Sunday, December 31, 2006

periferias

Há alguns anos que percebi que o conceito de periferia é cada vez menos um conceito geográfico. Esta descontextualização do conceito tem vindo a acentuar-se com a globalização. A distância a um centro não é mais medida em quilómetros mas em tempo de acesso e este pode ser físico ou virtual.

Como tal ser periférico deixa de ser um lugar para ser uma condição. Pode ser-se periférico no centro das grandes cidades, no país mais central da Europa, em Tóquio ou em Nova Yorque. Inversamente, pode ser-se central estando em Portugal, na Finlândia, na Coreia, na Islândia ou em Timor.

Esta questão surge muitas vezes na minha cabeça a piscar com um sinal de alarme porque continuamos a pensar na periferia como um lugar geográfico. Por isso continua a marcar a nossa agenda social e política a dualidade litoral/interior, quando o nosso interior (a 150/200Km da costa), mesmo geograficamente, é litoral na maioria dos países europeus. E por isso, enquanto não mudarmos a nossa atitude interiorizando que ser periférico ou central é uma condição, encontraremos sempre desculpa para o nosso atavismo e sua auto-justificação.

Inevitavelmente a 31 de Dezembro algumas retrospectivas invadem o pensamento sem que a obrigatoriedade de fazer projectos retire leveza ao sonhar de um novo ano.

5 comments:

Anonymous said...

A periferia é cada vez mais a "condição" ocultada pelo modelo economico global(izante). Dela resultam sub-formas de periferia cujas maiores evidências são éticas e estéticas. A geografia faz-se (sempre foi feita) pelos medelos economicos ...


... que haja um longo futuro para as grandes utopias. Bom 2007!

maria said...

...e o que é a periferia estética: o nosso gosto ou o "pimba"?
...porque cada vez mais sinto que sou mais global e ao mesmo tempo mais periférica - paradoxo?

Ninguém said...

A "periferia" estética é resultado do sub-desenvolvimento economico e, adiante, educacional ... as formas de manifestação são várias, e óbvias - pimbas e catrapumbas de um "gosto" rudimentar e quase metabólico. Um "atraso" estrutural que muitas vezes já não é a própria herança de conteudos ou tradições mas a absorção -que por vezes chega a ser grotesca - da toxicidade do factor capitalista.


Muhammad Yunus percebeu isso hà 30 anos!e combateu-a de dentro para fora.

Ninguém said...

merece ser visto!

http://www.aindahapastores.blogspot.com/

Patrícia said...

Este lugar onde vivo, é cada vez mais periferia do país. E desse facto resulta muitas vezes que em termos estéticos também assim o é.