Sunday, November 27, 2005

O Fiel Jardineiro- notas sobre o filme

Fui à procura do meu lugar em África. Aquele lugar quente, feito de luz dourada onde, para além do essencial, só existe lixo. Percebi que o lixo é o nosso, o do mundo desenvolvido, exportado para África por interesse e pretenso altruísmo. Já o sabia. O Pedro saiu do filme e perguntou-me: Mãe, isto é mesmo assim?
A leitura que faço para mim, não é tão benevolente: A verdade da vida não é tão clara, a divisão do mundo entre bons e maus, parece-me aqui demasiado linear. Tessa, um anjo; Justin um amante, no sentido em que o amor dá força e sentido a tudo, até à própria morte. Ele vai ao encontro dela deliberadamente, prepara-a continuando o projecto que ela deixara inacabado, redimindo-se das suas pequenas infidelidades a Tessa.
Por outro lado a construção da narrativa, interessante e capaz de nos prender, possui alguns ruídos que nos desviam a atenção, prejudicando a leitura do encadeamento dos factos que constituem o triller, que adensam a estória, mas que lhe retiram força.
Encontrei o meu lugar em África, bem no seu interior, onde nada existe para além das pessoas, com insignificantes roupas que as protegem, fome, doença e o lixo exportado do mundo global (neste caso medicamentos fora de validade e novas drogas para teste) para ajudar este outro mundo global que é África.

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