Thursday, December 14, 2006

contornos

Ontem ao ouvir a entrevista de Ana Sousa Dias a Daniel Baremboin ri-me da perspicácia dele quanto a uma pergunta dela. A pergunta era se ele achava que a diferença de leitura dele, enquanto maestro e de um pianista executante sobre a interpretação de uma obra poderia resultar mal, “não funcionar”. Ele respondeu-lhe de imediato “É muito feminino”. Ela ficou surpreendida e suspensa. Ele voltou a afirmar “É muito feminino pensar que pode não funcionar. Um homem sabe sempre que funciona, tem que funcionar.”
Porque é que a mulher pensa sempre na possibilidade de não acontecer o que quer e deve, tem de acontecer? Porque é que nos atormentamos com as impossibilidades antes da existência do problema? Deste modo não condicionamos o decorrer do acontecimento? E não nos furtamos à execução do acto pela antevisão ficcionada do seu efeito?
Fazemos a história completa sem existir história, românticas, trôpegas ou simplesmente emersas numa cultura de medo do que pode acontecer. Façamos, que fazemos sempre melhor que eles.

6 comments:

Anonymous said...

Também reparei na atrapalhação dela. Mais, senti também uma atrapalhação solidária perante esse golpe baixo dele.
Não acredito que os homens não se questionem sobre a possibilidade das coisas falharem. A diferença é só que eles não falam nisso.
L.

maria said...

Talvez. Tem a mania de que saem sempre vencedores. Só que a sua vulnerabilidade é evidentemente evidente, mais do que a nossa. Com este comentário julgo que tornei impossivel qualquer comentário masculino.

maria said...

Além disso, comentavam os homens cá de casa: ele não disse que conseguia disse apenas que os homens pensam sempre que conseguem. Esta é talvez a diferença de atitude que faz deles mais vcencedores que nós.

Patrícia said...

Talvez seja, de facto, muito feminino pensar se pode ou não funcionar. Mas isso é uma virtude. Significa, antes de mais, que se raciocina perante as coisas, mesmo as mais insignificantes. Que não se faz por fazer, independentemente do resultado. Quem equaciona a possibilidade de ter exito ou não numa determinada tarefa, sabe antecipadamente o que fazer, que opções tomar em caso de não resultar. Se é muito feminino? É! Por isso há coisas que funcionam tão bem!! Raros são os homens que tem a capacidade de se desmultiplicarem em tarefas simultâneas com sucesso, tendo também ao mesmo tempo, a cabeça a funcionar no que ainda se tem para fazer e como fazer! E, quem sabe, manter um dialogo coerente pelo meio! "Façamos, que fazemos sempre melhor que eles".

Ninguém said...

E por acaso o que Daniel Baremboin disse é, na forma e na substância, algum dogma? «Um homem sabe sempre que funciona, tem que funcionar» quer dizer o quê de que assunto?

Anonymous said...

http://shedmyskin.blogspot.com
um blog com um post "sexo: feminino" muito a propósito...