Não tenho fumado. Fumar irrita-me. A cada cigarro penso que não devia fumar. Faço-o, quase sempre, sozinha: a olhar as árvores, o horizonte verde, a soprar o fumo pela frincha da janela, ou debaixo do exaustor da cozinha, para não incomodar os que não fumam. Já sabia que poderia olhar a paisagem sem ter um cigarro na mão. Apenas consciencializando o acto de estar a olhar pela janela. O acto de não pegar num cigarro significa para mim um ganho de tempo calmo. Ao contrário de outros fumadores, para mim, o não fumar é um factor anti stress. Então porque gosto de fumar? Pelo gesto, mais que pelo gosto. Relembro a minha tia brasileira que dizia “ Vício bonito.”… mas sei como os outros fumadores, que não posso dizer “Não fumo” , prefiro dizer “Hoje não fumei”, até me esquecer do gesto de pegar num cigarro…porque também não quero fazer como aquele personagem tirsense, que deixou de fumar há vinte anos e continua a passear de cigarro na boca.
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2 comments:
Talvez o acto de não pegar num cigarro signifique, de facto, um ganho de tempo calmo.
Mas gosto de fumar pelo gosto, mais do que pelo gesto.
Acho mesmo o gesto feio.
Se pudesse eliminava o gesto e ficava-me so pelo gosto! Porque eliminar tudo, ainda não. Não me sinto preparada - com vontade! - de eliminar coisas de que gosto!
Já pensou que poderá ser mais recompensador parar, sentar-se comodamente, procurar as árvores e o horizonte e apreciar o acto de fumar? Conceder-se dois ou três minutos fora do mundo, num prazer só seu. E depois, não fumar o resto do tempo!
Tem sido mais ou menos isso. Continuar com o ritual da paragem única no tempo, em frente à janela sobre o horizonte, num prazer só meu.
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