Sunday, March 11, 2007

Cartas de Iwo Jima

de Clint Eastwood

Discutimos e não concordamos ou então não soubemos explicar-nos. A causa foi a atitude do Barão de Nishi, que manda os seus homens juntarem-se aos sobreviventes do outro lado da ilha e fica na gruta do Monte Suribachi ferido de morte para se suicidar. A questão que nos pôs em discórdia resulta do facto de ele dar o tiro de morte ainda quando era audível para os seus homens.

Se para os japoneses é uma questão de honra morrer pelas próprias mãos, sendo o acto do suicídio a última e eterna libertação, para mim o momento que ele escolheu para o fazer chocou, ou no mínimo perturbou, os homens que, sabendo que só lhes restava a morte, tiveram que continuar a lutar até ao fim. Na opinião deles a expressão no rosto dos soldados foi de dor pela morte do general.

A visão que o filme nos dá, para além de ser evidentemente uma perspectiva nova sobre o que se passou, a perspectiva japonesa, não deixa de ser uma visão ocidental e americana. As personagens chave do filme, o general Kuribayashi e Nishi, têm fortes ligações ao mundo ocidental e são recriadas no dilema entre o patriotismo heróico e a sua condição de homens. O general redime-se deste dilema, quando salva pela terceira vez Saigo, devolvendo-o pela rendição à família, que também podia ser a dele. Os sentimentos humanos são aqui mais fortes do que o suicídio consentido ou imposto. Kuribayashi suicida-se, pede a Saigo que o enterre para que ninguém encontre o seu corpo, o que aconteceu na realidade e liberta-o da honra patriota para a dimensão humana.

Discordamos ainda noutro ponto: para eles, Kuribayashi não quer ser encontrado porque acha que fracassou, para mim porque para além disso, a morte pelas suas mãos é a suprema redenção. Gostei.

1 comment:

Anonymous said...

julgo sempre que em breve haverá tempo no tempo para voltar ao cinema...








...mas