Sunday, September 09, 2007

tralha

Detesto fazer arrumações. Juntamos tanta tralha, tantas coisas inúteis que depois guardamos para a inutilidade. Não vale a pena arrumar, guardar, para depois perdermos o lugar e a memória do que guardamos. Guardamos para a inutilidade.
Mas também não gosto de deitar fora. Lembro-me das montanhas de lixo que produzimos. Das toneladas de lixo que produzimos diariamente neste mundo estúpido. O que deito fora podia fazer falta a alguém? Mas a quem? As cadeias estão desfeitas e mesmo que as demos a instituições de solidariedade, sabemos a que as coisas não vão parar aos sítios certos ou ficam a apodrecer noutro lugar qualquer.
Mesmo que decida comprar só o essencial chegam cá a casa imensas inutilidades: oferecidas como bónus, como prendas, como brindes ou mesmo recolhidas por nós próprios. Se não deitamos fora e não compramos quebramos as cadeias produtivas. Se deitamos fora produzimos lixo. Se guardamos afogamo-nos em tralha e ficamos sem espaço.
Finalmente, nestas maratonas de arrumação, dá-me uma fúria e deito fora, deito fora, deito fora...
Queria ter uma casa vazia para não encher. Queria viver apenas com o essencialmente necessário à vida ( ou à sobre-vida?) - outra questão. E os livros, a música, os papéis escritos...também esses me são cada vez mais acessórios.
Gosto de os trocar com os meus amigos.

1 comment:

Ninguém said...

…esquizofrénica duração do efémero, como uma partida ou participação que estivesse continuamente a recomeçar, reinventando-se outra e outra vez pouco antes de consumar, ou pelo menos causar, qualquer narração. A eterna novidade, plausível mas falsa , fósforo foguetão imaginativo nunca lançado…