Sunday, January 07, 2007

quarto de banho







Tem cerca de 16 m2. É grande como um quarto grande. O pé direito ultrapassa os quatro metros. Até cerca de um terço da altura, está revestido com azulejo branco, rematado com um friso preto e branco. O chão é revestido a mosaico amarelo, rosa, castanho e beije, onde se desenham flores estilizadas ( pelo menos como tal sempre as li). A caixilharia da janela foi desenhada pelo meu pai. Lembro-me de as colocarem, há seguramente quarenta anos. Tinham uma ferragem inovadora, oscilo-batente. Mantêm-se impecáveis. Torneiras passadoras nas paredes, tubagens à vista, esquentador a gás, uma cadeira e um banco pintados de branco onde repousam as leituras de ocasião – um policial de Manuel Vasquez Montálban, “ O comportamento Sexual da Mulher e a Arte da Sedução Erótica” em edição antiga da Moraes, jornais e revistas variadas e um Tio Patinhas.

As portas altas, excessivamente verticais, com as bandeiras ocupadas por dois vidros, a luz amarela originária de um ponto suspenso, enquadrado por uma túlipa de vidro, o som dos passos ou da água que ecoa no imenso volume de ar, o lavatório embutido num armário balcão revestido a pastilha branca, também desenho do pai, uma atmosfera única, que faz parte da nossa infância, e que sinto essencialmente presente na constituição da pessoa que sou: não como memória ou memórias, mas com uma qualidade cénica e romântica, um halo de orgulhosa decadência, que me estrutura. Este lugar constitui-me.

2 comments:

Anonymous said...

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joana said...

memórias também da minha infância.