Friday, November 04, 2005

Para viver é preciso namorar a vida.

Para viver é preciso namorar a vida.
Por favor arranje um amante.
Durar é ter medo de viver. É trocar o hoje pelo incerto amanhã.


Frases soltas que retirei de conversas em programa de rádio ao sábado à tarde.

Que significado tem para mim? Muito.
Quantas vezes hipotecamos a vida presente por um amanhã supostamente melhor? Faz-me lembrar, aquela imagem recorrente, dos que tem por objectivo ganhar dinheiro que não tem tempo para gastar. Trabalhar por gosto é viver. Praticar desporto por gosto é viver. Namorar a vida é encontrar gosto a cada passo, é descobrir encanto nas coisas mais simples, é ser capaz de contemplar. Mais importante do que tentar adiar a morte é viver.
A ideia de vida eterna é markting. Sob a ideia de qualidade de vida vende-se imagem, corpos belos e saudáveis, iguais, indefinidamente e por muitos anos. O corpo não se transforma, envelhece e mantém-se jovem. Luta-se exaustivamente contra as rugas, contra a flacidez, contra o cabelo branco, contra ….Fazem-se sacrifícios imensos e compram-se hipóteses. Põem-nos uns óculos que só deixam ver beleza na juventude e na perfeição do modelo esteticamente convencionado. Os mesmos óculos que ficcionam a vida e a transformam em imagem de telenovela: praias idílicas de mar azul turquesa, palmeiras e bebidas espirituosas, claro que com a melhor companhia, quente e bronzeada deitada ao nosso lado ou nas suas melhores brincadeiras fogosas.

Viver hoje não é ficção. Comprar a beleza eterna é um logro. Entender que a beleza é eterna é sabedoria e saber vê-la sempre, a minha ambição.

1 comment:

Anonymous said...

Todos nós somados, os que estamos no hemisfério bem sucedido, atingimos muitos milhões de sujeitos da comunicação, contribuindo para o mais abrangente paradigma cultural contemporâneo, ele próprio à medida do mundo imenso e, esférico como ele, designado por global. A economia, reflectida no social e no cultural, em todas as manifestações do comportamento humano- até mesmo no desenho territorial das cidades ou do mundo rural se tomarmos como exemplo o vazio espacial, linguístico e sintáctico, gerado pelos hipermercados no espaço urbano e pelas centrais nucleares no não urbano – parece comandar e delinear os modelos de comportamento e, talvez por isso, é hoje possível aos filósofos e aos cientistas sociais tipificar com rigor a massa humana que habita e conforma o hiper-realismo que a deriva do modelo económico capitalista está a fazer eclodir. Na verdade, a comunicação/informação, mesmo quando parte de uma ocorrência distante e difusa parece entrar-nos em casa, em directo, como um tema específico, ultra-real, desde logo nosso, sendo que a imagem traz a capacidade de proporcionar um elo de ligação forte a tal ponto de nos arrojar a uma cidadania planetária. O consumo, estância final do nosso trajecto operativo e produtivo, tem preparada uma vasta gama de soluções para a nossa felicidade, esteja ela mais necessitada no corpo ou na mente, queira-se já ou a prazo, a pronto pagamento ou a crédito. No limiar de um tentador absurdo, é possível aspirar à criogenização e, desde que não haja o esquecimento da alma sobre o tabuleiro de alumínio onde é feito o pré-congelamento, qualquer indivíduo de fortuna pode aspirar à imortalidade que a crença na ciência lhe pode garantir. Antes, e mesmo que não venha a atingir esse raro poder de se (pseudo) eternizar, com esforço e alguma sorte, estando permanentemente atento à caixa do correio e à televisão, qualquer individuo poderá encontrar uma promoção que o ponha, primeiro belo e, depois, na cálida comodidade de um resort do Pacifico. E, na verdade, é mais penoso ver descer à terra um cadáver bonito, talvez por não parecer oportuno, embora, por enquanto, seja irremediável!
«Por toda a parte surgiu o homem-massa, um tipo de homem feito à pressa, montado apenas sobre umas quantas abstracções e que, por isso mesmo, é idêntico de uma ponta á outra da Europa. A ele se deve o triste aspecto de monotonia asfixiante que a vida vai tomando em todo o continente. Este homem-massa é o homem previamente esvaziado da sua história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil e todas as disciplinas internacionais», citação de Ortega y gasset.


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