No tempo em que eu tinha a idade do Pedro, não quero dizer no meu tempo, porque o meu tempo é este, a educação de um jovem adolescente, a minha educação, baseava-se na dualidade corpo e espírito ( alma). O corpo era um veículo para um espírito puro. O corpo não podia sentir, não podia desejar, porque o prazer e o desejo estavam reservados para um local físico e temporal exacto, balizado por um contrato para a vida – o casamento. Os meus olhos, de rapariga tinham que irradiar a pureza capaz de aplacar o desejo dos rapazes, porque a eles sempre era dado demonstrarem desejo ainda que não o devessem consumar, pelo menos connosco. Nós, as raparigas devíamos, ser amigas, boas conselheiras, poços de virtude. Por isso sentia a minha consciência pesada, sentia-me mal, quando, com a idade dele, nos bailes de garagem, às escuras e embalada pelos famosos slows sentia o corpo ceder ao calor de outro corpo.
Hoje, quando ele me fala tão naturalmente do corpo (até ele se estranha como é que fala disso com a mãe) o mundo é outro. Ele dá-me a volta. Eu digo: Tem cuidado. Ele responde: Não te preocupes, já sabes que eu tenho bom gosto. Eu digo: Não é isso que interessa, tanto me faz que seja bonita ou feia. Ele responde desconcertando-me em forma de pergunta: E se eu namorasse com uma “burra”?
Concluo que continuo a separar o corpo de espírito.
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