Monday, November 21, 2005

Outra lógica

Acabei de ler os jornais de fim de semana. Algumas notícias misturam-se na minha cabeça. Cabo Verde, Brasil, AMI, Banco Alimentar Contra Fome, minorias, colapso da economia mundial,…. Lógicas que precisam de uma outra lógica que não a da desregulação. Essa outra lógica que cresce nos contra-poderes que surgem, também eles, às vezes já ameaçados pela do poder. Mas isso não nos pode fazer desacreditar das nossas qualidades humanas. São sinais de contra-poder a recuperação dos excedentes alimentares recusados pela economia de mercado para a confecção de alimentos cuja venda revertem a favor do Banco Alimentar contra a Fome, como o são as iniciativas da AMI, transformando imaginação em solidariedade.
Mas porque é que esta lógica, que deveria ser a lógica da vida, é hoje, como ontem, uma lógica de contra-poder? Parece evidente, para qualquer mente saudável, que não faz qualquer sentido deitar fora alimentos quando há milhões a morrer à fome. Não me esqueço da bem conseguida imagem do Live Aid, quando puseram a multidão a estalar os dedos de três em três segundos, significando cada estalar uma pessoa a morrer à fome. Em cada três segundos morre uma pessoa à fome! E não me venham com discursos de globalização da economia mundial, de garantias de preços de mercado ou de cotas, ou de qualquer outra coisa.
Reivindico a minha ingenuidade, os meus sonhos de ser missionária, a minha condição de humanista outsider, para relembrar à Joana e ao Pedro e a muitas Joanas e Pedros de qualquer idade, que o mundo não é só aquele que lhes é dado viver. É preciso ver mais longe e sobretudo ambicionar ser solidário a qualquer preço.

2 comments:

Anonymous said...

A OCDE estima que o dinheiro gasto pelos europeus em cosméticos é superior àquele que seria necessário para erradicar a fome. Portanto, a fome, a ignorância, a doença e o degredo, são fósseis do autismo humano perante a sua própria condição.
A fome não acaba porque a qualidade humana fundamental pela qual um de nós, isoladamente, se indigna perante o rosto de uma criança pejado de moscas, incompreensivelmente, não atingiu uma proporção universal.




K

maria said...

Às vezes pergunto se essa nossa indignição individual não é apenas um sentimento digno, mas pequeno-burguês. É mais fácil chocarmo-nos com o que contam os jornais e as imagens, do que ver a fome que realmente existe ao nosso lado, literalmente.