Ouvir o calor lá fora. Um calor sem voz que, no entanto, ecoa pela casa. Dormem todos. Eu deixo-os dormir para os poder gozar de outro modo, também no seu eco, que me trespassa. Faço discursos e calo-me. Vivo outros tempos, meus, deles, deles e meus e só meus. Mexo nos livros que comprei, registo-os, leio partes, não me apetece parar. Passo suavemente pela manhã, como se tivesse o dom de não lhe tocar. Conquisto a liberdade pela capacidade de não existir. Sou apenas uma brisa, uma memória, uma corrente eléctrica ou electromagnética que se desmaterializa no tempo e no espaço. Como o calor, lá fora.
Ainda muito cedo fui dar um beijo à minha mãe e levar-lhes o jornal de domingo.
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