Ouvia calmamente António Barreto na Grande Entrevista. É bom ouvi-lo. Retenho a sua reflexão sobre as extraordinárias mudanças sociais das últimas décadas. Retenho a sua reflexão sobre a condição da mulher. Dizia que as mulheres de hoje são também as mulheres de há cinquenta anos. Fazem o que faziam há cinquenta anos e acumulam na sua vida diária as conquistas benéficas que a evolução social lhes trouxe: trabalham em casa e trabalham fora de casa. Tão simples quanto isto. Todos nós o sabemos. Mas nós sofremos. É isto que eu não quero, ser esta super mulher que se realiza no trabalho, nos outros trabalhos e cumpre escrupulosamente os seus deveres de mãe. Felizmente as tarefas que herdei de há cinquenta anos são compensadas por dois filhos maravilhosos e por um pai (deles) que apesar de ser ausente, como os pais de há cinquenta anos, tem a exemplar virtude de ser referência no exercício profissional e no seu trôpego amor por nós. É assim possível desmultiplicar momentos únicos de diálogo interminável, vencido apenas pelo cansaço do corpo.
Esta é uma casa fora do comum. Onde o correcto está muitas vezes ausente, onde a luz não se apaga, onde está sempre alguém. Onde quando toca o alarme todos voltam.
Mas não estou satisfeita e por isso, entre nós, discutimos muitas vezes outras formas de organização social. Delas não está de fora o tal “gineceu”, talvez o post mais polémico deste blog.