Sunday, December 10, 2006

Frank O. Gehry

( Como não tenho nenhuma fotografia digital do edifício de Gehry, ilustro com a extensão do Museu de História Alemã de I.M.Pei, que demonstra a mesma atitude perante a herança.)



“ Respeito a regra áurea: o problema de fundo é ser bom vizinho. O que quer dizer respeitar o que está na envolvente, o contexto. Retornámos aqui à lição de Mendelsohn, que se refere ao modo como nos posicionamos relativamente a qualquer coisa que existe, como se junta qualquer coisa. Foi isto que tentei fazer, no caso do edifício de que agora falamos, pondo-me o problema do relacionamento com a porta de Brandeburgo, tão imponente e maciça, dotada de um carácter forte e de uma específica dureza, que configura a Pariser Platz, procurando não diminuir nem tornar banal esta presença.” Frank. O. Gehry; "Construire su Pariser Platz; Casabella

Este foi um dos edifícios de que mais gostei em Berlim. Reli há pouco um artigo de Ghery sobre a sua relação com Berlim, com a cultura de Berlim, que engloba muita arquitectura e entendi claramente a sua perspectiva, que já tinha sentido perante o edifício na Pariser Platz. O entendimento da modernidade, da vivência da democracia na cidade, passa também pela manifestação de linguagens diversas, formuladas através da reflexão sobre o contexto e a história. O modo como Ghery, com uma nova regra interpreta a racionalidade da arquitectura neoclássica, expressa na porta de Brandeburgo, usando apenas pedra e vidro, é soberbo de contenção e rigor. O vidro inclinado perpetua o vazio, desenhando e transportando-nos do envasamento para a capitel numa ilusão de leitura clássica, sem o ser, contudo. Acima dele, do ilusório capitel não existe arquitrave, friso e cornija, existe apenas o vazio do céu. Tudo isto feito construção, pela subtileza da massa material da pedra reinterpretada pelo movimento do vidro e pela sua transparência. Transparência quente, por reflexo da luz interior emoldurada de madeira, que se reflecte no exterior, fazendo-nos rodar a cabeça, para a comparar com as passagens por entre as colunas da Porta de Brandeburgo.
Uma obra arquitectónica assente na terra, que nos faz subir o olhar, sem nos deixar esquecer a perenidade de qualquer obra humana.

3 comments:

Ninguém said...

...fazer viagens - ser feito pelas viagens...






[por todas as combinações de lugares]

Anonymous said...

...por que é tão rara esta política (prática, postura...)de boa vizinhaça ? Porque "parece" ser tão difícil este humilde rigor de ler e reconhecer e escrever sem "rasgar a folha" ?
Terias outro bom exemplo no "bon jour tristesse...", se o quisesses escrever...
Falta tantas vezes a capacidade de "desenhar a evidência"(ASV) ...mas talvez esteja aí a mestria !

maria said...

Aceito o desafio de escrever sobre o "Bon Jour Tristesse" porque Siza sempre me emociona e Siza em Berlim foi ao domingo de manhã...calmo e frio, como um bom domingo de manhã no Outono tardio em pleno centro da europa. Europa, geograficamente delimitada pela existência de cafés e pelas distâncias medidas pelos nossos passos, como diz George Steiner.