Friday, March 30, 2007

mulheres

Ouvia calmamente António Barreto na Grande Entrevista. É bom ouvi-lo. Retenho a sua reflexão sobre as extraordinárias mudanças sociais das últimas décadas. Retenho a sua reflexão sobre a condição da mulher. Dizia que as mulheres de hoje são também as mulheres de há cinquenta anos. Fazem o que faziam há cinquenta anos e acumulam na sua vida diária as conquistas benéficas que a evolução social lhes trouxe: trabalham em casa e trabalham fora de casa. Tão simples quanto isto. Todos nós o sabemos. Mas nós sofremos. É isto que eu não quero, ser esta super mulher que se realiza no trabalho, nos outros trabalhos e cumpre escrupulosamente os seus deveres de mãe. Felizmente as tarefas que herdei de há cinquenta anos são compensadas por dois filhos maravilhosos e por um pai (deles) que apesar de ser ausente, como os pais de há cinquenta anos, tem a exemplar virtude de ser referência no exercício profissional e no seu trôpego amor por nós. É assim possível desmultiplicar momentos únicos de diálogo interminável, vencido apenas pelo cansaço do corpo.

Esta é uma casa fora do comum. Onde o correcto está muitas vezes ausente, onde a luz não se apaga, onde está sempre alguém. Onde quando toca o alarme todos voltam.

Mas não estou satisfeita e por isso, entre nós, discutimos muitas vezes outras formas de organização social. Delas não está de fora o tal “gineceu”, talvez o post mais polémico deste blog.

1 comment:

Patrícia said...

Gosto também. Gostei do programa que a RTP passou há dias, também. E entendo bem esse conceito de super mulher. Eu, por ser muito mais nova que todas as minhas amigas, tive o privilegio de poder "crescer" com elas. De as ver constituir família, filhos, de as acompanhar no percurso profissional (sempre ambicioso), de perceber os dilemas, conflitos internos. Tive ainda o privilegio de poder conversar, debater todas essas ideias sobre a mulher, o seu papel, o que os outros esperam dela e o que ela(s) espera(m) de si e da vida, numa diversidade de opiniões. Talvez isso me tenha ajudado a perceber melhor quem sou e o que espero de mim. Mas os conflitos não se diluem por completo na racionalidade, ainda assim! Haverá sempre (e pelo menos!) uma dualidade de interesses nem sempre faceis de gerir: eu enquanto mulher e eu mãe. Nesta fase, vence muito mais a mãe. Mas é uma opção consciente. Mas já não quero ser super mulher. Já não tenho a ilusão de que posso ser tudo. POrque no fim, acabaria por perder muito mais...