Para descansar…
Trabalhei mais de dez horas hoje, mais de dez horas ontem, em concentração, em acção…. Cheguei, inventei o jantar, procurei material para o Pedro e comi rodelas de tomate vermelho com azeite e sal.
O pior é que gosto de trabalhar. Faz parte do sentido da minha vida identificá-la com trabalho. O trabalho é uma finalidade. Assusto-me e pergunto: “Foi para isto que os meus pais me puseram no mundo?”. É assim que educo os meus filhos? É assim que me dou bem com o meu homem: com o trabalho por fundo, sempre retornando aos temas que nos ocupam o dia…de trabalho?” É assim. Arquitectura, urbanismo, planeamento, política, economia, imagem, cultura, recursos humanos.... Tanto, que faço do trabalho um hobby.
Mas apetece-me gritar: “ Procurem-me, levem-me para outros sítios, seduzam-me…com a vida – a distracção, as ideias, o gozo do inconsequente, do incongruente, do paradoxo, do dual. Porque do outro lado está o lúdico, a conquista de um tempo nosso, de descontracção, de puro gozo, ou de ideia pura, ou simplesmente de corpo e sensação.
Amanhã vou ao ginásio e não ponho os pés no trabalho antes das dez. Vou suar, correr, tomar um banho, besuntar-me em creme doce, pintar-me … ouvir música…conduzir suavemente, para poder observar os campos castanhos bordados com as verdes linhas paralelas do milho que desponta… e entrar de cabeça levantada no meu “buraco”.
O outro lado, o trabalho, mistura-se com este todos os dias…só que às vezes demais, como hoje e ontem.