Wednesday, May 10, 2006

insatisfeita

Às vezes gostaria de ter as palavras certas para dizer. Depois penso que direito, ou melhor que sabedoria tenho eu para o fazer? Estou do outro lado ou penso que estou, não sei. Porque é sempre uma incógnita o decurso da vida e o que ela nos tem destinado. Até que a surpresa surge. Pode sempre surgir a qualquer hora, sem qualquer razão, sem qualquer justificação. A vida não é como a matemática. Há problemas sem determinantes, há resultados sem parcelas. Há resultados que não satisfazem uma incógnita e então na vida quatro podem ser igual a dois. Esta é a minha insatisfação. Não poder determinar a causa do resultado. Sabendo o resultado não poder dar outra resolução ao problema. A vida é o que é … até hoje estou do lado bom, mas insatisfeita.
Para quem me entende ou quer entender, duas parcelas: uma hora de estudo com o Pedro e... uma incógnita, uma injustiça. Estou aqui sempre atenta.

2 comments:

Anonymous said...

Também me interesso por tentar compreender... como é a «incógnita» da nossa aventura?
Como outros, dizes-te mais distante do existencialismo de Sartre e de Virgílio? A tua geração vem vivendo essa deriva, ou assim parece. A minha só tangencialmente foi atingida por esse cada vez mais agudizado estruturalismo e o contacto breve deu-se já durante a inscrição da sua lápide. Portanto não chegou a impregnar-nos e é precisamente por isso que sou filho, apenas, da abundância inconsequente que caracteriza a transição que ainda está por concluir.
Verdadeiramente, a palavra «incógnita» não é a palavra do presente, deste ou de qualquer agora ou aqui, mas o seu contrário e a consequência extintora desse existencialismo que tanta energia produziu. Eduardo Lourenço já havia pré-sentido o fim do carisma existencialista porque a exagerada relevância dada ao predomínio do que é intrinsecamente humano, ontologia mesma que viria a (auto) consumir-se - ai o humanismo passou a não produzir a audácia que ainda hoje tento atribuir-lhe – por efeito desse agravado estruturalismo em que a tal «equação» se condenava progressivamente a resultar numa espécie de amnistia da nossa própria condição transformante e, como tal, a não gerar axiomas de praxis alguma.
E. Lourenço, afirma quem o estuda, demonstrando-o, rodou no sentido de Heidegger. Ora, o filósofo alemão, avançando muito para além de Bergson, re-centrou o problema e, no meu pequeno entendimento, de modo ainda não ultrapassado; ele considera, e vê a qualidade do que parece apenas uma subtileza, que o homem está afecto a uma consciência, e portanto a uma conduta, que ele designa como de «pré-ocupação» [“preocupação”], i.e., o homem (leitura ôntica e já não ontológica, agora do «ente» e já não do «ser») já não é aquilo de que foge e ainda não é aquilo para onde corre! E dentro de dois dias, de dois anos, de duas décadas, (de dois séculos ou milénios, também?) continuaremos a revelar essa angústia motora? Paradoxalmente, se a «insatisfação» é portanto aquele espectro cujo significado literal mais se propagou no homem pós-moderno, o fantasma maldito da insustentabilidade dos modelos ultra-liberais, será também, se for com-figurada em «angústia construtiva», até tento deseja-la organizacional e governativa, sem dúvida cultural, intrinsecamente cultural, deverá ser, diz Heidegger, o próprio lograr de um advento promissor. Afastemos por agora Derrida, embora ele equacione a incerteza com a própria expressão da «angústia» e esteja a marcar mais intensamente a formulação do discurso que nos localiza muito mais próximos de uma fractura do que de uma continuidade.
Foi o que me ocorreu dizer-te... mesmo não estando certo disso que disse.


H

maria said...

Não sei se não estou próxima do existencialismo. Pelo menos da pouca filosofia que conheço, para além da que construo, é a que mais me toca. Porém a razão do meu post é profundamente interior e concreta. Não parte de qualquer especulação, parte sim de um facto que me magoa e me angustia. NUnca poderei perceber como há coisas que acontencem a quem não devem acontecer, segundo o meu juízo e a minha escala de valores. Gosto de pessoas boas. Acho que elas tem todo o direito à vida plena e sem os precalços que o "pecado" gera.Ingénuo? Talvez, mas de dentro e verdadeiro. Insatisfação, angústia construtiva, não entendo de outro modo. Este facto só me pode levar a agir e a acreditar que presumivelmente somos perfeitos e para lá caminhamos, todos.