo como está é desesperante...Nunca fiz um aborto voluntário mas fiz um "involuntário". No entanto, creio que pelo menos metade das mulheres que conheço, já abortaram. Clandestinamente, claro. Muitas, tem lembranças horrendas...outras, consideram que até tiveram sorte...Não deixa de me afligir pensar que pode continuar tudo na mesma! Eu, que pratiquei a interrupção da gravidez num hospital, com toda a segurança (e ainda assim, sei o que passei!), arrepio-me só de pensar no que passaram elas...Será possível que tudo fique igual??
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